A Lei do Streaming e o fator Randolfe Rodrigues, o amigo de todos

A nova Lei do Streaming detonou uma guerra no meio do audiovisual. Um vídeo do ator Wagner Moura apontou, de forma sucinta, os erros do projeto.

O princípio básico é a obrigatoriedade das empresas de streaming de pagarem um imposto sobre seus faturamento no país, para reaplicação na indústria audiovisual do país.

Moura aponta dois contrassensos.

O primeiro, o valor irrisório do imposto, de 4%. O segundo, o contrassenso da empresa poder aplicar os recursos em suas próprias produções.

Inicialmente, vamos analisá-lo comparando com legislações de outros países.

O chamado PL do Streaming é uma proposta de lei que pretende criar um marco regulatório específico para serviços de video on demand (VoD) e outras formas de streaming audiovisual no Brasil. Até hoje, essa atividade não era regulamentada diretamente — diferente da TV por assinatura — o que gerava assimetria de obrigações legais e tributárias.

O texto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em novembro de 2025 e segue agora para exame pelo Senado Federal

Hoje, serviços como Netflix, Disney+, Amazon Prime Video, Globoplay e outros operam sem um regime legal específico no Brasil. O PL busca incluir essas plataformas sob regras que:

  • obrigam registro e supervisão pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema);
  • definem obrigações e penalidades para quem não cumprir normas;
  • ampliam transparência e proteção ao consumidor.

O projeto cria uma nova forma de Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine) aplicada aos serviços de streaming.
Principais pontos:

  • até 4% sobre a receita bruta anual das plataformas que faturam mais de R$ 350 milhões no Brasil;
  • possibilidade de dedução de até 60% desse valor se for reinvestido em conteúdo brasileiro (independente ou nacional);
  • regra específica para plataformas de conteúdo user-generated (como YouTube), com alíquota menor (≈ 0,8%). 

Peça 2 – porque Wagner Moura tem razão

1. A taxa de 4% é realmente irrisória

Quando comparamos internacionalmente:

  • França: 20-25% de investimento obrigatório
  • Canadá: 5% de contribuição
  • Espanha: 5% da receita bruta
  • Brasil proposto: 4% com possibilidade de dedução de até 60%

Na prática, uma plataforma brasileira poderia pagar efetivamente apenas 1,6% (40% de 4%) se reinvestir em suas próprias produções.

2. O problema da dedução de 60%

Este é o ponto mais controverso. Críticos argumentam que quando plataformas fazem seu próprio conteúdo, ficam com os direitos do material, transferindo propriedade intelectual brasileira para empresas estrangeiras.

Comparação com a França: Na França, 66% do investimento em séries deve ir para produtores independentes, que mantêm a totalidade dos direitos autorais 36 meses após a estreia. Isso garante que o conteúdo francês permaneça controlado por franceses.

No Brasil: O projeto não estabelece regras claras sobre propriedade intelectual quando as plataformas produzem diretamente. Isso significa que:

  • Netflix pode produzir “conteúdo brasileiro”
  • Deduzir 60% da Condecine
  • Manter 100% dos direitos da obra
  • Controlar distribuição global

3. Cotas também ficam aquém

  • Europa: 30% de conteúdo local
  • Brasil proposto: 10%

O setor audiovisual reivindicava inicialmente 20% de cota de tela e 12% de taxa.

4. O que o manifesto defende

Produtores europeus recomendam três pilares: cotas robustas de conteúdo (mínimo 30%), proeminência (garantia de visibilidade), e obrigações financeiras adequadas.

O manifesto brasileiro critica especialmente a possibilidade de 60% dos recursos públicos serem decididos por empresas estrangeiras, comprometendo a autonomia cultural nacional.

Conclusão

A comparação internacional demonstra que a proposta brasileira é significativamente mais branda do que modelos já implementados com sucesso em democracias desenvolvidas. Os argumentos de Wagner Moura encontram respaldo nos padrões internacionais estabelecidos na Europa e Canadá, onde:

  1. As taxas são mais altas (5-25% vs. 4% brasileiro)
  2. Há proteção explícita da propriedade intelectual nacional
  3. Produtores independentes têm participação garantida
  4. Cotas de conteúdo são mais robustas (30% vs. 10%)

A questão central do debate não é se regular, mas como regular de forma que fortaleça a indústria audiovisual brasileira sem entregar o controle cultural e econômico para grandes plataformas internacionais.

Peça 3 – o manifesto em apoio a Wagner Moura

Seguiu-se um embate digital. Após o manifesto de Wagner Moura, o líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues, contra-atacou com um vídeo. Seguiu-se um manifesto assinado pelos mais relevantes personagens do mundo audiovisual, em apoio a Wagner Moura.

Resumo do Manifesto – Por uma Regulação Justa e Soberana

  1. Preocupação com o Processo de Formulação
    • O manifesto expressa preocupação com a condução do processo legislativo sobre a regulação do streaming, destacando a falta de escuta e transparência nas decisões, especialmente com relação ao setor audiovisual independente, que sempre foi fundamental para a diversidade cultural no Brasil.
  2. Retrocesso Estrutural
    • Apontam um retrocesso no controle sobre os recursos públicos destinados ao audiovisual, com a possibilidade de 60% desses recursos serem decididos por empresas estrangeiras, o que comprometeria a autonomia nacional e a soberania cultural.
  3. Crítica ao “Menos Pior”
    • Criticam a ideia de aceitar uma regulação insuficiente, apelidada de “menos pior”. Defendem uma regulação mais robusta que fortaleça a indústria audiovisual nacional e não entregue a curadoria da cultura brasileira a interesses privados estrangeiros.
  4. Defesa da Produção Independente
    • Reforçam a importância da produção independente nacional como eixo estruturante da política audiovisual brasileira. Qualquer política que fragilize a Ancine e o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) seria uma ameaça à soberania cultural e à pluralidade artística no Brasil.
  5. Compromisso com uma Regulação Soberana
    • Os signatários do manifesto afirmam seu compromisso com uma regulamentação justa, equilibrada e soberana, alinhada com boas práticas internacionais, com cotas robustas de conteúdo brasileiro e a governança pública do FSA.

Peça 4 – a reação de Randolfe

A reação de Randolfe foi dura: uma resposta à Paula Lavigne – esposa de Caetano Velloso e líder cultural – reclamando de suposta “bola nas costas” e expondo seu próprio lobby para indicações políticas à ANCINE.

O curioso desse episódio é que, para sair dos limites estreitos do Amapá, Randolfe sempre se amparou na área artística do Rio de Janeiro, liderada pela mesma Paula Lavigne. Sempre foi um seguidor de ondas.

Graças à Paula, imiscuiu-se no universo musical do Rio e conseguiu até convencer o mundo artístico a embarcar na primeira onda que cavalgou: a Lava Jato. Foi responsável pelo encontro de Caetano com Deltan Dallagnoll.

Segundo O Globo,

“Desde o primeiro semestre ela tem promovido bate-papos reunindo artistas e políticos para discutir a conjuntura brasileira. São convidados desde gente mais identificada com a esquerda a grupos mais à direita, com o intuito de vencer diferenças e fortalecer uma pauta comum”

Conseguiu o inacreditável: colocar Caetano Velloso e Paula Lavigne em um ato de apoio ao então juiz Marcelo Bretas.

Na mesma época, apareceu macaqueando Deltan Dallagnoll em lançamento de livro.

Na mesma época, apareceu macaqueando Deltan Dallagnoll em lançamento de livro.

Além disso, logo após o impeachment de Dilma Rousseff, lançou sua declaração definitiva de amor à Lava Jato:

“Esta ação deixou de ser uma ação somente do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, das instituições de controle. A operação Lava Jato é um patrimônio da sociedade brasileira”, declarou. 

Eleito Bolsonaro, seu primeiro ato foi o apoio incondicional a seu conterrâneo, Davi Alcolumbre, para a presidência do Senado, tanto em 2019 quanto em 2025. 

Graças às ligações com Caetano-Paula, conseguiu dar uma meia volta e se aproximar do governo Lula. E se tornar amigo de infância de várias personalidades petiistas.

Seu casamento teve como padrinhos Lula-Janja, Caetano-Paula, a arte se encontrando de novo com o poder.

E, pela proximidade com Alcolumbre, ganhou o honroso cargo de líder do governo no Senado. 

Ao comentar a vitória de Davi Alcolumbre como presidente do Senado, o senador Randolfe Rodrigues (PT‑AP) celebrou o resultado afirmando que Alcolumbre representa “um círculo histórico de renovação da política” e que ele está comprometido com a agenda constitucional nacional. E consagrou a declaração com um beijo de amor político eterno.

Para justificar o acordo sofrível, em torno da Lei do Streaming, o discurso foi outro:

“Não é o que a gente quer, é o que a gente pode”, 

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