À medida que 2026 vai se aproximando, ficam mais nítidas as apostas para as próximas eleições.

Há uma constatação e várias hipóteses de se trabalhar com elas.

A constatação é o esgotamento do presidencialismo de coalizão, esse remendo de parlamentarismo que foi destroçado pelo governo Temer – um dos comandantes do Centrão –  e, depois, pelos militares que comandaram o governo Bolsonaro – ao entregar totalmente o controle do orçamento  ao Centrão.

As próximas eleições dividirão os candidatos entre os com e os contra o Centrão. Essa será a divisão principal. Mas, paralelamente, mesmo aqueles que se apoiam no Centrão tratarão de buscar reforço em outras forças. 

Quando se analisa o espectro de forças do país, o quadro é desalentador. À direita, há um conjunto de forças sem um projeto próprio, mas à disposição do primeiro aventureiro que se disponha a oferecer no menu um simulacro qualquer de ideologia.

São elas:

  • os evangélicos e suas pautas morais;
  • os ruralistas, buscando discurso para transformar seu poder econômico em poder político;
  • o bolsonarismo tosco.

Eles disputam corporações, ansiosas por ampliar seu espaço na máquina pública:

  • os militares, ainda bebendo no espírito da guerra fria;
  • as Polícias Militares, convertendo-se cada vez mais em poder político miliciano;
  • os Ministérios Públicos, deitando e rolando sobre a ausência do Conselho Nacional do Ministério Público e nostálgicos do poder adquirido nos tempos da Lava Jato;
  • o Poder Judiciário, majoritariamente conservador, e mais preocupado com as benesses corporativas;
  • as federações empresariais, dominadas pelo baixo clero e por sindicalistas de carreira.

Nessa geleia geral, aparecem candidatos a um projeto autoritário de país, capaz de superar o garrote do Congresso.

Por enquanto, são basicamente dois: Ciro Gomes e Aldo Rebelo.

Ciro faz uma crítica radical consistente, mas se queimou vítima do próprio temperamento e por não conseguir explicitar claramente o caminho para a governabilidade. Julgava que com um discurso racional e com a força de vontade conseguiria empalmar multidões para derrubar as barricadas do Centrão. Provavelmente já perdeu o bonde da história.

Já Aldo busca, claramente, um partido da ordem, baseado nas Forças Armadas e nos ruralistas mais radicais, fundado na volta do sonho do “país grande”. Seus símbolos maiores são os bandeirantes, agora transmutados em pecuaristas e garimpeiros explorando a floresta amazônica contra os “inimigos”: as ONGs estrangeiras e as reservas indígenas. É um negacionista, mas com um conjunto articulado de ideias.

Em plena efervescência do bolsonarismo, com multidões de aloprados cercando os quartéis, Aldo divulgou um vídeo significativo do que ele pretende. A primeira cena eram multidões enraivecidas espalhando o caos, derrubando militares de seus cavalos. A cena seguinte eram militares alinhados e batendo continência… para ele, Aldo, passando a tropa em revista.

Hoje, ele não tem expressão política. Mas pode crescer.

Não se tenha dúvidas de que uma das bandeiras principais desse autoritarismo dito esclarecido será o combate ao presidencialismo de coalizão através do pacto com o pendor autoritário dessa mescla militares-ruralistas.

Já Tarcisio de Freitas faz a mistura mais ampla e objetiva, o que de mais próximo se tem para transformar definitivamente o país em uma republiqueta latino-americana

Arma-se de alianças com o bolsonarismo mas, ao mesmo tempo, busca assumir a liderança da direita. Não tem nenhum escrúpulo em apelar aos grandes negócios de Estado para construir alianças. Foi o caso da privatização da Sabesp, que o habilitou a candidato do capital financeiro. Ou os negócios privados, como a operação de venda de fazenda de instituto de pesquisa a empresa com a participação de Paulo Skaf, o empresário que permitiu a captura  da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) pelo pequeno empresariado.

Paralelamente, Tarcísio cultiva relações próximas com o poder militar, através da transformação da Polícia Militar em milícia armada, e abrindo mercado para militares da reserva, com a militarização da rede pública de ensino, ou permitindo a participação de empresas de militares nos grandes negócios públicos – como fez no comando do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre). Ao mesmo tempo, negocia sem pudor – e sem aparecer no noticiário – as emendas parlamentares na Assembleia Legislativa.

Nesse quadro trágico, há um país cosmopolita totalmente disperso, espalhado entre as universidades, o que resta de empresariado mais consciente, alguns centros de pensamento, uma classe média mais intelectualizada, algumas nesgas de racionalidade que o atual governo preservou, em meio à necessidade de pacto com o Centrão.

A mídia e os chamados liberais já desistiram de sua estratégia de se valer da televisão para transformar almofadinhas em lideranças populares. E as décadas de antilulismo os impedem de ver quem Lula efetivamente é: uma liderança de centro, empenhado em reconstruir políticas estruturantes, mas sem nenhuma energia para romper com os dois nós górdios do país: o controle do orçamento pelo Centrão e da política monetária-fiscal pelo mercado. E sem pique político para construir o sonho do futuro.

O futuro está avançando em várias frentes do governo. Mas, sem um quadro claro, sem um pacto maior com as forças modernas do país, poderá naufragar de novo na primeira derrota eleitoral ou na perpetuação do democratismo estéril atual.

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Last Update: 06/05/2025