A fome assola os palestinos na Faixa de Gaza. E é estarrecedora as cenas de crianças, homens e mulheres, disputando espaço, palmo a palmo, em pé, todos aglomerados, para, assim, com os braços estendidos alguém que presta ajuda humanitária, colocar, nos recipientes que seguram, um pouco de alimento, em forma de caldo ou pastoso, que – creio – Donald Trump, não teria coragem de comer, ainda que fosse orientado a fazê-lo como peça publicitária visando, com isso, melhorar sua imagem perante o mundo mostrando-o, então, supostamente sensível ao drama palestino.
Aliás, não basta alimentar as pessoas é preciso também assegurar que haja condições técnicas de higiene para que os víveres não estejam contaminados e, portanto, ao serem ingeridos não prejudiquem o indivíduo que dele fez uso.
Por isso, questiono a precariedade desta ajuda humanitária, afinal: que segurança alimentar há em servir, a céu aberto, comida para famintos, que suplicam todos, desesperados, juntos, em coro, para serem servidos? É evidente que respingos de saliva, podem conter agentes patogênicos e transmitir doenças, quando outro palestino faminto entrar em contado com o alimento servido e, assim, prejudicar a pessoa humana, que, antes, deveria ter assegurado o direito de ser alimentada com dignidade.
Pergunto-me: por outro lado, quem serve usa máscara? Ou orienta as pessoas para serem servidas falando sobre os alimentos?
Pondero sobre as condições de armazenamento destes alimentos: estiveram adequadas durante o transporte? E se, antes, para sua confecção cumpriram com rigor todos os protocolos de segurança alimentar?
Questiono ainda, se houve preocupação com a temperatura; logo, se são servidos: quente, morno ou frio, estes alimentos?
E por mais que as aparências possam enganar indago: são gostosos ou ruins de comer?, me pergunto: será que eles azedam?, questiono: a quem reclamar se tais alimentos agredirem o paladar?
Ainda é preciso ponderar as condições de higiene dos recipientes levados pelos palestinos famintos.Tratam-se de vasilhas,semelhantes à bacias, umas maiores, outras menores, mas, todas, transportadas em condições inadequadas para receberem o alimento, sem estarem, por exemplo, acondicionadas em plásticos e, portanto, sujeitas ao contato com poeira e outras partículas indesejáveis, além de entrar em contato com as mãos nuas, não lavadas, de quem as transporta, o que evidencia o risco à saúde daquela ou de outra pessoa, que irá se alimentar do conteúdo do recipiente.
Aliás, qual o trajeto feito pelo palestino faminto antes de receber o alimento? Há durante este percurso mais inadequações e exposição indevida do recipiente?; aliás, o mesmo recipiente que irá abrigar o alimento recebido.
Se o veículo da ajuda humanitária com a alimentação apenas chega no acampamento palestino para servir, quais as condições gerais de higiene deste acampamento?
Se tudo o que questiono,aqui, parecer a alguém luxo, preocupação secundária, coisa supérflua ou extravagância devo dizer que isto significa que – e digo em minha defesa e na defesa do povo palestino – que esta pessoa, infelizmente, se curvou a toda falta de bom senso e que, assim, naturaliza o desrespeito à dignidade humana.
Porque a questão fundamental não é, meramente, julgar suficiente as pessoas serem alimentadas por ajuda humanitária durante uma guerra.
O fundamental é assegurar também a qualidade da alimentação que é disponibilizada ao garantir – e isto o leigo precisa saber – que esteja a contento a execução das boas práticas nutricionais, o que implica, inclusive, o cumprimento aos protocolos de higiene no preparo, na conservação e oferta da refeição.Nunca deve-se esquecer que estamos falando de alimentação destinada a seres humanos (os palestinos são seres humanos) e que, por isso, devem ser tratados humanamente.
A catástrofe que enfrentam e o caráter excepcional da condição que atravessam não deve ser pretexto para que se aceite que engulam qualquer coisa.Isto seria tão desumano e cruel como a guerra, que lhes é feita.
Aliás, a fome de guerra é típica de alguns governantes como Donald Trump.Esta voracidade toda por destruir pessoas inocentes demonstra que a guerra só é alimentada por interesses financeiros de indivíduos ou corporações que se nutrem do caos produtor de lucro e, portanto, a opinião pública não deve se conformar com o fato das pessoas famintas estarem sendo alimentadas (aliás, mal alimentadas) durante uma guerra deve-se mesmo exigir, antes, o fim desta guerra. Afinal, penso que a opinião pública também deva ter fome de paz.
E deve-se exigir o fim desta guerra porque as pessoas têm o direito, não só de se alimentarem, mas de se alimentarem com dignidade asseguradas as condições técnicas de higiene e que permitam saciarem-se com segurança.
Não só isto. As pessoas têm direito de comerem sentadas à mesa ou em ambiente confortável e salubre, fazendo uso de talheres e afins ou da forma que for definida pela cultura de seu país e nunca, nunca ditada, exclusivamente, por alguma precariedade imposta por um confronto militar.
E mais. As pessoas tem direito a fazerem uma refeição saborosa que as permita não só satisfazerem-se, mas também sentirem prazer no ato de alimentarem-se, e isto também é reconhecer ao outro seu direito à dignidade.
Porque a guerra viola a dignidade das pessoas.Alguns poderão até me censurar e dizer que não digo nada de novo porque isto é uma obviedade, mas para mim é óbvio que: o que é óbvio para alguns não é óbvio para todos.
Tanto que se alguém ousar me reprimir por dizer o óbvio, é porque este infeliz não enxerga, na verdade, a obviedade que há, no fato de não ser óbvio, que o que é óbvio, óbvio não é e isto é uma obviedade.
E é óbvio que para governantes autoritários como Donald Trump óbvio não é: que a guerra afeta a dignidade humana.
Aliás, talvez, Donald Trump, tenha mesmo dificuldade de extrapolar a ideia de dignidade para além da sua pessoa, tão centrado em si costumam ser os autoritários, o que mostra o despreparo destes para pretenderem ser líderes globais.
Aliás, será que Donald Trump se sujeitaria a comer, em um acampamento palestino, em uma vasilha (talvez, indevidamente limpa) , um alimento (talvez, com os protocolos de higiene afrouxados) e ainda com aspecto de caldo ou pastoso?
Mas, enquanto a guerra come solta na Faixa de Gaza. Enquanto a ajuda humanitária (que é importante), mas chega precária para ajudar os palestinos e, por isso, questiono, Donald Trump, ele, o xerife do planeta, decide fazer uma guerra comercial contra o Brasil.
Donald Trump, ao invés de apontar o canhão do tarifaço contra o Brasil, deveria ter imposto sanções ao Estado de Israel, que promove o genocídio contra o povo palestino e se vangloria, na figura prepotente e autoritária de Benjamin Netanyahu, de continuar esta matança criminosa.E é óbvio que isto só ocorre porque tal qual Bolsonaro, Netanyahu, também se esconde debaixo da saia sanguinária de Donald Trump.
No entanto, mais do que a fome de que os cidadãos palestinos possam ser tratados humanamente e alimentarem-se com dignidade durante a guerra e após este espetáculo hediondo, nós, humanistas, nós, petistas, temos apetite pela paz, porque somente um mundo pacífico, democrático e justo poderá oferecer um pão digno às pessoas, bem como também ofertar dignidade em todos os outros aspectos da vida de um ser humano.
E isto não é devaneio.
Porque se ficou comprovado que um mundo de guerra é possível, então, está provado que um mundo de paz é necessário.
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro