Vamos juntar os pontos.

  1. Quando há um aquecimento do mercado de trabalho, os primeiros beneficiários são os trabalhadores autônomos. Os efeitos da melhora se manifestam imediatamente, enquanto os celetistas dependem de dissídios salariais e das dificuldades das empresas empregadoras com o custo do dinheiro e dos tributos.
  2. Quando o mercado desaquece, os celetistas são mais protegidos aí, mas em um modelo de proteção que vem sendo desmontado, tijolo a tijolo, pelo Supremo Tribunal Federal. E o desemprego é compensado pelo trabalho em aplicativos.
  3. Ao mesmo tempo, o discurso do empreendedorismo individual, trazido especialmente por ramos influentes das religiões evangélicas, ganhou corações e mentes da população de baixa renda, muitas vezes glamurizando até o bico.

Esses fatores desenham um novo quadro político para o país, que Lula não está sendo capaz de compreender.

As políticas sociais perderam força política. Em parte, porque já são tratados como direito assegurado. Em parte porque a crise fiscal, os limites impostos pelo torniquete das metas inflacionárias, impedem qualquer aumento substancial das benesses. Finalmente, porque é hora de se dar um passo à frente das políticas paternalistas, essenciais no estágio inicial de combate à fome.

O momento atual exige a consolidação de uma cultura política de fortalecimento da união dos pequenos empreendedores. O país tem todos os elementos à mão. Tem o mais difícil: a existência de organizações de pequenos espalhadas por todo o país, de cooperativas a Associações Comerciais, Movimento dos Sem Terra, sistema S.

Tem bancos públicos com linhas de financiamento para os pequenos, do BNDES aos trabalhos históricos do Banco do Nordeste do Brasil.

Tem as novas ferramentas tecnológicos integrando empresas de todo o país. Um dos grandes esforços dos Centros de Indústria, seja na Confederação Nacional da Indústria ou nas federações estaduais, tem sido a ampliação da digitalização das pequenas empresas.

O próprio Estado brasileiro avançou em ótimos sistemas digitais, não apenas facilitando serviços das PMEs, mas permitindo ao governo trabalhar suas bases de dados.

Esses são os novos atores do desenvolvimento, capazes de permitir um salto no mercado interno, na geração de riqueza, no desenvolvimento do empreendedorismo saudável.

E há lideranças em todo o espectro político para montar essa frente, de Guilherme Afif Domingos, pela direita, a João Pedro Stédile, pela esquerda.

É hora de montar grupos de trabalho para discutir a inserção das PMEs na Nova Indústria Brasil, nos modelos de garantia de crédito, nos arranjos produtivos locais e digitais, nos grupos de compra do pequeno comércio.

A bola está quicando na área para Lula chutar. 

O sindicalismo continuará sendo uma frente de organização relevante entre o país formal, os trabalhadores de grandes corporações. O empreendedorismo organizado será o caminho para conquistar a adesão dos excluídos, o enorme contingente que se vira em bicos ou no pequeno comércio, artesanato e até nas plataformas.

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Last Update: 01/07/2025