
A imprensa no palanque e a soberania nacional hoje e ontem
por Fábio C. Zuccolotto
A soberania do sujeito, na tradição freudiana, não se afirma pela onipotência do Eu, mas justamente por seu embate com aquilo que o excede e o funda. O inconsciente, o desejo, a angústia e o Outro, ou o mundo externo. Em O Eu e o Id (Companhia das Letras, v.16), Freud afirma que o Eu é sobretudo corporal, não é apenas uma entidade superficial, mas ele mesmo a projeção de uma superfície (p. 24), revelando que a interioridade do sujeito, o psiquismo, é inseparável de sua inscrição no mundo, no corpo, na linguagem. No entanto, esse mesmo Eu, que se imagina senhor de si, é também uma pobre criatura submetida a uma tripla servidão, que sofre com as ameaças de três perigos: do mundo exterior, da libido do Id e do rigor do Super-eu (p. 53), o que desnuda a fragilidade constitutiva da autonomia individual consciente.
Todavia, é justamente ao reconhecer essa servidão, e não ao negá-la, que se delineia a possibilidade de uma soberania ética ao indivíduo, não enquanto domínio, mas como responsabilidade. Elisabeth Roudinesco, em O eu soberano – Ensaios sobre as derivas identitárias (Zahar, 2022), ao abordar o esvaziamento do laço social na contemporaneidade, observa como o “Eu soberano” moderno se converteu em uma caricatura narcísica e consumista, incapaz de sustentar qualquer projeto comum, político ou subjetivo.
Disso, podemos pensar por analogia que, assim como o sujeito que renega a sua divisão se entrega à fantasia da onipotência, os projetos nacionais que abandonam o conflito em nome de uma paz colonizada abrem mão da soberania real ao seu povo.
No Brasil, essa lógica se atualiza em formas renovadas de submissão, seja ao imperialismo, seja às elites internas que temem um país que deseja ser dono de si em sua totalidade plural. A soberania nacional, como a do sujeito, não se ergue contra os outros, mas diante de si mesmo, onde o conflito não é um sintoma de fracasso, senão, antes, uma condição da liberdade e da convivência democrática.
Neste mesmo registro, a função do jornalismo, enquanto operador simbólico da esfera pública, deveria ser a de manter aberto o campo do dissenso, sustentando o debate, investigando o poder e ampliando o alcance do que é dito e escutado em uma sociedade. No entanto, a história da imprensa brasileira é marcada por uma concentração oligárquica nas mãos de poucas famílias que transformaram concessões públicas em instrumentos privados de influência política, econômica e ideológica. Durante os períodos mais sombrios da República, da censura no Estado Novo ao seu apoio desavergonhado à ditadura civil-empresarial-militar, parte significativa da imprensa brasileira não apenas se omitiu, mas atuou ativamente contra a soberania nacional.
Isso, contudo, não invalida o trabalho de inúmeros jornalistas que, mesmo dentro das limitações impostas por seus empregadores, insistem em exercer com rigor, coragem e ética o ofício de narrar o real. Para tanto, muitos escrevem entre linhas, insinuam onde não podem afirmar os fatos conhecidos daqueles atentos, investigam até onde o silêncio corporativo permite. É nesse entre-lugar, entre a estrutura e a ruptura, que ainda pulsa a possibilidade de uma imprensa crítica no oligopólio midiático, não como um ideal abstrato, mas como uma prática concreta de resistência simbólica. Afinal, não há soberania sem discurso livre, mas também não há liberdade sem responsabilidade sobre o que se escreve, publica e, sobretudo, se silencia.
A soberania nacional
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Estas são as linhas fundamentais da Constituição Federal de 1988, que têm a soberania no topo. O artigo 1ª é uma cláusula pétrea implícita, por isso, ele não pode ser abolido ou alterado por emendas constitucionais. Ainda que nenhum princípio constitucional, juridicamente, se sobreponha ao outro, a escolha por elencar a soberania em primeiro lugar no rol do art. 1º diz da sua condição sine qua non para o poder constituinte originário e do seu caráter condicionante dos demais princípios constitucionais.
A soberania nacional é o alicerce silencioso sobre o qual se ergue qualquer projeto de futuro que não se curve aos interesses alheios. Ela não é apenas um princípio jurídico ou um jargão diplomático, mas a expressão concreta da possibilidade de um povo decidir o seu destino com autonomia, sobre suas riquezas, suas instituições, sua história. Defender a soberania não é reproduzir um mero discurso ou incorrer em um falso e repugnante patriotismo.
Antes, de uma perspectiva internacionalista e humanista, sua defesa consiste na recusa de que decisões vitais que afetam a vida de todos os nascidos ou que residam no país sejam tomadas em escritórios estrangeiros. A afirmação de que a dignidade de uma nação e do seu povo reside na capacidade de se governar sem tutelas. Sem soberania, a democracia torna-se uma triste encenação, onde se vota livremente dentro de escolhas já previamente decididas e construídas por forças externas e, via de regra, com a cumplicidade submissa e a ajuda das mais poderosas forças nacionais que controlam os fluxos financeiros e informacionais.
Muito mais do que somente as quatro linhas propaladas pelo ex-presidente em prisão domiciliar (neste momento) e réu por vários crimes contra o Estado Democrático de Direito, no jogo da história brasileira foram inúmeros os ataques à soberania nacional, sobre os quais tento tratar nesta breve anamnese histórica e sociológica.
Hoje
Apesar da quantidade dos ataques em nossa história, salta aos olhos o descaramento daqueles que hoje levantam bandeiras de nações estrangeiras para atacarem o próprio país e o próprio povo. Este ineditismo desloca a posição funcional e servilista dos setores golpistas da imprensa nacional, os colocando em uma saia justa.
Nas últimas semanas, enquanto alguns colunistas acusam o governo federal de subir no palanque, do qual os aliados brasileiros, midiáticos e políticos, de Donald Trump nunca desceram, a próxima jogada para que o presidente Lula não seja reeleito, ou para que não seja reeleito com uma margem de votos que o fortaleça demais em uma eventual reeleição, começa a ser armada. Evidentemente, mira-se também na composição da correlação de forças no Congresso em busca do parlamentarismo perdido. Neste 2025, a melhora de absolutamente todos os indicadores econômicos associada à explicitude da destruição criminosa provocada pelo governo anterior exige um esforço, no entanto, que não deixa muito espaço ao mascaramento de tais interesses.
Para os barões da imprensa relevante, aqueles que defendem a soberania nacional, atacada explicitamente e de forma inédita pelos Estados Unidos, costumam ser tratados como agentes muito perigosos, já que desafiam o nexo histórico entre os interesses da elite nacional da qual são parte e aqueles do imperialismo. Isto, claro, não exclui os grupos abertamente alinhados ao extremismo, como a Jovem Pan, e a CNN Brasil, emissora estadunidense que resolveu cortar os intermediários internos para doutrinar diretamente a classe média com as suas diretrizes emanadas diretamente de Atlanta.
Seguindo um enfadonho e previsível movimento político pré-eleitoral, que nos últimos anos – de legitimação do extremismo no debate público – derrubou de suas páginas, entre tantos, Xico Sá, Gregório Duvivier, Maria Rita Kehl, Cristina Serra e Janio de Freitas, o oligopólio da mídia começa a sua orquestração eleitoral para 2026. Desnecessário dizer que tal movimento é para construir a candidatura da oposição, fragilizada em sua psicose política autoritária, mesmo com a propulsão oferecida pelas Big Tech e com a sua devastadora máquina de mentiras nas redes virtuais.
Veja a força necessária ao grande capital para que ele consiga ressignificar a trajetória nacional e impor os seus interesses sobre a Constituição Federal. Mais, perceba como tamanho esforço e financiamento sistemático, ao longo de décadas – das manipulações sutis e diárias na adoção de termos, no jornalismo econômico, em manchetes, àquelas grotescas, como no debate entre Lula e Collor, em 1989 -, revela a enorme dimensão da representação do Partido dos Trabalhadores e de Lula no imaginário popular e na história brasileira, enquanto representantes possíveis dos vastos interesses populares. Relembremos que o partido de centro-esquerda (que sempre governou o executivo nacional como um partido de centro que minimamente fez a gestão do capital com políticas inclusivas da social-democracia), desde que chegou à presidência da república, em 2003, só não esteve no executivo nacional entre o golpe parlamentar-midiático de 2016, em Dilma Rousseff, e aquele que levou Jair Bolsonaro ao poder, com a prisão ilegal de Lula por Sérgio Moro.
Essa é a histórica e única polarização na política brasileira. De um lado, aqueles que defendem a soberania nacional e a democracia, do outro, aqueles que as atacam, explicitamente ou sutilmente e diariamente.
No entanto, a costumeira antecipação eleitoral por parte destes setores que jamais saíram dos palanques, ao reorganizar os seus quadros de jornalistas a um ano do início das campanhas, desta vez é necessária como uma medida de sobrevida ao seu modelo de negócios (fragilizado pelas Big Techs), uma vez que o campo da direita entreguista está cada vez mais queimado na encruzilhada entre os seus bonés do MAGA, bandeiras dos Estados Unidos e de Israel e os interesses do capital produtivo nacional, afetados pelas sanções impostas à economia brasileira através do bolsonarismo. A novidade, com a qual o oligopólio midiático tem que lidar em sua missão, é a arrogância ignorante de Trump que fraturou o histórico campo do golpismo nacional.
Na última semana a GloboNews demitiu Eliane Cantanhêde, ícone do tucanato elitista. Jornalista que jamais cairia se não tivesse resvalado no lobby sionista que blinda, na imprensa ocidental, o neonazismo israelense. Ressalte-se a irrelevância do PSDB após abrir as portas da política institucional, em 2014, ao neofascismo reorganizado nas ruas a partir da engenharia social posta em marcha a partir de 2013. Partido, agora dissolvido na própria extrema-direita, enquanto representante desinvestido do ideal falido da emissora de um servilismo pacífico que, no entanto, ainda precisa fazer jornalismo com uma certa credibilidade para não perder ainda mais a sua relevância cultural. Enquanto atua como um tipo de sucursal do deep state dos Estados Unidos, o grupo Globo precisa continuar a defender os interesses do sistema financeiro (“o” mercado) e do ‘agro’ que o patrocinam.
Nos últimos dias foram demitidos, também, Mauro Paulino (referência em análise de pesquisas eleitorais, ex-diretor do Datafolha) e Daniela Lima, que chegou com status de estrela em 2023, mas logo mostrou que não relativizaria o neofascismo brasileiro e os seus tantos crimes, o que, talvez, iria no sentido contrário ao hercúleo trabalho que o oligopólio midiático nacional terá para reorganizar a direita ultraliberal a tempo do próximo pleito presidencial. Esse é o papel político fundamental da TV Globo desde o início de sua operação, em 1965, perpassando pelas construções eleitorais de Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e, finalmente, Jair Bolsonaro. Claro, ainda houve a fabricação da massificação das Jornadas de Junho, a louvação acrítica à Lava Jato, ao Sérgio Moro, e a consequente prisão ilegal de Lula, para tirá-lo da eleição de 2018, mas este é um capítulo fresco do ataque à soberania nacional e das tantas intervenções do Departamento de Estado dos Estados Unidos na história brasileira.
Note que Daniela Lima, Mauro Paulino e Eliane Cantanhêde não se tratam de Rosa Luxemburgo, Lênin e Pagu. São tão somente profissionais que, fazendo jornalismo, quebraram alguns dos ovos nos quais pisam, diariamente, os jornalistas que precisam trabalhar no oligopólio midiático brasileiro. Não faltam estudos de historiadores e relatos pessoais de jornalistas sobre os bastidores deste poderoso universo, como os livros O Caso Veja: O Naufrágio do Jornalismo Brasileiro, de Luís Nassif, O Quarto poder, de Paulo Henrique Amorim, A Serviço da Repressão, Grupo Folha e Violações de Direitos Humanos na Ditadura, de Ana Paula Goulart Ribeiro et al., Jornalismo Sitiado, de Eugênio Bucci, Cães de Guarda: Jornalistas e Censores, do AI-5 à Constituição de 1988, livro e tese de doutorado de Beatriz Kushnir, e o essencial documentário Muito Além do Cidadão Kane, de Simon Hartog, exibido no Channel 4, emissora pública britânica.
Neste momento de profunda transformação na geopolítica e de um grave ataque à soberania nacional, retomo, assim, aos mais jovens, um pouco da imbricada história da imprensa com a política brasileira. Fundamentalmente, porque o jornalismo é essencial, sobretudo, em um mundo que será cada vez mais tomado pelos algoritmos das Big Techs. Há muitos jornalistas sérios e que praticam o seu ofício com devoção e excelência. Trato aqui, da utilização do jornalismo, inclusive da credibilidade conquistada por estes profissionais, para a construção de projetos políticos e econômicos nos quais se inscrevem os donos destas grandes empresas, a partir de manipulações e sutilezas que poucos notaram na história nacional enquanto ocorriam verdadeiros crimes contra a democracia e a soberania nacional. Que este não seja o caso novamente.
De certa forma, tudo o que se possa escrever sobre a moderna soberania brasileira invariavelmente remeterá a figura de Getúlio Vargas, em todas as suas contradições.
Getúlio Vargas e o imperialismo
A trajetória de Getúlio Vargas no poder é uma trilha sinuosa entre o autoritarismo e o parto de um Brasil moderno, inclusivo e democrático, a fórceps. Assumindo o poder em 1930, por meio de um golpe que rompeu com a ordem da República Velha – período iniciado com a proclamação da República, em 1889, e marcado pela hegemonia das oligarquias agrárias de São Paulo e Minas Gerais, na política do café com leite -, Vargas conduziu o país primeiro sob o manto da Revolução, instaurando um governo provisório que mais tarde se converteria no Estado Novo, regime ditatorial consolidado em 1937, no qual o culto a sua figura se entrelaçou com a censura, o autoritarismo e um projeto ambicioso de modernização nacional inclusiva. Foi nesse intervalo que se fincou a base para um Brasil urbano-industrial. Ele criou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o salário mínimo, o direito à carteira assinada, as férias remuneradas, a previdência social, a jornada de oito horas diárias. Conquistas que, no escopo do controle político, inseriram o trabalhador no léxico do Estado.
Vargas também fundou a Justiça do Trabalho, a Petrobras, o Conselho Nacional do Petróleo, o SENAI e o sistema de ensino técnico-industrial, estruturando os alicerces de um projeto de nação soberana e menos dependente das forças externas.
Deposto em 1945, ele retornou nos braços do povo pelo voto popular, em 1951, agora sob as regras da democracia, mas trazendo consigo as tensões não resolvidas do passado. No segundo governo, mergulhado em conflitos com a elite econômica e com o imperialismo, que não perdoam a tentativa de articular capital e trabalho em torno de um projeto desenvolvimentista, Vargas enfrentou uma crise crescente. Nele, ele aprofundou a sua política nacionalista para setores estratégicos da economia, sobretudo o petróleo e a siderurgia, o que o colocou em rota de colisão com os interesses dos Estados Unidos, que viam com crescente inquietação a criação da Petrobras e as tentativas de proteger o capital nacional da voracidade estrangeira. A imprensa, em grande parte financiada ou aliada a grupos empresariais que orbitavam Washington, converteu-se em instrumento dessa pressão externa, atacando o governo com editoriais implacáveis que acusavam Vargas de demagogia, corrupção e autoritarismo.
Nos bastidores da Guerra Fria, enquanto Getúlio Vargas enfrentava o cerco de uma imprensa cada vez mais hostil às suas políticas nacionalistas, especialmente em relação ao petróleo e à criação da Petrobras, estava em curso silenciosamente a Operação Mockingbird, um programa da CIA que cooptava jornalistas e veículos de imprensa ao redor do mundo para difundir narrativas alinhadas aos interesses dos Estados Unidos. Embora voltada inicialmente ao controle da opinião pública interna, sua ação irradiava-se também sobre a América Latina, abastecendo linhas editoriais que atacavam líderes considerados “inconvenientes”. Assim, o desgaste de Vargas na mídia não se explicava apenas por antagonismos internos, mas por uma engrenagem transnacional de persuasão ideológica.
Conforme o artigo de Thaís Battibugli, Political Culture of the Cold War in Brazil (1947-1964), publicado pelo Woodrow Wilson Center, naquele período, artigos, editoriais, reportagens, notas culturais, infográficos, charges e colunas inteiras, produzidos ou adaptados pelo USIS (United States Information Service), órgão vinculado à USIA (United States Information Agency) e subordinado ao Departamento de Estado dos EUA, foram publicados, entre outros, pelos jornais O Tempo, Folha da Manhã, Correio Paulistano, O Estado de S. Paulo, O Globo e o Jornal do Comércio.
A tensão, no fim da Era Vargas, atingiu o seu ápice após o atentado da Rua Tonelero contra Carlos Lacerda, envolvendo o chefe de segurança de Getúlio. A imprensa, sobretudo veículos como o jornal O Globo (ainda não era emissora de televisão), O Estado de S. Paulo e a Tribuna da Imprensa (cujo dono era Lacerda), operou como ponta de lança do cerco político que exigia a sua renúncia. Ainda assim, Vargas resistiu, não com tanques, mas com palavras. Sua carta-testamento, lida ao povo pelo rádio logo após o seu suicídio, inverteu a correlação de forças. Os que o chamavam de tirano viram-se, de súbito, na posição de algozes. E o que a imprensa não conseguiu durante anos de campanha, Getúlio realizou em um único gesto. Retirou-se da vida para entrar no imaginário popular.
Seu suicídio, em 24 de agosto de 1954, desestabilizou o cerco às suas políticas e entregou o país, atônito, à presidência interina de Café Filho, cuja breve presidência simbolizou o trauma político de uma nação sem chão. Os princípios da soberania nacional e do desenvolvimentismo caíram na corrente sanguínea nacional e, desde então, esse se configurou como o cerne do conflito político-econômico-midiático no Brasil.
Soberania nacional e desenvolvimentismo
Em 3 de outubro de 1960, Jânio Quadros (PTN) foi eleito presidente da república, com o apoio da UDN, vencendo o marechal Henrique Lott. Indicado pela situação, Lott havia garantido a posse de Juscelino Kubitschek (PSD) em 1956, ameaçada por setores militares e pela oposição que questionou o resultado eleitoral de 1955. Conhecem essa história? O plano de governo de Kubitschek, apelidado de 50 anos em 5, era centrado no desenvolvimento econômico e social. Foi ele quem tirou a capital federal do Rio de Janeiro ao construir Brasília.
A União Democrática Nacional (UDN) foi um partido político brasileiro, fundado em 1945 (ano do término da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos começam a ampliar sua influência no ocidente, sobretudo nas Américas que julgam ser o seu quintal desde a Doutrina Monroe, estabelecida em 1853), que se caracterizou pela oposição frontal a Getúlio Vargas e ao seu governo nacionalista e desenvolvimentista. A UDN defendia ideias conservadoras e liberais e era formada por uma coalizão de partidos estaduais e grupos midiáticos contrários ao regime varguista, cujo maior expoente era o jornalista Carlos Lacerda, fundador-proprietário do jornal Tribuna da Imprensa e então governador do estado da Guanabara. O estado da Guanabara foi uma unidade federativa do Brasil que existiu somente de 1960 a 1975, abrangendo apenas a cidade do Rio de Janeiro, após a transferência da capital federal para Brasília. Em 1975, ele foi extinto e incorporado ao estado do Rio de Janeiro.
Contudo, na eleição de 1960, Jânio Quadros não conseguiu eleger o candidato a vice-presidente da sua chapa, já que naquela época votava-se separadamente para presidente e vice. O vice eleito foi João Goulart (Jango) (PTB), que havia sido ministro do trabalho de Getúlio Vargas. Em seu breve governo, Jânio desenvolveu a Política Externa Independente (PEI), que redesenhou o horizonte da inserção internacional do Brasil. Já não se tratava de alinhar-se maquinalmente aos ditames de potências hegemônicas, mas de ensaiar, com sobriedade estratégica, uma nova coreografia nas relações exteriores, pautada na autonomia e na multiplicidade de interlocuções geopolíticas.
O Brasil continuava a buscar relações diplomáticas e comerciais com todas as nações dispostas ao convívio pacífico, deslocando-se do eixo binário da Guerra Fria para um campo de atuação mais complexo e soberano. Tal ousadia, no entanto, despertou resistências previsíveis, não apenas o governo estadunidense reagiu com desconforto, mas também setores conservadores da política interna, notadamente figuras da UDN, para quem Jânio fora apenas um instrumento provisório para interditar a ascensão do Marechal Lott. A PEI não apenas contrariava interesses consolidados, mas insinuava a possibilidade herética do getulismo, a de que o Brasil poderia dizer “não” sem romper, afirmar-se sem confrontar e existir no mundo como voz própria sem ser satélite ou refém de uma potência.
Seu governo durou somente 7 meses. A renúncia se deveu às “forças ocultas” (na verdade, ele disse “forças terríveis”). De fato, o mesmo conjunto de grupos e interesses que levaram Vargas ao suicídio e que trabalhou para minar o seu governo e forçar a sua saída do cargo. Essas forças incluíam setores da imprensa, parte das Forças Armadas e políticos conservadores que se opunham à PEI. Entretanto, o seu vice-presidente João Goulart, ex-ministro de Getúlio, definitivamente não interessava às forças golpistas.
As pequenas rádios e a resistência
Assim, ainda em 1961, Leonel Brizola (PTB), então governador do Rio Grande do Sul, criou a campanha da legalidade, formada por dezenas de emissoras de rádio, na qual ele convocava os brasileiros a lutarem pela legalidade e a defenderem a Constituição, como uma resposta aos militares que tentavam impedir a posse de Jango, que estava em missão na China quando Jânio renunciou. No Rio de Janeiro, o próprio marechal Lott divulgou um manifesto em defesa da ordem institucional e acabou preso. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumira interinamente o cargo até o seu regresso. Dois dias depois, porém, Mazzilli informou ao Congresso que os ministros militares não aceitariam a posse de João Goulart na presidência. Eles exigiam que o Legislativo declarasse o impedimento de Jango e ameaçavam prendê-lo assim que ele pusesse os pés no Brasil.
Segundo o Memorial da Democracia,
a “cadeia da legalidade” ficaria no ar ininterruptamente, retransmitida para outras 150 emissoras do país, incitando à resistência e promovendo mobilizações pela democracia em vários estados. Brizola pôs a Brigada Militar de prontidão, arregimentou e armou voluntários e até os funcionários do palácio do governo. Os ministros militares ainda ordenariam o bombardeio ao Piratini, mas sargentos da base aérea de Canoas esvaziaram pneus e desarmaram os aviões que seriam usados no ataque. Quando o comandante do 3º Exército, José Machado Lopes, entrou no palácio do governo com seu estado-maior, foi para se incorporar à resistência. Com a adesão do contingente da maior força militar do país, Brizola passaria a ter ao seu lado, na defesa de Jango, 40 mil soldados do Exército, 13 mil homens da Brigada Militar e 30 mil voluntários armados. E as transmissões radiofônicas ainda mantinham nas ruas uma multidão mobilizada. A resistência gaúcha receberia adesões pelo país afora. O governador de Goiás, Mauro Borges, arregimentou voluntários para formar um “exército da legalidade”, e mandou avisar a Jango que essas forças garantiriam sua chegada a Brasília, por terra, a partir de Goiânia, se assim fosse preciso. A União Nacional dos Estudantes (UNE) transferiria sua sede para Porto Alegre, e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se manifestaria firmemente contra o golpe. O movimento pela legalidade liderado por Brizola derrotaria a estratégia da “junta governativa” informal formada pelos ministros militares — Odilo Denys (da Guerra), Sílvio Heck (Marinha) e Gabriel Grün Moss (Aeronáutica). Se estes quisessem se opor à posse de Jango, teriam que medir forças com o 3º Exército e enfrentar civis dispostos a resistir.
Parlamentarismo ou Golpe
Antevendo que não teriam forças, os golpistas propuseram, então, que Jango tomasse posse, mas num regime parlamentarista. O eterno projeto para o Brasil, para que os lobbies externos do grande capital comandem de vez o país e para que o seu voto, caro leitor, seja cada vez mais insignificante, sempre está no horizonte.
A propósito, um breve aparte àqueles democratas que se preocupam com o Brasil pós Lula. Não deixa de ser notável a perícia com que transita na política nacional, sem ser mencionado pelos jornais, o grande estrategista do Centrão, fundador e presidente do PSD (que, apesar de não ser, se vende como o herdeiro do PSD de Juscelino Kubitschek), Gilberto Kassab. Ele é o verdadeiro inventor político de Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem é, atualmente, Secretário Estadual de Governo e Relações Institucionais. Kassab é o influente articulador que tenta fantasiar o extremismo com roupas de civilidade e harmonizá-lo com os interesses econômicos que sustentam esse mesmo extremismo.
Voltando à história, após a renúncia de Jânio Quadros, Jango fez um longo trajeto de volta, à espera de que a situação se definisse. Próximo ao término do retorno, parou em Montevidéu, onde o deputado Tancredo Neves (PSD), avô do tucano Aécio Neves – que destampou o bueiro em 2014 -, o esperaria a fim de convencê-lo aceitar a solução parlamentarista. Na noite de 1º de setembro de 1961, Jango voltou a Porto Alegre para informar a um inconformado Brizola que havia decidido aceitar a solução parlamentarista. Horas depois, já na madrugada do dia 2, o Congresso votaria a emenda que mudaria o sistema de governo.
No percurso de Porto Alegre a Brasília, Goulart ainda estaria sujeito a ameaças da Força Aérea Brasileira (FAB). Existia um plano para abater seu avião em pleno voo, mas os sargentos haviam sabotado os caças da base aérea de Canoas que fariam o serviço. Por outro lado, em Brasília, oficiais da FAB encheram de tonéis a pista da base aérea, visando impedir o pouso do avião que traria o vice-presidente, porém o chefe da Casa Militar, Ernesto Geisel, reagiu: “Já que os senhores [ministros militares] resolveram dar posse, ele toma posse” — e mandou liberar a pista.
O Brasil adotou a figura do primeiro-ministro, Tancredo Neves (PSD), e a autoridade do presidente foi podada. Jango se submeteu a tal arranjo para evitar uma guerra civil. A adoção do novo sistema exigiu uma mudança na Constituição. A emenda, conhecida como Ato Adicional, foi votada às pressas no Senado e na Câmara. Jango, por fim, tomou posse em 7 de setembro de 1961.
Enquanto Brizola continuava promovendo a campanha da legalidade, em maio de 1962, Jango pronunciou, em Volta Redonda, um discurso em favor das Reformas de Base e do retorno ao presidencialismo. O discurso seria entendido como um afastamento de Jango de seu próprio primeiro-ministro. No mês seguinte, em bloco, o gabinete liderado por Tancredo se demitiria.
O discurso da Central do Brasil, proferido por João Goulart em 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro, marcou o auge daquela tensão política. Diante de cerca de 200 mil pessoas, ele defendeu a implementação imediata das Reformas de Base, um conjunto de medidas que incluía reforma agrária, reforma urbana, reforma fiscal, controle da remessa de lucros das multinacionais e ampliação dos direitos trabalhistas. No discurso, criticou as elites conservadoras e a dependência econômica externa, afirmando que o Brasil não poderia manter “meia dúzia de privilegiados” em detrimento da maioria do povo. Emparedado pelas mesmas forças que levaram Vargas ao suicídio, tentaram o golpe contra a posse de Kubitscheck, levaram Jânio à renúncia e tentaram o golpe fracassado de 1961 contra a própria posse, Jango, ao assinar, no evento, decretos como a encampação de refinarias particulares de petróleo e a desapropriação de terras improdutivas às margens de rodovias e ferrovias, o presidente, que também era fazendeiro, assumiu uma posição mais firme contra setores empresariais e latifundiários.
Dias depois, a marinha dos Estados Unidos acionou a operação “Brother Sam”, um plano para apoiar o golpe militar no Brasil, caso houvesse resistência. Essa operação, planejada previamente, foi ativada após o início do golpe e visava fornecer apoio logístico aos militares golpistas, com o envio de navios e aeronaves com suprimentos e combustível, caso houvesse resistência. Às 13h50 de 31 março de 1964, o comando militar dos EUA enviou ao Brasil um porta-aviões e dois destróieres, além de um grupo de apoio de helicópteros embarcados em outro navio, acompanhado de quatro destróieres. Devido à velocidade do golpe, a marinha americana retornou ao império em pouco tempo.
O presidente João Goulart, como se sabe, demoveu o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que defendia a resistência armada. Goulart lhe disse que aquilo que os Estados Unidos mais desejavam naquele momento seria dividir o país entre um Brasil do norte e um Brasil do sul, como haviam feito com o Vietnã, em 1954.
Jango e Brizola exilaram-se no Uruguai. O presidente posteriormente viveria na Argentina, onde, possivelmente, foi assassinado no contexto da Operação Condor, uma aliança clandestina entre as ditaduras militares da América do Sul, criada nos anos 1970 para coordenar ações de repressão, vigilância e assassinato de opositores políticos. Participaram ativamente os regimes do Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia, com apoio indireto dos Estados Unidos, especialmente através da CIA. Como se sabe, todos os grandes grupos de mídia apoiaram o golpe de 1964, assim como o golpe de 2016 e o golpismo continuo da Lava Jato até à eleição de Jair Bolsonaro. Infelizmente, não deixa de ser irônico que alguns deles passaram, então, a serem atacados pelos partidários do neofascismo e demais habitantes do Brasil Paralelo da Terra plana, suas crias, por serem “comunistas”. Brizola retornaria ao Brasil após a promulgação da Lei da Anistia, em 1979. Ele foi eleito governador do Rio de Janeiro em 1983 e 1991. Já em um contexto democrático, Leonel Brizola realizou diversas obras importantes, com destaque para o programa de construção de escolas, os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) e também se tornou o inimigo número um de Roberto Marinho e, consequentemente da Rede Globo e de parte do país. Esta história conta com um direito de resposta antológico de Brizola lido por Cid Moreira, no Jornal Nacional.
Jango tinha 70% de aprovação às vésperas do golpe de 64. Lula, ao término do seu segundo mandato, em 2010, tinha 87%. Em março de 2013, a aprovação de Dilma Rosseff era de 79%. Então, iniciou-se a engenharia social no Brasil, orientada pelos Estados Unidos, com o histórico apoio de setores da elite e do oligopólio midiático nacional, mas com o crescente protagonismo das Big Tech, no contexto das guerras híbridas. Às vésperas do golpe de 2016, o governo Dilma era aprovado por 10%. O neofascismo brasileiro foi organizado na cultura e alçado ao poder, fez o que fez. Hoje, o governo Lula é aprovado por 50,2% e 19% dos brasileiros apoiam o ataque à soberania nacional que busca, entre outras coisas, livrar a cúpula da quadrilha neofascista da justiça.
A Rede Globo
Enquanto o Brasil atravessava o esgarçamento institucional que culminaria no golpe civil-empresarial-militar de 1964, o surgimento da TV Globo não se deu como um simples movimento empresarial ou técnico. Pelo contrário, sua origem esteve profundamente articulada a um processo de erosão da soberania nacional, em que interesses dos Estados Unidos encontraram terreno fértil para intervir na conformação do imaginário público brasileiro, através de uma concessão estratégica no campo da comunicação de massa.
A concessão do canal 4 no Rio de Janeiro à Rádio Globo, formalizada em 1957 pelo governo de Juscelino Kubitschek, deu início à montagem de uma estrutura televisiva que só se tornaria operacional em 1965, já sob os auspícios da ditadura recém-instalada. Esse lapso de tempo é revelador, já que a concretização do projeto dependia de recursos que vieram, decisivamente, do exterior. Durante o governo de João Goulart, em 1962, Roberto Marinho firmou um acordo com a Time-Life Broadcasting System Inc., braço televisivo da Time Inc., grupo editorial fundado por Henry Luce, uma das figuras mais influentes da mídia global no século XX.
Luce não era apenas um empresário da imprensa. Ele era o ideólogo do chamado American Century, conceito formulado por ele em 1941 e amplamente difundido em suas publicações, especialmente nas revistas Time e Life. O “século americano” não era apenas uma afirmação de poder bélico ou financeiro, mas uma doutrina de supremacia cultural, moral e ideológica dos Estados Unidos sobre o mundo ocidental. Ela era não só a repaginação, mas a expansão da Doutrina Monroe. Em plena Guerra Fria, sua atuação se entrelaçava com os projetos da política externa estadunidense, conferindo à mídia o estatuto de arma estratégica. A Time-Life, nesse contexto, operava como instrumento de penetração simbólica nos países periféricos, travando uma guerra silenciosa por corações e mentes.
No Brasil, essa ofensiva se materializou no acordo firmado com as Organizações Globo. Foram investidos US$ 6 milhões, uma cifra astronômica para os padrões da televisão brasileira, por exemplo, quase vinte vezes o montante investido na concorrente, a TV Tupi. Em troca, a Time-Life assegurou-se de receber 30% dos lucros líquidos e 3% da receita bruta, além de impor cláusulas que lhe conferiam poder de veto sobre decisões estratégicas, acesso total à contabilidade da emissora e o controle indireto sobre sua orientação administrativa. O executivo Joseph Wallach foi designado para comandar a operação no Brasil, garantindo a implementação de um padrão televisivo alinhado aos valores da mídia estadunidense.
Esse contrato violava frontalmente a Constituição brasileira, que proibia a participação de capital estrangeiro em empresas de radiodifusão. A ilegalidade do arranjo levou à instauração de uma CPI, que, embora tenha confirmado o crime, não gerou qualquer punição efetiva. O pacto permaneceu em vigor até ser desfeito, discretamente, entre 1969 e 1971, já sob o amparo do regime ditatorial, quando a Globo, com financiamento de bancos públicos brasileiros, adquiriu a parte da Time-Life e consolidou a sua hegemonia na televisão nacional.
Mais do que uma alavanca empresarial, a parceria representou uma violação à soberania informacional e cultural do país. A instalação da TV Globo sob a tutela estrangeira inseriu-se em uma lógica geopolítica em que a formação da opinião pública nacional foi submetida aos interesses estratégicos de uma potência imperial. A televisão, longe de ser apenas um veículo de entretenimento, passou a funcionar como instrumento de colonização simbólica, adaptando linhas editoriais, valores, discursos e estéticas de acordo com os ditames de uma guerra ideológica alinhada aos Estados Unidos.
Nesse sentido, a ascensão da TV Globo não pode ser dissociada da arquitetura de poder que sustentou a ditadura militar. Seu crescimento meteórico, consolidando-se como uma emissora oficial do regime, beneficiária de verbas públicas, concessões e blindagem institucional, decorre diretamente de sua gênese como peça-chave em um projeto de dominação cultural. O que se desenhou, ali, foi uma aliança entre elites empresariais locais e interesses transnacionais, em que a Globo serviu como elo essencial entre o capital estrangeiro e a formação de consensos internos que naturalizassem a ordem autoritária.
A televisão brasileira, ao invés de espelho da pluralidade nacional propalada, foi moldada como plataforma de internalização do olhar estrangeiro sobre o país. O projeto Time-Life/Globo foi, portanto, um verdadeiro ataque à soberania comunicacional do Brasil, cujos efeitos ainda reverberam no oligopólio midiático da qual ela é o agente principal.
Na última reunião do Copom, em 30 de julho, Gabriel Galípolo ainda manteve o assombroso índice da taxa Selic contratado por Roberto Campos Neto no final do seu mandato, em 2024, de 15%, consolidando a tentativa de sequestro da economia nacional pelo rentismo. João Roberto Marinho, José Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho contam com uma fortuna de R$ 51 bilhões. No ano passado, o mesmo patrimônio era de R$ 35,4 bilhões. Eles, as demais famílias do oligopólio midiático e Donald Trump pretendem ampliar os ganhos dos interesses que defendem e, para tanto, precisam ampliar o fosso do grotesco no Congresso nacional, em busca do parlamentarismo perdido. Eles estão à procura de um opositor para Lula em 2026 e candidatos não faltam.
Preparem-se.
Fábio C. Zuccolotto é psicanalista clínico, cientista social e escreve no Café com Pepino.
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