Enviado por Felipe A. P. L. Costa.
A maior vitória do esporte brasileiro.
por F. Ponce de León, do blogue Poesia Contra a Guerra.
Este 20/4/2025 ficará marcado como um grande dia na história do esporte brasileiro. A vitória de hoje de Hugo [Marinho Borges] Calderano (nascido em 1996) no campeonato mundial da ITTF (Federação Internacional de Tênis de Mesa, na sigla em inglês) foi um feito e tanto. Para mim foi de longe a vitória mais difícil e, por isso mesmo, a mais valiosa de toda a história das modalidades esportivas individuais.
Pense em qualquer modalidade olímpica ou em qualquer negócio que é erroneamente vendido como esporte – tipo corrida de automóvel – e você não encontrará montanha mais alta do que a montanha que o mesa-tenista brasileiro acaba de escalar lá em Macau. Sim, ele hoje chegou ao cume do Sagarmatha.
Para fins de argumentação, bastaria dizer que nenhum outro esporte ou modalidade olímpica (e.g., basquetebol ou a maratona) é tão monopolizado como o tênis de mesa. Trata-se de um esporte lindo e quase perfeito, e que é dominado por atletas chineses há décadas. (Apesar da beleza plástica e de tudo o mais, o esporte sempre foi desprezado pela TV brasileira. O máximo que a TV às vezes mostrava eram os 10 segundos finais da decisão de algum torneio pan-americano ou sul-americano vencido pelo Hugo Hoyama [nascido em 1969], um bom mesa-tenista e um grande medalhista, mas que nunca foi o ‘shaolin ninja’ que o Calderano dá mostras de ser.)
UM SHAOLIN NINJA BRASILEIRO?
Ao longo dos anos, qualquer atleta de outra nacionalidade que tentasse desafiar os maravilhosos chineses (e.g., o carismático e saudoso Ma Lin [nascido em 1980]) sempre me pareceu um intruso indesejável. Vira e mexe aparece algum europeu estranho e desajeitado, mas o meu exemplo favorito de peixe fora d’água seria o alemão Timo Boll (nascido em 1981). Por sua vez, Calderano tem um jeito de ‘shaolin ninja’ que eu ainda não havia visto em nenhum outro atleta não chinês. (O que me leva a dizer que, com alguma inteligência administrativa e doses de trabalho duro por parte dos gestores, o futuro do esporte em terras brasileiras poderá tomar um novo rumo.)
Em tempo: ao que parece, a popularização do esporte na China, a partir de meados do século passado, foi fruto de um feliz casamento entre demografia (população numerosa) e espaço (em uma quadra de basquete, por exemplo, cabem de 8 a 10 mesas de tênis de mesa, talvez mais).
Seja como for, espero que o novo campeão mundial tenha maturidade e apoio suficientes para resistir à máquina de moer carne que irá se voltar contra ele. Estou a me referir à mídia brasileira (veículos de imprensa, agências de publicidade etc.). Que ele esteja preparado, pois é absolutamente certo que essa turma vai querer sugar sangue.
Sim, não faltarão produtores de TV querendo colocá-lo diante de uma mesa para fazer demonstrações infantilizadas do jogo, assim como não faltarão perguntas sobre a diferença entre tênis de mesa e pingue-pongue… Enfim, não faltarão as idiotices habituais de sempre. (Não estranharia se ainda hoje ele fosse um dos ‘entrevistados com exclusividade’ do Fantástico, da TV Globo.)
Assim como também não faltarão agências de publicidade querendo associar a figura e as habilidades físicas dele aos produtos que essa turma vende – e.g., automóveis, bancos, celulares, cervejarias, mineradoras, petroleiras, casas de apostas, casas de prostituição, enfim, todos os negócios maravilhosos que patrocinam os clubes de futebol em Pindorama.
CODA.
52 anos depois, eis que enfim eu pude vibrar com uma jornada ainda mais épica do que a minha. Estou a me referir aqui à medalha de ouro que eu ganhei no início da minha adolescência, em 1973, no Torneio de Tênis de Mesa do Colégio Marista de Brasília. Não sei quais eram as posições dos meus adversários no ranking da ITTF, mas lembro da partida final e posso assegurar que foi bem difícil…
* * *