Este ano comemora-se 70 anos da fundação da Frente de Libertação Nacional (FLN) da Argélia, grupo revolucionário que liderou o país contra a colonização francesa até a vitória em 1962.
Em 1966, ainda fresco na memória de argelinos e franceses, a luta da FLN ficou mundialmente conhecida com o filme do diretor Gillo Pontecorvo, A Batalha de Argel.
No atual momento histórico, no qual testemunhamos a dura e inspiradora resistência do Hamas na faixa de Gaza, o filme retrata, em outro contexto, praticamente as mesmas experiências e os mesmos conflitos por libertação em condições em que o adversário colonialista parece ser infinitamente superior por seu exército e por sua tecnologia.
Pontecorvo, nascido na Itália em 1919, foi um diretor que produziu filmes políticos e que retratam momentos importantes da história do ponto de vista da classe trabalhadora. É um cineasta com uma obra política coerente e poderosa.
Sua escola é o movimento que ficou conhecido como Neorrealismo italiano, ao lado de diretores como Roberto Rossellini, Vittorio De Sica, Luchino Visconti e Giuseppe de Santis.
O roteiro é de Franco Solinas, também roteirista do filme O Bandido Juliano (Francesco Rosi, 1962).
Baseia-se nas memórias do revolucionário Saadi Yacef, que também participa do filme, publicadas no livro “Souvenirs de la Bataille d’Alger”. Yacef explica em um documentário a origem de sua história: “o filme começou na prisão, eu condenado à morte”. “Vivíamos a descolonização, a época em que o colonizado decidiu ser mestre de seu destino. Um dia fui preso e condenado à morte. E, quando se está sozinho numa cela, tenta-se preencher os dias. Eu fazia filmes na cabeça. Lembrava do que vivi antes de ser preso”.
O enredo acompanha a luta dos argelinos contra a colonização francesa entre 1954 e 1957, quando a FLN e as forças de repressão francesa se enfrentaram no bairro de Casbah onde estava confinada a população operária e muçulmana da cidade.
A ação mostra os principais acontecimentos, a formação revolucionária da FLN, a organização da estratégia de guerrilha urbana, as táticas para fazer avançar a luta política, – dos atentados a uma greve geral -, e a violenta reação dos colonizadores franceses com prisões, torturas, encarceramento em massa e controle rígido dos revoltosos.
Textos apontam que as técnicas de tortura aplicadas pelo exército francês durante o conflito argelino foram importadas pelos governos da América do Sul, inclusive o do Brasil, durante as ditaduras militares.
Ao mesmo tempo, as memórias de Yacef e o próprio filme se tornaram lições sobre processos revolucionários para militantes de todo o mundo.
No atual momento em Gaza, ver esse filme é encontrar semelhanças com a luta dos palestinos. Com nove meses de conflito, os israelenses parecem cometer os mesmos erros dos franceses na Argélia.
Os palestinos, ao contrário, aprenderam com os revolucionários que vieram antes deles. É extraordinário perceber como o filme capta a união da população argelina em torno do sentimento nacional de libertação contra um regime de expropriação brutal.
O mesmo pode ser percebido dos palestinos atualmente.