No Manifesto do Partido Comunista (1848), Karl Marx e Friedrich Engels descrevem a ascensão da burguesia enquanto classe dominante e sua conquista do poder político. Ao mesmo tempo em que a burguesia ascendia, a classe operária se formava.

“O proletariado passa por diversos estádios de desenvolvimento. A sua luta contra a burguesia começa com a sua existência.”

Com a expansão do sistema de manufaturas, os camponeses que haviam sido expulsos do campo e passaram a viver nas cidades começaram a viver os males que acometeriam os operários da grande indústria. Esses trabalhadores não tinham propriedades nem garantias; viviam de salários baixos e jornadas longas. A maioria trabalhava em condições insalubres, sem qualquer direito assegurado.

As primeiras reações dos operários surgiram de maneira isolada e espontânea. No começo, eram indivíduos que resistiam à exploração de patrões específicos. Depois, com o surgimento da grande indústria, grupos de operários de uma mesma fábrica passaram a se revoltar juntos. Aos poucos, trabalhadores de um mesmo ramo de atividade, em determinada cidade, começaram a se unir contra os capitalistas que os exploravam. Essas ações não se dirigiam apenas contra os patrões, mas também contra os próprios instrumentos de produção. Muitos operários viam nas máquinas a causa direta de sua miséria.

Foi assim que surgiram movimentos como o ludismo, que se espalhou pela Inglaterra entre 1811 e 1817. Durante esse período, grupos de operários invadiam fábricas durante a noite e destruíam teares e outros equipamentos. Eles acreditavam que, quebrando as máquinas, poderiam barrar o avanço da mecanização e recuperar as formas antigas de trabalho artesanal, mais estáveis e humanas. Os ludistas agiam em segredo e eram seguidores de Ned Ludd, um operário que teria sido o primeiro a destruir uma máquina em protesto. 

Nesse período, os operários ainda formavam uma massa dispersa, espalhada por diferentes regiões e cidades. Trabalhavam em fábricas isoladas umas das outras, ou em oficinas de variados tamanhos. Havia grandes diferenças entre as condições de trabalho de uma localidade para outra, e entre os diversos ramos de atividade. Essa dispersão geográfica e produtiva dificultava a comunicação, o reconhecimento mútuo e qualquer tentativa de ação conjunta.

Além disso, os próprios operários estavam divididos entre si pela concorrência. Como vendiam sua força de trabalho em troca de salário, competiam por emprego, por melhores condições de trabalho ou por jornadas mais curtas. Os patrões usavam essa divisão a seu favor, contratando quem aceitasse receber menos ou trabalhar mais, o que criava desconfiança entre os próprios trabalhadores.

A coesão dos operários, nesse momento, vinha do próprio movimento político da burguesia. Os capitalistas, que ainda não enxergavam na classe operária uma ameaça à sua dominação, recrutava nesta classe o apoio necessário para derrotar os setores mais antigos da sociedade — como a nobreza, o clero ou os reis absolutistas. Foi o que aconteceu, por exemplo, durante a Revolução Francesa de 1789. Embora o Terceiro Estado incluísse a burguesia, era também formado também por pequenos comerciantes, artesãos e operários urbanos. Os operários saíam às ruas, erguiam barricadas, enfrentavam o exército e derrubavam velhas instituições — mas não por um programa próprio, e sim em apoio aos objetivos políticos da burguesia.

Com o avanço da grande indústria, o número de operários aumentou rapidamente. As antigas oficinas e manufaturas foram sendo substituídas por fábricas mecanizadas, que empregavam centenas ou milhares de trabalhadores em condições muito semelhantes. Nas grandes cidades industriais, como Manchester, esses trabalhadores viviam aglomerados em bairros pobres, trabalhando em turnos longos, sob disciplina rígida, em fábricas onde o trabalho era repetitivo e padronizado. As diferenças que antes existiam entre os tipos de trabalho — como entre o tecelão, o carpinteiro ou o sapateiro — começaram a desaparecer, pois a máquina passou a ditar o ritmo e o modo de produção. Isso fez com que as situações de vida dentro do proletariado se tornassem cada vez mais parecidas.

Ao mesmo tempo, a concorrência entre os próprios capitalistas aumentava. Os salários, que já eram baixos, passaram a oscilar de forma imprevisível. Cada crise comercial, cada retração econômica, significava desemprego em massa, fome e miséria. E mesmo nos períodos de crescimento, os ganhos iam para os donos das fábricas, enquanto os trabalhadores mal conseguiam sobreviver. Nessas condições, os conflitos entre patrões e empregados deixavam de ser disputas individuais para se tornarem choques entre classes sociais opostas.

Diante desse cenário, os operários começaram a reagir de forma mais organizada. As primeiras coalizões foram criadas para tentar defender os salários contra os cortes impostos pelos patrões. Em muitos casos, essas associações eram clandestinas e perseguidas pelas autoridades. Com o tempo, surgiram associações mais duradouras, precursoras dos sindicatos modernos, que buscavam preparar os trabalhadores para enfrentar as crises e resistir às demissões e à superexploração. Esses grupos organizavam caixas de ajuda mútua, faziam reuniões e, quando possível, articulavam paralisações.

Em vários momentos, essa luta organizada transbordou e deu origem a revoltas abertas. Um exemplo marcante foi a insurreição dos tecelões de Lyon, na França, em 1831 (Revoltas de Canut), quando milhares de operários se levantaram contra a miséria imposta pelos patrões e exigiram “viver trabalhando ou morrer combatendo”. Outro caso importante ocorreu na Inglaterra, com o movimento cartista, que começou na década de 1830 e reuniu operários de várias regiões em torno da exigência de direitos políticos — como o voto universal masculino e o direito de eleger representantes no parlamento. Essas revoltas e movimentos mostravam que os trabalhadores estavam deixando de ser uma massa dispersa para se tornar uma classe em luta, cada vez mais consciente de sua força e de seus interesses comuns.

No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels explicam que:

“De tempos a tempos os operários vencem, mas só transitoriamente. O resultado propriamente dito das suas lutas não é o êxito imediato, mas a união dos operários que cada vez mais se amplia. Ela é promovida pelos meios crescentes de comunicação, criados pela grande indústria, que põem os operários das diversas localidades em contacto uns com os outros. Basta, porém, este contacto para centralizar as muitas lutas locais, por toda a parte com o mesmo carácter, numa luta nacional, numa luta de classes. Mas toda a luta de classes é uma luta política. E a união, para a qual os burgueses da Idade Média, com os seus caminhos vicinais, precisavam de séculos, conseguem-na os proletários modernos com os caminhos-de-ferro em poucos anos.”

A organização dos proletários em classe levará a formação dos primeiros partidos operários. Até a primeira metade do século XIX, a burguesia, mesmo em luta contra a classe operária, segue apelando para esta contra a velha sociedade. Nas revoluções de 1848, no entanto, o medo do movimento político dos operários levará a burguesia a inúmeras e sangrentas traições.

A repressão cada vez mais dura contra o movimento dos trabalhadores revelou que o tempo de um acerto de contas com os seus opressores se aproximava. A classe operária se afirmava cada vez mais como a única classe realmente revolucionária, a única capaz de conduzir a humanidade a uma nova etapa de progresso.

No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels concluem que:

“Ao descrevermos as etapas gerais do desenvolvimento do proletariado, acompanhamos de perto a guerra civil — ainda que em parte disfarçada — que atravessa a sociedade atual, até o momento em que ela explodirá em uma revolução aberta, na qual o proletariado, ao derrubar a burguesia por meio da força, estabelecerá sua própria dominação.”

O papel da classe operária na revolução social será debatido na 53ª Universidade de Férias do Partido da Causa Operária (PCO), realizado em conjunto com o Acampamento da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) entre os dias 6 e 13 de julho.

O curso, intitulado A teoria marxista da revolução, será ministrado pelo presidente nacional do PCO, Rui Costa Pimenta, e é aberto a todos os interessados. Inscreva-se já, basta acessar unimarxista.org.br.

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Last Update: 21/06/2025