Matiel Mogannam foi uma das mais destacadas militantes da luta nacional palestina no período do Mandato britânico. Sua atuação política rompeu com o papel reservado às mulheres pelas estruturas coloniais e tradicionais, afirmando a participação feminina como parte essencial da mobilização antissionista e anti-imperialista na Palestina.

Nascida no Líbano em 15 de fevereiro de 1899, em uma família cristã palestina, Matiel migrou ainda criança para os Estados Unidos, onde se casou com Mughannam Mughannam, advogado nascido em Ramala e militante nacionalista. De volta à Palestina nos anos 1920, o casal passou a desempenhar papel destacado no movimento de resistência ao Mandato britânico e à colonização sionista. Mughannam foi secretário do 7º Congresso Nacional Palestino, em 1928, e, posteriormente, secretário do Partido da Defesa Nacional.

Foi em meio ao crescimento da mobilização nacional palestina, em resposta à intensificação da colonização sionista e à repressão britânica, que Matiel se destacou como organizadora política. Participou das reuniões que culminaram na fundação do primeiro Congresso das Mulheres Árabes da Palestina, realizado em Jerusalém em 26 de outubro de 1929, com a presença de cerca de duzentas mulheres de diversas cidades palestinas. A iniciativa foi resultado direto da insurreição de Buraq (agosto de 1929), na qual o povo palestino se levantou contra as provocações sionistas no Muro Ocidental, e da repressão brutal das autoridades coloniais britânicas.

O congresso aprovou uma série de resoluções exigindo o fim da imigração sionista, a revogação da Declaração Balfour e a formação de um governo nacional palestino. A luta das mulheres se colocava como parte inseparável da luta nacional. Matiel integrou a delegação que apresentou as reivindicações ao Alto Comissário britânico, pronunciando-se em inglês para denunciar os crimes do Mandato. Entre as denúncias, estavam os espancamentos de estudantes em Nablus e a distribuição de recursos públicos exclusivamente a colonos judeus.

De volta ao congresso, as participantes organizaram uma marcha com 120 automóveis pelas ruas de Jerusalém, desafiando abertamente as ordens britânicas. Passaram por todos os consulados estrangeiros distribuindo panfletos com as resoluções do encontro. A ação teve grande repercussão e marcou o início da atuação direta das mulheres na luta nacional.

O Congresso criou um comitê executivo, o Comitê Executivo das Mulheres Árabes (AWE, na sigla em inglês), responsável por coordenar as ações políticas e sociais das mulheres palestinas em articulação com o Comitê Executivo do Congresso Nacional Palestino. Matiel foi escolhida como secretária de língua inglesa do comitê e assumiu papel central na interlocução com instituições internacionais.

A partir dessa estrutura, foi fundada a Associação das Mulheres Árabes, com sedes em diversas cidades, atuando com coleta de donativos, organização de protestos e atividades educacionais. Uma escola e uma oficina de costura foram criadas no bairro de Musrara, em Jerusalém.

Em 1933, Matiel participou de uma marcha de mulheres em Jerusalém contra a política britânica de imigração sionista. Em seu discurso na mesquita de Omar ibn al-Khattab, contrastou a promessa do califa Omar, que garantiu o respeito à população cristã em 637, com a traição dos britânicos, que abandonaram os árabes após a Primeira Guerra Mundial. Ela declarou: “trabalharemos, unidas, até que alcancemos nossas reivindicações nacionais”.

Em maio de 1936, participou de uma conferência organizada pelo Comitê Executivo das Mulheres Árabes, que declarou apoio à greve geral e ao boicote aos produtos sionistas, em consonância com o Comitê Supremo Árabe, liderado por Mohammed Amin al-Husseini.

Matiel também atuou internacionalmente, integrando uma delegação ao Congresso das Mulheres do Oriente, no Cairo, em 1938, onde foram aprovadas resoluções contra o armamento dos colonos judeus, em apoio aos mártires palestinos e pela assistência aos feridos. Foi membro da secretaria auxiliar e do gabinete de informações do congresso.

Em 1937, publicou um livro em inglês analisando a luta das mulheres na Palestina. Nele, denunciou que a ausência de um governo nacional impedia reformas que poderiam fortalecer a organização feminina. Apontava a limitação das associações a um papel assistencialista, sem a estrutura necessária para influenciar os rumos políticos do país.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Matiel continuou escrevendo e mobilizando. Em artigo publicado na revista Huna al-Quds, criticou a guerra e destacou o papel das mulheres na resistência às agressões imperialistas. Matiel retornou aos Estados Unidos em 1980 e faleceu em Arlington, Virgínia, em 11 de agosto de 1992.

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Last Update: 24/04/2025