No dia 23 de junho, a Liga Internacionalista dos Trabalhadores — Quarta Internacional (LIT-QI) publicou em seu portal uma nota intitulada Em defesa do Irã e da Palestina, derrotemos a agressão militar ianque e sionista. À primeira vista, o texto parece defender os povos agredidos pelo imperialismo. No entanto, basta uma leitura minimamente atenta para perceber que o chamado da LIT-QI não passa de uma manobra centrista, que busca parecer radical, mas cujo conteúdo prático é de capitulação ao imperialismo.

A contradição está no centro do texto: “os socialistas revolucionários de todo o mundo têm o dever de estar na trincheira militar do Irã nessa guerra”, afirma a LIT-QI, reconhecendo corretamente que o Irã está sendo vítima de uma ofensiva militar do imperialismo. No entanto, imediatamente a LIT-QI acrescenta:

“Isso não significa de nossa parte nenhum apoio político ao regime dos aiatolás iranianos, uma ditadura a serviço da burguesia.”

Essa fórmula — apoio militar sem apoio político — é o coração da política centrista da LIT-QI. É aí que reside a farsa.

A ideia de uma “trincheira militar” separada da política é uma abstração. A guerra é, por definição, a continuação da política por outros meios. E a direção da guerra é o Estado iraniano — com sua política, sua estrutura e sua liderança.

Se o Irã está em guerra contra o imperialismo, essa guerra é conduzida pelo regime. Apoiar a luta do Irã contra os Estados Unidos e “Israel” significa, na prática, apoiar esse regime na sua ação militar e política contra o agressor imperialista.

A posição da LIT-QI é semelhante à de um sujeito que dissesse apoiar a resistência vietnamita contra os Estados Unidos, mas sem “dar apoio político ao Vietnã do Norte”. Isso seria ridículo — e é exatamente o que fazem agora com o Irã.

A própria LIT-QI admite que a guerra atual é decisiva:

“O resultado dessa guerra vai influenciar nos processos da luta de classes de todo o mundo.”

Diante disso, ela deveria tomar partido claro e incondicional: pela vitória do Irã e a derrota do imperialismo. Mas não o faz. Em vez disso, insiste em repetir a ladainha da “independência política”, como se isso fosse possível sem consequências práticas.

O internacionalismo revolucionário exige o apoio concreto a todos os povos e regimes que enfrentam o imperialismo. Contra o agressor, com todos os meios possíveis.

Em plena ofensiva militar contra o Irã, a LIT-QI decide reafirmar que o regime iraniano é “uma ditadura a serviço da burguesia” e que “nenhuma confiança política deve ser depositada nos aiatolás”.

Ora, esse é o mesmo discurso de Joe Biden, Donald Trump e Benjamin Netaniahu. É a justificativa política da guerra: atacar o Irã, dizem, é “libertar o povo da ditadura religiosa”. Quando a LIT-QI repete esse tipo de acusação, ela alimenta a propaganda do inimigo.

Na prática, o que o militante médio entende ao ler isso? Que o Irã merece ser defendido? Ou que é um regime reacionário que não merece nenhuma confiança? A política da LIT-QI semeia a confusão no momento em que mais se exige clareza.

O texto afirma, corretamente, que “o imperialismo já foi derrotado no passado no Vietnã, assim como no Iraque e Afeganistão e pode ser novamente”. Mas, ao contrário do que quer parecer, a LIT-QI não está engajada nessa luta. Isso porque se recusa a apoiar quem hoje cumpre esse papel concreto.

Quem está combatendo os Estados Unidos e “Israel” hoje não é uma “abstração” ou um “povo em geral” — é o regime iraniano, com seus generais, seus foguetes, sua diplomacia e seus aliados armados.

Se a LIT-QI realmente estivesse na “trincheira militar” do Irã, como diz, então sua tarefa seria uma só: defender o regime iraniano com todas as suas contradições enquanto este enfrentar o imperialismo.

Mas o que fazem, ao contrário, é desmoralizar esse apoio com ressalvas e desconfianças — na prática, esvaziam a luta que dizem defender.

Essa posição serve para agradar a todos: finge que está com o Irã, mas reafirma que ele é uma ditadura. Assim, a LIT-QI preserva seu prestígio com os setores pró-imperialistas da esquerda, enquanto tenta posar de internacionalista nos países oprimidos.

É a mesma política que levou boa parte da esquerda a apoiar as “revoluções coloridas” na Líbia e na Síria, que acabaram servindo de porta de entrada para a destruição desses países pelos Estados Unidos e pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Por fim, a maior farsa da declaração da LIT-QI é a própria questão da “trincheira militar”. É um agrupamento pequeno, disperso, sem qualquer capacidade de ação militar em lugar algum. Ou seja, nem mesmo os seus próprios militantes podem aplicar a palavra de ordem de unidade militar. É uma consigna feita para parecer radical, mas que, no mundo real, não muda absolutamente nada.

Se há algo que a LIT pode fazer, esse algo é agir no plano político — organizando a propaganda, os atos, as greves e manifestações em defesa do Irã. Mas nem isso fazem, pois sua palavra de ordem central é:

“Nenhuma confiança política no regime dos aiatolás”.

Essa não é uma política de apoio à luta anti-imperialista. É uma política de sabotagem. Na guerra em curso, a única posição consequente é clara: todo apoio político e militar ao Irã na luta contra os EUA e “Israel”.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 25/06/2025