Alexandre Ramagem e Carlos Bolsonaro, apontados com líderes da Abin paralela. Foto: reprodução

A Polícia Federal divulgou nesta quarta-feira (18) um relatório detalhado que expõe um amplo esquema de monitoramento ilegal conduzido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O documento, tornado público pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aponta mais de 30 indiciados, incluindo o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro e o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, ambos do PL.

O relatório descreve como a Abin foi utilizada como instrumento de espionagem política, com o uso do software israelense First Mile para rastrear ilegalmente a localização de celulares de autoridades, jornalistas e adversários políticos.

Entre os alvos do monitoramento estavam ministros do STF como o próprio Moraes e Luís Roberto Barroso, além de parlamentares de diversos partidos e jornalistas críticos ao governo.

Segundo as investigações, o esquema operava sob comando direto de Ramagem, com o objetivo claro de beneficiar politicamente o então presidente Jair Bolsonaro. “Comprova o viés precipuamente político da ação clandestina”, afirma o documento sobre os pedidos de monitoramento que teriam partido da Presidência da República.

Casos sensíveis como as investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e a tentativa de homicídio contra Bolsonaro também foram alvo da espionagem irregular.

Em 2020, a Abin produziu um dossiê sobre o delegado Daniel Freitas da Rosa quando ele assumiu as investigações do caso Marielle. Dois anos depois, Ramagem solicitou uma análise completa sobre a situação de Adélio Bispo, autor da facada contra Bolsonaro em 2018.

Em anotações pessoais, Ramagem descreve suas tentativas de pressionar a corregedoria da PF para revisar o caso Adélio Bispo: “Coloquei na PF a linha de que essa investigação tem que ser toda verificada desde o início. Correição permite. Passei ao Corregedor-Geral. Estou esperando a resposta. Eu cobro, mas não anda”.

Adélio Bispo, que deu uma facada em Bolsonaro em 2018. Foto: reprodução

O relatório revela operações específicas de vigilância, como a tentativa frustrada de localizar o ex-deputado Jean Wyllys quando ele estava nos Estados Unidos, o que levou os agentes a monitorarem familiares como alternativa.

Também foram alvos o humorista Gregório Duvivier, após críticas ao governo, e jornalistas como Vera Magalhães e equipes da Agência Pública, classificadas como “jornalistas left” em comunicações internas.

A investigação apurou ainda interferências em casos envolvendo Jair Renan Bolsonaro (PL), atualmente vereador de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, incluindo uma operação de vigilância contra seu ex-personal trainer que terminou com a fuga de um agente para evitar ser preso pela Polícia Militar.

Em mensagens obtidas pela PF, um dos envolvidos chega a ameaçar Duvivier: “Quero ver se será tão machão perante o juiz, Gregório Duvivier. A Hydra já pegou seus dados e mandou às pessoas competentes”.

O documento destaca ainda como a agência foi usada para “caçar podres” de ex-aliados como Rodrigo Maia e Joice Hasselmann, além de tentar influenciar investigações da própria Polícia Federal.

Veja a lista de espionados pela Abin paralela: 

Ministros do Supremo Tribunal Federal
Alexandre de Moraes
Gilmar Mendes
Luís Roberto Barroso

Políticos de destaque
Renan Calheiros
Cláudio Castro (governador do RJ, PL)
João Doria (ex-governador de SP)
Arthur Lira (ex-presidente da Câmara)
Rodrigo Maia (ex-presidente da Câmara)
Jean Wyllys (ex-deputado federal)
David Miranda (deputado federal)

Jornalistas e meios de comunicação
Reinaldo Azevedo
Mônica Bergamo
Glenn Greenwald
Revista Piauí
Aos Fatos
Agência Lupa

Servidores públicos e ambientalistas
Hugo Ferreira Netto Loss (Ibama)

Empresas e institutos
Institutos de pesquisa eleitoral Ipec e Quaest
Além de transportadoras ligadas a caminhoneiros

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Last Update: 20/06/2025