A luta pela libertação da Palestina em Gaza não começou em 2023, nem na década de 1980, quando surgiu o Hamas. Ela existe desde a colonização britânica da Palestina, que começou em 1917. A luta contra “Israel” começou em 1948 quando o Estado sionista foi fundado. Centenas de milhares de refugiados foram empurrados para a Faixa de Gaza e sempre foram a principal base da resistência. Após a ocupação de Gaza em 1967 por “Israel” a resistência aumentou.
O Partido Comunista da China em 1971 publicou um texto de apoio a luta dos palestinos. Ele apresenta diversos aspectos importantes da realidade de Gaza. Ele afirma que: “por mais de quatro anos, 500.000 palestinos na área, recusando-se a ser escravas, resistiram valentemente às tropas de ocupação e tornaram-se uma força importante na luta contra os agressores EUA-Israel. Após quatro anos de ocupação por Israel, os soldados israelenses não se atrevem a andar sozinhos pelas ruas durante o dia na Faixa de Gaza. À noite, pequenas unidades, com medo de sair em patrulha, permanecem nos acampamentos”.
O texto afirma que os cerca de 250 mil refugiados são a principal base da resistência armada. Eles “pegaram em armas e organizaram muitas unidades clandestinas de guerrilheiros armados para enfrentar os agressores. Durante os últimos quatro anos, eles realizaram cerca de 1.600 ataques e operações de demolição, causando pesadas baixas nas tropas de ocupação israelenses”.
A principal base de operação da resistência havia sido por alguns anos a Jordânia, onde havia centenas de milhares de refugiados. O PCCh destaca: “quando os guerrilheiros palestinos na Jordânia estavam enfrentando repressão sangrenta pelos reacionários EUA-Jordanianos este ano, as unidades subterrâneas de guerrilheiros na Faixa de Gaza intensificaram suas atividades. Eles lançaram cerca de 800 operações nos primeiros oito meses do ano. Em 5 de junho, no 4º aniversário da ocupação israelense da Faixa de Gaza, os comandos realizaram 11 operações”.
1971 é o ano do massacre do Setembro Negro quando o reino da Jordânia, a serviço do sionismo e do imperialismo, expulsou violentamente a guerrilha palestina, principalmente do Fatá do país. Eles tiveram de se mudar para o Líbano, o que dificultou muito a sua luta, pois não havia mais um contato direto com a Cisjordânia, onde a população era quase que integralmente de palestinos.
A resistência em Gaza se assemelhava muito ao que faz o Hamas nos dias de hoje: “eles surpreenderam os agressores israelenses em toda a faixa, uma área de 45 quilômetros de comprimento e 8 quilômetros de largura. Eles emboscaram pequenas patrulhas israelenses em cidades, vilarejos e estradas, lançando granadas de mão. Veículos militares e estradas foram explodidos por minas, e ferrovias e pontes foram destruídas com explosivos de tempo”.
“Certo dia, no ano passado, um grupo de oficiais e tropas israelenses se reuniu na pequena praça da estação ferroviária de Gaza, esperando para voltar a Israel para férias. Informados sobre isso, os comandos imediatamente entraram em ação. Alguns deles se moveram para a área em duplas e trios e se esconderam nos telhados das casas com vista para a praça, enquanto outros ficaram à espera nas aproximações da estação, prontos para interceptar quaisquer reforços inimigos que pudessem aparecer. Então, aqueles nos telhados atacaram com metralhadoras e granadas de mão. O inimigo, em pânico, fugiu descontroladamente. Os israelenses perderam 32 homens, incluindo um tenente-coronel, vice-chefe do corpo de inteligência israelense na faixa”.
A repressão do Estado sionista já era enorme: “os guerrilheiros palestinos na Faixa de Gaza têm o apoio de amplos setores dos árabes palestinos. As autoridades de ocupação israelenses temem e odeiam os laços estreitos entre os guerrilheiros e o povo. Em uma tentativa de privá-los desse apoio, os sionistas israelenses recentemente expulsaram mais de 13.000 refugiados palestinos da faixa e nivelaram todas as suas casas com tanques e retroescavadeiras. Alguns dos refugiados foram forçados a se instalar ao sul, em El Arish, no Deserto do Sinai, onde a vida é muito difícil”.
A luta armada se ligava a luta geral do povo: “em agosto deste ano, eles organizaram uma greve durante a qual todas as lojas foram fechadas e todo o transporte público foi interrompido na Cidade de Gaza, quando realizaram manifestações. As autoridades israelenses admitiram que a greve transformou a cidade em uma cidade morta. Os guerrilheiros palestinos apoiaram a greve com ataques incessantes às patrulhas israelenses e destruindo estradas”.
A repressão dos israelenses foi enorme. A ocupação ainda era recente e não tinha se estabilizado. Foi nessa conjuntura que cresceram os atuais dirigentes do Hamas que nasceram nas décadas de 1950 e 1960. Essa guerra, no entanto, seria afetada pela conjuntura geral dos partidos palestinos que estavam no Líbano. A Faixa de Gaza ainda não seria o grande foco da luta do povo palestino. Isso aconteceria a partir da década de 1980 com a Segunda Intifada.
Lá se formaria a principal base do Hamas, o partido que não aceitaria o acordo com “Israel”, tal qual fez o Fatá, e assim se tornaria o principal partido do povo palestino, não apenas na Faixa de Gaza, mas em toda a Palestina ocupada e nas comunidades nos campos de refugiados no exterior