Algumas horas após Israel ter lançado um ataque unilateral não provocado, qualificado de forma hipócrita como “preventivo” ao Irã, as autoridades europeias finalmente começaram a se manifestar. Como era previsível, sem nenhum tipo de condenação visível, nem sequer nas entrelinhas, aos atos de Israel. Ao contrário, o presidente da França, Emmanuel Macron, mal disfarça o apoio, já que inicia sua mensagem afirmando que apoia o direito de Israel se defender.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, por sua vez, emite uma mensagem completamente vazia. Isto em um momento em que Israel já mantém há meses um bloqueio total à entrada de comida, água e remédios em Gaza, e agora também dias de bloqueio total de acesso à internet. O mundo inteiro está horrorizado com o que acontece em Gaza e na Palestina, mas não há condenação expressa e categórica de quase nenhum país da Europa, sobretudo dos principais. Apenas, no máximo, frases tímidas lamentando o que está acontecendo, como se não houvesse culpados.
As declarações europeias: entre o vazio e o apoio velado
A declaração de Ursula von der Leyen resume-se a um apelo genérico: “A Europa urge todas as partes a exercerem máxima contenção, desescalarem imediatamente e se absterem de retaliação. Uma resolução diplomática é agora mais urgente do que nunca, pelo bem da estabilidade da região e da segurança global.”
Já Emmanuel Macron foi mais explícito em seu apoio a Israel: “A França reafirma o direito de Israel de se defender e garantir sua segurança. Para evitar comprometer a estabilidade de toda a região, peço a todas as partes que exerçam máxima contenção e desescalem.” O presidente francês ainda revelou ter convocado o Conselho Nacional de Defesa e Segurança e conversado com líderes mundiais, incluindo o presidente dos Estados Unidos, demonstrando a coordenação ocidental em torno da questão.
A hipocrisia europeia diante da escalada
Agora Israel, depois de tudo que está fazendo em Gaza – que aliás não pode ser esquecido -, abre uma nova frente de guerra extremamente perigosa para o mundo e devastadora para a Europa. Isso porque a Europa será consumida por essa guerra, já que é tratada como potência única e está mais próxima dos acontecimentos.
O que acontecerá? A Europa permitirá a destruição de mais um país organizado para depois “combater o terrorismo” e “combater a imigração”? A Europa já participou da destruição do Iraque, da Líbia, da Síria. O que mais a Europa quer?
A Europa, que tem a responsabilidade histórica pela Primeira Guerra Mundial e pela Segunda Guerra Mundial, deveria neste momento evitar a Terceira Guerra Mundial e falar em termos claros. A diplomacia chinesa, com cuidado para não inflamar os ânimos e não mostrar que está tomando partido, demonstrou uma comunicação mais assertiva.
A postura chinesa: um contraste necessário
Em contraste gritante com a tibieza europeia, a China manifestou-se de forma clara através de seu porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian: “A China está altamente preocupada com os ataques de Israel ao Irã e profundamente preocupada com as potenciais consequências graves dessas ações. A China se opõe a qualquer violação da soberania, segurança e integridade territorial do Irã, e se opõe a ações que escalem tensões e expandam o conflito.”
A diplomacia chinesa ainda acrescentou: “A China está disposta a desempenhar um papel construtivo para ajudar a desescalar a situação.” Vale lembrar que a China, junto com o Brasil, já desenhou planos de paz para a guerra na Rússia e Ucrânia, e condena de forma muito mais clara o que está acontecendo em Gaza – o genocídio em Gaza.
O risco de uma guerra entre potências militares
Esta não será uma guerra simples. Trata-se de um conflito entre dois países com grande poder militar. Os dados comparativos revelam a dimensão do que pode estar por vir:
População e recursos humanos:
– Irã: 92,4 milhões de habitantes, com 49,49 milhões de pessoas em idade militar
– Israel: 9,5 milhões de habitantes, com 3,95 milhões em idade militar
Forças armadas:
– Irã: 610 mil militares ativos, 350 mil reservistas e 220 mil forças paramilitares
– Israel: 170 mil militares ativos, 465 mil reservistas e 35 mil forças paramilitares
Poder aéreo:
– Irã: 551 aeronaves totais, sendo 188 caças
– Israel: 611 aeronaves totais, sendo 240 caças
Poder naval:
– Irã: 107 embarcações, incluindo 25 submarinos
– Israel: 62 embarcações, incluindo 5 submarinos
Orçamento de defesa:
– Irã: US$ 15,4 bilhões
– Israel: US$ 30,5 bilhões
O fator nuclear:
– Irã: 0 ogivas nucleares (oficialmente)
– Israel: 90 ogivas nucleares
Conclusão: a urgência de uma posição europeia corajosa
Não é possível que essa covardia dure mais tempo. A Europa tem responsabilidade histórica e deve assumir uma posição clara diante desta escalada que ameaça a paz mundial. O silêncio cúmplice ou o apoio velado a ações unilaterais de guerra não condizem com os valores que a Europa afirma defender.
Enquanto a diplomacia chinesa e brasileira buscam caminhos para a paz, a Europa permanece refém de seus próprios interesses geopolíticos, incapaz de condenar claramente ações que colocam o mundo à beira de um conflito de proporções catastróficas. A história julgará essa omissão, e a Europa, mais uma vez, poderá ser responsabilizada por não ter feito o suficiente para evitar uma tragédia global.