
A economia começa a se recuperar. Caem os indicadores de desemprego, melhora o desempenho dos setores, aumenta a previsão de crescimento do PIB. Deu ruim. A planilha do Banco Central dirá que aquele nível de atividade pressionará os preços, tirando a inflação da meta. E toca aumentar a Selic, emperrar o crédito às empresas, reduzir os investimentos (justamente o que aumenta a oferta). Deu bom.
O jogo de cena é fantástico por vários fatores:
- O impacto dos juros sobre o nível de atividade é inverso: reduz os investimentos e pouco impacta o consumo. O aumento de 1 ponto na Selic, impacta em 7% o custo de um investimento de prazo de 12 anos. E impacta em míseros 0,4% o valor de uma prestação em financiamento de 12 meses.
- Eu sei, o Banco Central sabe, o mercado sabe que o impacto da Selic sobre o nível de atividade é mínimo. E afeta muito mais a oferta do que a demanda.
- O efeito direto do aumento de juros é sobre o câmbio. Aumentando a Selic, aumenta a entrada de dólares. Com mais dólares, há uma valorização do real e uma queda, em reais, dos preços dolarizados, dos chamados comercializáveis (os produtos com cotação internacional).
As contra-indicações são terríveis. E os movimentos do câmbio acabam condicionados por uma operação de nome carry trade.
Trata-se de uma jogada de tomar financiamento em moeda forte – em geral em dólar ou yuan -, a taxas baixas e aplicar em títulos brasileiros, a taxas mais elevadas, ganhando a diferença, dependendo da variação do câmbio.

Além disso, há uma competição entre países emergentes, especialmente Brasil, México, África do Sul e Indonésia. Se o carry trade de um país está melhor do que outro, os capitais voam de um lado para outro. Foi o que ocorreu em dezembro passado, provocando uma explosão na cotação do real em relação ao dólar. Por isso, o BC acompanha diariamente o carry trade do Brasil e dos seus competidores. A meta inflacionária é jogo de cena.
E, aí, se chega ao segundo ponto. Um dos grandes fatores de instabilidade inflacionária e do nível da Selic é a volatilidade do câmbio. Confira na tabela. Se houver uma desvalorização do real, haverá uma redução no valor dos dólares a serem remetidos. E vice-versa. Caso houvesse previsibilidade na variação do dólar, a Selic poderia ser substancialmente menor.
Mas como reduzir a volatilidade? Este é o grande desafio no qual está envolvido o Banco Central e economistas de várias áreas.
Há quem sugira controle de capitais, bandas cambiais, IOFs e quetais. O busílis é outro, como tem alertado há tempos Manfred Back – inclusive em artigos aqui no GGN. Trata-se do mercado de derivativos.
Nesse mercado, dois investidores fazem apostas em torno da cotação futura do dólar. As apostas são em reais. O mercado é regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), não pelo Banco Central.
Há vários formatos:
- Contrato futuro de dólar
- É o mais negociado.
- Padrão: US$ 50 mil por contrato.
- Liquidação exclusivamente financeira: no vencimento, compara-se o valor contratado com a PTAX (taxa de câmbio oficial do Banco Central).
- Usado para hedge (exportadores, importadores, empresas endividadas em dólar) ou especulação.
- Mini-dólar (WDO)
- Mesmo conceito do contrato futuro, mas em lotes de US$ 10 mil.
- Muito usado por traders pessoas físicas pela alavancagem e menor tamanho.
- Opções de dólar
- Funcionam como seguro cambial: o comprador paga um prêmio e adquire o direito (não a obrigação) de comprar ou vender dólares a uma taxa futura.
- Úteis para empresas que querem proteção, mas com flexibilidade.
- NDF (Non-Deliverable Forward) – mercado de balcão
- Contrato a termo sem entrega física, liquidado pela diferença entre taxa contratada e taxa de referência.
- Muito usado por multinacionais.
Há várias ferramentas para tentar reduzir a volatilidade, de swaps cambiais oferecidos pelo BC e circuit breaks (mecanismo para interromper pregões em momentos de oscilação extrema).
O que interessa é que, qualquer tentativa de tornar o país menos vulnerável às oscilações do câmbio, passa necessariamente pelos mercados futuros. É por aí que deve se iniciar a tentativa de escapar da armadilha das metas inflacionárias.
Leia também: