A guerra da Ucrânia e os valores bestiais europeus
por Fábio de Oliveira Ribeiro
É evidente para qualquer observador que a Europa está em rota de colisão com a Rússia. Os motivos declarados para a beligerância europeia são os “princípios e valores europeus”. Mas por trás do discurso humanitário hipócrita, escondem-se “valores europeus bestiais” não confessados, defendidos pelos líderes políticos dos países europeus e da UE. Um deles é, sem dúvida, a perpetuação dos lucros que a guerra na Ucrânia está proporcionando aos fabricantes de armas na Inglaterra, Alemanha e França, por exemplo.
O que mais podemos dizer sobre este assunto? Talvez seja mais fácil compreender o que está acontecendo na Europa analisando a história econômica europeia a partir de uma perspectiva histórica de longo prazo.
No mundo antigo, as tribos que povoavam a Europa eram miseráveis em comparação com as civilizações florescentes e ricas dos povos romano, egípcio, persa e chinês. O primeiro grande boom econômico europeu ocorreu após um século de colonização romana, mas este terminou com a queda de Roma.
Após muitos séculos de uma economia feudal rural e atrasada, a Europa ganhou força econômica saqueando o Oriente Médio durante as Cruzadas. Os recursos acumulados com essas pilhagens foram utilizados para financiar a aventura colonial, dando origem ao segundo grande boom da economia europeia.
Mas quando os europeus acreditavam estar no auge do seu poder, a Europa decidiu autodestruir-se em duas guerras mundiais. O resultado foi a devastação do continente e o fim do ciclo colonial, levando os EUA à posição de maior e mais rica economia do planeta.
O terceiro boom da economia europeia ocorreu durante a reconstrução da Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial. Assim que esse novo ciclo terminou, a economia europeia estagnou novamente e foi ultrapassada pela China, numa época em que os EUA também começaram a declinar e tentavam se livrar do fardo que os europeus representavam em seu orçamento de defesa.
Agora, a Europa só tem duas opções, ou assim pensam os figurões europeus. Os europeus precisam se libertar da estagnação econômica saqueando e colonizando a Rússia, ou crescer economicamente reconstruindo as cidades europeias destruídas por causa da desejada guerra contra os russos.
E voilà… a teoria do fim da história deu origem ao retorno da mediocridade histórica da Europa.
Claro, aqui eu simplifiquei bastante 2.000 anos de história. Mas complicar demais uma narrativa neste momento é perigoso. Isso só facilitará o trabalho dos indivíduos perversos e astutos que inventam narrativas humanitárias sofisticadas para empurrar a Europa rumo a uma catástrofe semelhante à ocorrida na década de 1930.
Uma catástrofe, diga-se de passagem, que afetará substancialmente a vida dos europeus comuns, que não têm como escapar da pobreza imposta pelo neoliberalismo que será transformada em miséria absoluta pela nova guerra. Além disso, eles não podem realmente decidir o que acontecerá, então acredito que faz sentido criar uma narrativa simples.
E já que estamos falando de valores bestiais, não podemos esquecer a pirataria. Essa prática criminosa, que foi elevada à condição de instrumento de política externa pela Inglaterra durante era de ouro da rainha Elisabete I, ajudou a dar forma às “respeitáveis instituições” bancárias europeias. Os Bancos europeus e ingleses se apropriaram do fundo soberano da Líbia e das reservas de ouro da Venezuela. Eles também estão querendo se apropriar de 210 bilhões de euros da Rússia para financiar a máquina de guerra da Ucrânia. Os juros desse dinheiro já estão usados para pagar os fabricantes de armamentos europeus que fornecem seus produtos letais aos ucranianos.
Em 10/12/2025 todos nós vimos as imagens de soldados norte-americanos cometendo atos de pirataria no Caribe. A imprensa internacional e brasileira noticiaram o feito dos marines piratas como uma “apreensão”. A mídia claramente se tornou uma divisão de desinformação de uma imensa organização criminosa comandada pela Casa Branca cujo nome provisório é “Piratas do Donald Trump”.
Confesso que pensei em chamar os “Piratas do Donald Trump” de “Piratas do Caribe”, mas rapidamente percebi que isso poderia ser perigoso. O dono da marca “Piratas do Caribe” poderia me processar por violação de copyright.
Agressão militar, pilhagem, pirataria e assalto a mão armada são os principais valores bestiais europeus que voltaram a fazer sucesso tanto na Europa quanto nos EUA. No Brasil, a extrema direita tenta de todas as formas impor uma versão tupiniquim desses valores. Entre nós a pirataria orçamentária bolsonarista e o neocolonialismo ruralista receberam nomes pomposos: orçamento secreto, emendas PIX, marco temporal, flexibilização da CLT, etc.
Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.
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