Reproduzo abaixo três parágrafos do Projeto de Resolução Política do nosso 16º Congresso:

“A luta de ideias é decisiva para a disputa de hegemonia

144 – Nos últimos anos, houve um bom avanço no trabalho de formação teórica e ideológica do Partido a partir da Escola João Amazonas e da Fundação Maurício Grabois. Ambas têm vetores próprios: a Escola promovendo a formação teórica de militantes e quadros, a Fundação produzindo e disseminando as ideias do Partido e ampliando os vínculos com a intelectualidade progressista, a exemplo da constituição dos Grupos de Pesquisa e do Centro de Estudos Avançados Brasil-China (CEBRAC). Há um rico acervo de cursos, seminários, palestras, vídeos, web aulas, publicações de artigos nos portais, livros, além de materiais disponíveis na TV Grabois (Youtube) e nas plataformas de ensino a distância da Escola e da Fundação Maurício Grabois. Tais materiais podem ser apropriados para uma ampla formação, dentro e fora do Partido.

145 – No entanto, ainda persiste, em algumas esferas do trabalho partidário, uma visão limitada sobre a importância do trabalho de formação militante e da propaganda das ideias centrais do Partido, uma falsa dicotomia entre a participação nas atividades e cursos versus a participação nas diversas lutas políticas. Superar este limite, especialmente entre quadros dirigentes estaduais e municipais, que devem obrigatoriamente cumprir as etapas da formação, é imprescindível. A formação é exatamente para servir à luta política imediata e à luta pelo socialismo.

146 – A luta de ideias é cada vez mais central e decisiva para a disputa de hegemonia na sociedade. Exige um plano que a oriente, seja na defesa dos preceitos teóricos consolidados no campo do marxismo, seja no estudo e elaboração sobre os temas da atualidade e os de fronteira. Os comunistas devem se capacitar para travar esta luta, com disposição para as atividades de pesquisa e produção teórica/acadêmica, e sobretudo para os embates públicos, interferindo nas questões políticas candentes, escrevendo artigos, participando de debates através dos meios próprios ou com outras forças.”

Formar quadros marxistas e possibilitar à militância em geral o acesso e estudo do instrumental teórico marxista que o PCdoB utiliza como norte essencial dos nossos posicionamentos táticos e estratégicos, a partir de uma leitura, no geral, acurada dos movimentos políticos, é absolutamente fundamental para não nos perdermos no verdadeiro cipoal ideológico que nos cerca. É necessário termos cada vez mais militantes e quadros com sólida formação marxista. Só que isso não se dá com espontaneísmo. Demanda um trabalho intensamente dirigido.

O debate em torno do Congresso, aponta para a reafirmação do caráter, da essência do PCdoB que é a de ser um “partido revolucionário, proletário, patriótico, de resistência e da luta do povo”. É reafirmação histórica que incorpora o desenvolvimento teórico sobre o que significa ser isso tudo no nosso período histórico. Cada palavra da frase destacada, comporta um intenso mar de desdobramentos teóricos de grande relevância, porque, convenhamos, mesmo considerando os mais de 103 anos de existência da nossa legenda combativa, é necessário compreendermos na mais ampla abrangência, o que cada uma delas significa nesta terceira década do século XXI, que já está na metade, e após mais um ciclo terrível de cerco ao campo democrático-progressista e aos comunistas em especial, como o que vivemos no Brasil há mais de uma década.

Quando lemos com atenção o PRP, nas suas três partes – Internacional, Nacional, Partido – que estão absolutamente interligadas, toma vulto o quanto é importante o trabalho de formação teórica e o domínio do instrumental do Marxismo-Leninismo para podermos compreender adequadamente a realidade, as contradições do capitalismo, a dimensão da transformação geopolítica em curso e seus profundos reflexos sobre o Brasil e como tudo isso está imbricado de modo intenso ao próprio funcionamento do Partido.

Sinceramente, camaradas, desconheço no Brasil alguma organização política que consiga realizar análise tão acurada da realidade envolvendo ao mesmo tempo a crítica e autocrítica sobre nossas lutas, potencialidades e limitações acumuladas nos últimos anos. E isso só é possível em função da combinação entre luta política efetiva e desenvolvimento teórico, além da utilização dialética do binômio “continuidade e renovação”.

Por outro lado, é inescapável considerarmos que ainda temos entre nós, no seio do partido, graus variados de subestimação com o trabalho de formação teórica. Acompanho diretamente esse processo há vários anos e esse é um problema recorrente, mesmo considerando que obtivemos diversos avanços importantes ao longo do tempo, conforme está apontado no PRP. A questão central nessa subestimação, se dá em especial, em relação ao trabalho que precisa ser desenvolvido com militantes mais jovens, etariamente falando, e com aqueles (as) com filiação mais recente, notadamente quando diz respeito a lideranças políticas oriundas de outras trajetórias partidárias ou de movimentos sociais diversos.

Algo que precisa ficar muito bem firmado é que a formação teórica necessita de duas dimensões indissociáveis: o trabalho coletivo, com a realização dos cursos e demais atividades estruturantes da Escola Nacional e as iniciativas dos comitês estaduais, e o estudo individual. Cursos, seminários, debates, sejam presenciais ou virtuais – nessa nova dinâmica inescapável desde a grande crise do Covid – necessitam de mobilização dirigida, trabalho organizado, paciente, sistemático, duradouro. Se é verdade que para construir Bases Militantes são necessários quadros destacados para que elas sejam criadas e tenham funcionamento efetivo, o mesmo vale para o trabalho de formação, que não se dá espontaneamente. Formação exige mais trabalho dirigido do que a luta política em geral. A segunda dimensão, o estudo individual, requer também orientação, indicação bibliográfica, estímulos variados para a produção de conteúdos, e tudo isso demanda acompanhamento.

Logo, a combinação do estudo coletivo e o estudo individual, requerem quadros a serviço da formação, com foco, concentração, recursos materiais mínimos, combinando esse trabalho com as demais secretarias, departamentos de quadros e frentes de atuação do Partido, com definições objetivas a partir das direções partidárias, do comitê central aos comitês municipais. E, evidentemente, é necessário o funcionamento orgânico do Partido. Comitês que não têm vida concreta nas lutas do povo, ou que se articulam somente nos períodos eleitorais, não desenvolvem trabalho de formação. Aliás, é bom que se diga: sem funcionamento orgânico, pouco – ou nada! – funciona, da comunicação à formação, do crescimento extensivo de filiados (a) à obtenção de votos.

O PCdoB, olhando para frente, para o futuro próximo e mais adiante, não pode se transformar numa força política de bons ativistas, grande contingente de proletários e jovens, aguerridos, porém desprovidos dos elementos centrais que permitem a uma força política ser revolucionária de fato: ligação indissociável com o proletariado, dotada de um programa revolucionário, compreensão teórica da dinâmica da luta de classes e os elementos centrais para a defesa do Socialismo. Se é verdade que a luta política cotidiana é uma grande escola que nos tempera, também é verdade que sem um trabalho de formação cada vez mais consistente e massivo – combinando quantidade e qualidade em âmbito interno – a possibilidade de desenvolvermos a luta apenas no ambiente tático, dissociado da estratégia revolucionária para superação do capitalismo, me parece bem razoável. O próprio movimento comunista foi fortemente afetado décadas atrás pela estagnação teórica em países que tinham PCs com grande projeção popular e que viraram verbetes nos dicionários da política.

O PCdoB precisa cada vez mais de militantes e quadros marxistas, que consigam orientar a luta revolucionária e manejar a Luta de Ideias como instrumento insuperável da nossa confrontação com as forças vinculadas ao imperialismo. Capacidade para conduzir o partido em âmbito nacional, mas também nos estados e municípios, não se limitando ao taticismo das lutas institucionais e sociais, especialmente num país que tem eleições de dois em dois anos. Como está configurado no nosso debate, é necessário o justo equilíbrio entre as lutas institucionais, sociais e de ideias e isso não se dá automaticamente. Se você chegou até aqui, sugiro a releitura do parágrafo 144, acima.

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Last Update: 08/08/2025