, O Globo caiu na maldição da Inteligência Artificial. Montou uma biografia detalhada, informando que:
“Em 1967, os três fundaram a financeira Safra. Depois, compraram o Banco Nacional Transatlântico e a instituição passou a se chamar Banco de Santos. Em seguida, adquiriram o Banco das Indústrias, que, em 1972, ganhou oficialmente o nome de Banco Safra S.A. Três anos depois, foi criado o Safra Asset Management, de investimentos, e em 1987, a Safra Corretora”.
Ora, o Banco Safra foi fundado em 1955. Em 1964 já tinha algum porte. Além do Banco Safra de Investimentos já possuíam o Republic Bank.
Com receio de uma nacionalização por parte do governo Goulart, os Safra venderam 90% das ações do banco para Walther Moreira Salles, conforme relato em meu livro, de biografia do banqueiro (“Walther Moreira Salles: O banqueiro-embaixador e a construção do Brasil”)
Depois do golpe, os Safra, protegidos de Roberto Campos, também se tornaram muito próximos a Golbery do Couto e Silva, que pressionou para Walther revender o banco para a família Safra. Este decidiu pela venda depois que Edmond Rothschild o alertou sobre as relações europeias dos Safra, muito influentes junto à comunidade judaica.
O banqueiro sempre fez questão de cultivar essas relações, sabendo da influência dos banqueiros judeus, a partir da rede de relações criada pela família Rothschild.
O mercado paralelo de dólares, criado a partir do Acordo de Bretton Woods, era dominado por húngaros judeus, egressos de bancos dos Rothschild, que operavam na praça de Zurique.
Foi através de um deles, Emeric Kann, que Walther se aproximou de Sigmund Warburg, notável banqueiro inglês, também judeu, mas de origem alemã, intelectual de peso que, com a guerra, fugiu para Londres. Banqueiros de origem veneziana, os Warburg rivalizavam com os Rothschild no mercado financeiro. Seu primeiro banco, o Banco de Veneza, foi fundado no século 14, por Anselmo Warburg. A família se dividiu entre alguns bancos que, depois, se fundiram dando origem à União de Bancos Suiços.
Aliás, o relacionamento de Walther com os banqueiros judeus se deu através de Andrés Rueff, judeu francês, que lhe passou os contatos para operar na praça de Zurique.
Foi lá que Walther conseguiu assumir o controle da Brazil Warrant, empresa de capital inglês vendida para pagar as dívidas de guerra do país. E também reciclou os títulos da dívida paulista, emitidos por Ademar de Barros, a famosa caixinha de Ademar.
A relevância dos banqueiros judeus era tão ampla que Walther se tornou próximo de Edmon Rothschild depois de adquirir o Banco do Comércio de sua propriedade. Edmond Rothschild, depois, se tornaria o mais influente da família. Ainda em início de carreira, a incursão brasileira foi a primeira dele. E a quebra do banco poderia comprometer sua carreira futura. Edmond já criara a Compagnie Financière, que se tornaria gigantesca nas décadas seguintes. Tinha apenas 30 anos, mas perdeu US$ 2 milhões, cometendo a imprudência de emprestar dinheiro para a campanha de Ademar de Barros.
Antissionismo e história
Fiz toda essa digressão para entrar em um tema que me incomoda muito.
Tempos atrás, a comunidade empresarial judaica, reunida em torno da Conib (Confederação Israelita do Brasil) e da Federação Israelita, deflagrou uma enorme campanha de cancelamento contra Paulo Nogueira Baptista Junior, por ter se referido, entre outras coisas, à influência dos banqueiros judeus nos bancos multilaterais.
Sobrou para mim. Houve uma enxurrada de ataques no X – similares aos haters de ultradireita – dizendo que meu papel foi pior, por não ter rebatido Paulo Nogueira. Surpreendi-me com o ataque, até constatar que foi insuflado por Milton Selligman, um sionista que, ainda como Secretário de Comunicação de Fernando Henrique Cardoso tornou-se lobista da Ambev, no polêmico processo do CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico) que autorizou a compra da Antarctica pela Brahma.
Fui malhado durante dias, como um judeu em Varsóvia. Todos que tinham alguma mágoa passada – como Caio Blinder, Alexandre Schwartsman e o próprio Seligman – aproveitaram para tirar sua casquinha.
Ficamos entendidos assim:
- Usar a influência de banqueiros judeus em teses conspiratórias – como foi o caso do livro “Protocolos dos Sábios de Sião” -, ou associar genericamente judeus a banqueiros é antissemitismo, sim.
- Admitir a influência dos banqueiros judeus no sistema financeiro internacional e nos bancos multilaterais é fato.
- Pretender transformar essa constatação em antissemitismo é oportunismo puro, por parte daqueles que cultivam a indústria do holocausto.