A indústria do cancelamento na Flipoços

A Flipoços, Feira do Livro de Poços de Caldas, foi um sucesso. Nada tenho a reclamar de não ter sido convidado. Aliás, convidado fui, inclusive para escrever um artigo no livro de 10 anos. Cometi a deselegância de mencionar uma cena esdrúxula do ex-prefeito, quando lancei a biografia de Moreira Salles. Não saiu nem o artigo e o convite para participar foi retirado. Fui cancelado pela Flipoços.

Sem queixas, apesar de ter sido finalista do Premio Jabuti de 2003, categoria principal, em um livro que versava sobre Poços. Na barafunda que se tornou a Prefeitura de Poços, o ex-prefeito, que deixou as contas da prefeitura em pandareco, recebeu como prêmio controlar as contas do Departamento Municipal de Eletricidade, a maior fonte de receita da cidade, e o principal patrocinador da Feira.

E nada se deve esperar dos promotores estaduais, depois que foram coniventes com o corte de dezenas de árvores centenárias e com a censura do prefeito à minha participação em um vídeo de aniversário da cidade. Segundo o promotor, a prefeitura ajudou a financiar o vídeo e, portanto, tinha o direito de censurar.

Mas refiro-me ao cancelamento da moça Camila Panizzi Luz, por suposta prática de racismo. Pelo vídeo, a escritora diz a um escritor, que nunca tinha sido presa, para poder participar do movimento de literatura marginal. Pareceu-me apenas uma bobinha, mal informada sobre o movimento. Uso o Chatgpt para saber da produção literária da moça. Escreveu apenas um livro “Liderança Feminina Sem Fronteiras”.

Informo-me com meus parentes, em Poços, presentes à sessão, e a impressão é a mesma. O escritor “marginal”, Wesley Barbosa, do Coletivo Neomarginal, foi chamado de improviso à mesa e a moça certamente não foi informada do sentido do movimento da literatura marginal. A maneira como se dirige ao escritor nada tem de agressividade. Tanto que a conversa prossegue normalmente. Mostra apenas que a moça, prata da casa, é bobinha, mal informada.

No entanto, a decisão da Flipoços, a jogou nas páginas dos principais veículos do país, de onde jamais sairá devido aos poderes atemporais do Google, punição absurda, sem direito à defesa.

Precisamos tomar cuidado com a indústria do cancelamento. Além de profundamente autoritária, não dá direito de defesa às vítimas. Mais que isso, prepara o terreno para incursões tenebrosas, como foi no Brasil no período do jornalismo de lixo e está sendo agora nos Estados Unidos.

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