“A FINEP se refundou hoje”. Esse foi o sentimento que ecoou durante o I Seminário DEEP TECH Brasil, realizado no dia 8 de maio, na sede da agência, no Rio de Janeiro.
O encontro, que reuniu representantes de 400 entidades e 63 universidades de 20 estados, foi apontado pelos participantes como um divisor de águas na construção de uma política nacional voltada às deeptechs — startups nascidas da ciência.
Para Fernando Peregrino, chefe de gabinete da FINEP e vice-presidente do Clube de Engenharia do Brasil, a instituição rompeu com o velho modelo burocrático de formulação de políticas públicas e assumiu um protagonismo articulador, capaz de abrir caminho para uma nova indústria nacional.
Segundo ele, o evento foi simbolizado pela fala do professor Marcelo Zuffo, da USP — “A FINEP se refundou hoje” — que capturou o espírito do momento histórico vivido pela instituição.
Confira, abaixo, o relato de Peregrino, em artigo publicado na Tribuna da Imprensa.
Por Fernando Peregrino
Chefe de Gabinete da FINEP, vice-presidente do CLUBE DE ENGENHARIA DO BRASIL
Exagero à parte, a frase acima dita pelo professor Marcelo Zuffo, presidente da Inova/USP, ecoou forte ao final de um seminário no dia 8 de maio na FINEP. Um evento épico sobre as Deeptechs — empresas de base tecnológica oriundas dos laboratórios das universidades.
Após recordar à audiência de 680 pessoas, entre presenciais e remotas, como foi a criação da FINEP há 58 anos, pelo sempre homenageado José Pelúcio, esse professor da maior universidade do País concluiu que tinha assistido a uma atitude que mudava o paradigma de atuação da FINEP, ao promover o engajamento dos agentes públicos e privados na proposição de uma política de acolhimento desses novos agentes inovadores.
O seminário, talvez por isso, bateu recorde de mobilização de entidades e pessoas do ecossistema brasileiro. Afinal, eles eram oriundos de 20 estados, representaram 400 entidades, 63 universidades e seus parques tecnológicos, além de importantes órgãos vinculados ao governo, como o BNDES, FINEP, SEBRAE, APEX, ITAMARATY, CGEE, ABDE, MCTI, entre outros, que firmaram o Protocolo de Intenções em novembro de 2024, visando à construção coletiva de uma política efetiva de promoção da inovação por meio desses agentes.
Foi uma mobilização formada por setores da chamada tríplice hélice, pois acorreram à sede da FINEP governo, empresas e universidades. Entre as entidades privadas do setor, destaque-se a Wilinka, que, pela presidente Ana Carolina, declarou: “O seminário foi um momento crucial para refletir sobre a inovação, pois, para transformar o potencial científico do País em deeptech, precisamos de políticas públicas à altura desse desafio”, disse ela em artigo de opinião.
Não se trata de figura de retórica. Afinal, o Brasil é o 13º lugar em produção científica no mundo, mas apenas o 54º lugar em inovação. O evento reuniu quatro das principais agências de fomento ao setor do País — FINEP, BNDES, SEBRAE e APEX Brasil — cujos dirigentes vieram dar seu apoio explícito a esse movimento das deeptechs, anunciando iniciativas, mas, sobretudo, o entusiasmo com o tema, como disse o presidente da FINEP, Celso Pansera: “… as deeptechs são a fronteira tecnológica.”
A diretora da APEX, Ana Repessa, destacou que esses novos agentes poderão resolver vários desafios tecnológicos, como os da produção de alimentos. O diretor do BNDES, José Luiz Gordon, grifou que o maior banco de fomento do País já inaugurou um fundo voltado para as deeptechs em parceria com a FINEP. O diretor do SEBRAE, Bruno Quick, confirmou que são as deeptechs o novo na inovação no País.
Mas a marca principal do evento foi ele ser a prova viva de que a FINEP, como agência de fomento do País, assim como os demais participantes, tem o que dizer sobre o assunto e, por isso, mobilizaram a sociedade empresarial, científica e governamental para elaborar uma política pública relevante que pode definir o futuro de uma nova indústria para o País.
Esse é o sentido que extraímos do pensamento do professor da USP. Hoje a FINEP se refundou. Deixou para trás o método burocrático, autoritário e anacrônico de fazer e implementar políticas públicas, onde uns pensam que coordenam e outros que executam.
Na verdade, quase sempre, ambos deixam a desejar nesses papéis. A FINEP, desde sua contribuição à VCNCTI, quando realizou 13 seminários e depois mais 4 outros em sua sede, nada mais fez do que usar seu potencial, que não pode ser relegado, e aplicar esse método disruptivo de se fazer política pública em uma democracia, como fez o presidente Lula quando promoveu a elaboração da Nova Indústria Brasil. Todos os 17 parceiros do protocolo de intenções firmado em novembro de 2024 protagonizaram esse feito! O segundo seminário virá com temas estratégicos como compras públicas, propriedade industrial e regulação.
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