Em um momento decisivo para o Brasil e o mundo, esta edição expõe três frentes de tensão que moldam o presente e projetam um futuro cada vez mais incerto.
No Brasil, o agronegócio segue como o setor mais incentivado da economia, entre isenções fiscais e juros subsidiados. Apesar da montanha de benesses financiadas pelos cofres públicos, o campo gera poucos empregos e paga impostos de menos, enquanto seus representantes no Congresso tornaram-se a principal força de obstrução dos avanços ambientais e da justiça fiscal. Na noite da quarta-feira 25, a Bancada do Boi participou ativamente da operação para impor uma derrota acachapante ao presidente Lula e ao ministro Fernando Haddad na derrubada do decreto do IOF. Nos próximos dias, o governo vai anunciar o novo Plano Safra e a frente ruralista exige 600 bilhões de reais, quase 50% a mais do que no ano passado. Com seu peso político e capacidade de pressão é essa mesma turma que cristaliza o retrocesso e bloqueia a possibilidade de um pacto social justo e sustentável.
Enquanto isso, o Bolsa Família contradiz outra casta de perversos, os preconceituosos que insistem em afirmar que os beneficiários são vagabundos, viciados no programa. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged, contradizem o clichê de quem desconhece a matéria e prefere seguir o discurso de políticos de direita ou dos jornalões desinformados. Dados oficiais mostram que 98% dos empregos formais criados no ano passado foram preenchidos por inscritos no CadÚnico, dos quais 75% recebem o auxílio. Essa história de dizer que no Bolsa Família ninguém quer trabalhar é uma falácia, diz Luiz Carlos Farias, secretário de Inclusão Socioeconômica do Ministério do Desenvolvimento Social. “Ninguém quer passar a vida toda dependendo do governo. As pessoas apenas querem uma oportunidade para sair da condição de pobreza. São pessoas qualificadas que só precisam de uma oportunidade.” A partir de julho, o governo propõe ajustes para manter o programa sustentável, reduzindo para um ano o período de transição para quem ingressa no mercado de trabalho. A medida exigirá sacrifícios justamente dos que mais precisam.
No cenário internacional, a escalada de tensões no Oriente Médio ganha novos contornos, agora com a guerra de bravatas entre Estados Unidos, Israel e Irã ameaçando desdobrar-se, mais uma vez, em uma tragédia de proporções imprevisíveis. Embora Donald Trump e Benjamin Netanyahu tenham adotado um tom triunfalista, nenhum dos dois objetivos anunciados para justificar a ofensiva parecem ter se confirmado: o regime dos aiatolás continua de pé e seu programa nuclear não foi “completamente obliterado” como alardeado pelo presidente
dos Estados Unidos. A história das intervenções norte-americanas no Oriente Médio não inspira otimismo. Ao contrário, como sabemos, elas tendem a aumentar a insegurança mundial, a reativar movimentos islâmicos radicais e a agravar as animosidades na região.
Boa leitura!
Publicado na edição n° 1368 de CartaCapital, em 02 de julho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A guerra do agro e a trégua no Irã’