A Grande Revolta Árabe, iniciada em junho de 1916, foi um dos movimentos mais significativos do século XX no Oriente Médio, marcando a tentativa das populações árabes de se libertarem do domínio otomano e estabelecer um Estado independente. Liderada pelo Xarife Huceine ibn Ali de Meca, a revolta contou com o apoio estratégico da Grã-Bretanha e da França, que buscavam enfraquecer o Império Otomano, aliado da Alemanha na Primeira Guerra Mundial. As promessas de independência feitas aos árabes, no entanto, foram traídas após a guerra, com a imposição do sistema de mandatos coloniais britânicos e franceses na região—um legado que ainda ecoa nos conflitos atuais do Oriente Médio.
Desde o século XVI, o Império Otomano controlava vastas áreas do mundo árabe, incluindo a Península Arábica, Síria, Palestina e Mesopotâmia. No entanto, no início do século XX, a crescente centralização e “turquificação” do império, imposta pelo Comitê de União e Progresso (CUP), gerou insatisfação entre as elites árabes. Políticas como a imposição do turco como língua oficial em instituições governamentais e a marginalização de líderes locais alimentaram movimentos nacionalistas.
Em 1913, o Primeiro Congresso Árabe, realizado em Paris, demandou maior autonomia para as províncias árabes, educação em árabe e serviço militar local para recrutas árabes. Essas demandas foram ignoradas pelo governo otomano, aumentando a tensão. Quando a guerra imperialista começou em 1914, o Império Otomano aliou-se à Alemanha, e o sultão declarou jiade contra os Aliados, sendo essa uma medida que muitos líderes árabes, incluindo Huceine ibn Ali, recusaram-se a apoiar.
Em 1915, Huceine iniciou uma troca de correspondências com o Alto Comissário britânico no Egito, Sir Henry McMahon, nas quais os britânicos prometeram apoiar a independência árabe em troca de uma revolta contra os otomanos. Essa troca, conhecida como Correspondência Huceine-McMahon, foi ambígua em relação às fronteiras do futuro Estado árabe, mas Huceine acreditou que a Grã-Bretanha reconheceria um reino unificado da Síria ao Iêmen.
A revolta foi oficialmente declarada em 5 de junho de 1916, quando as forças de Huceine, lideradas por seus filhos Ali, Abdullah e Faisal, atacaram guarnições otomanas em Meca e Medina. Apesar da resistência feroz dos turcos em Medina, os árabes, com apoio naval britânico, capturaram os portos do Mar Vermelho, como Jidá e Aqaba, cortando as linhas de suprimento otomanas.
Um dos elementos mais icônicos da revolta foi a atuação do oficial britânico T.E. Lawrence (“Lawrence da Arábia”), que se tornou conselheiro militar do príncipe Faisal. Lawrence ajudou a organizar ataques de guerrilha contra a Ferrovia do Hejaz, vital para o abastecimento otomano, e liderou uma audaciosa campanha que culminou na tomada de Aqaba em 1917. Suas táticas de mobilidade rápida e ataques surpresa foram decisivas para desgastar as forças otomanas.
Enquanto os árabes lutavam, britânicos e franceses já haviam assinado em segredo o Acordo Sykes-Picot (1916), que dividia o Oriente Médio em zonas de influência colonial, ignorando as promessas de independência. Quando a revolução russa de 1917 expôs o acordo, causou indignação entre os líderes árabes, mas a revolta continuou, na esperança de que a vitória militar garantisse suas reivindicações.
Em 1918, as forças árabes e britânicas avançaram para a Síria, tomando Damasco em outubro. Faisal proclamou um governo árabe, mas foi rapidamente deposto pelos franceses em 1920, consolidando o mandato colonial sobre a Síria e o Líbano. A Grã-Bretanha assumiu o controle da Palestina, Transjordânia e Iraque, instalando monarcas hashemitas (Faisal no Iraque e Abdullah na Jordânia) como governantes fantoches.
A Revolta Árabe enfraqueceu o Império Otomano, contribuindo para seu colapso, mas não cumpriu seu objetivo principal: a criação de um Estado árabe unificado. Em vez disso, o Tratado de Sèvres (1920) e os mandatos da Liga das Nações consolidaram o domínio europeu, plantando as sementes de futuros conflitos, como a questão palestina e as revoltas anticoloniais.