Nunca se falou tanto em diversidade no Brasil como nos últimos 15 anos. Escolas, universidades, empresas e tribunais hoje falam sobre a importância da diversidade, promovendo cursos e pagando pessoas para falarem sobre esses temas. Acontece que todo esse falatório está fadado ao fracasso. As estratégias comumente usadas para aumentar a diversidade não conseguem levar a uma mudança efetiva na condição de vida da maioria dos oprimidos, pois elas se baseiam na manutenção do sistema capitalista.
É preciso entender que a principal estratégia do paradigma da diversidade atualmente é a adoção de ações afirmativas. Elas consistem em políticas e programas que adotam critérios diferenciados para a inclusão de grupos socialmente marginalizados em espaços onde eles estão sub-representados, como a mídia, as universidades, as empresas e o parlamento. Assim, resolveríamos o problema da exclusão social basicamente inserindo as pessoas nesses espaços, ou seja, contratando os oprimidos, elegendo-os e concedendo-lhes vagas nas universidades. A pergunta é: isso deu certo em algum lugar?
Vale dizer que, originalmente, tal estratégia foi adotada nos Estados Unidos na década de 1960. Eles buscavam combater sobretudo a discriminação racial no emprego, em virtude da segregação que praticaram contra esse grupo durante a maior parte de sua história. Acontece que todas essas iniciativas tiveram um impacto muito limitado.
Vejamos os dados. Em 1989, nos Estados Unidos, os negros tinham uma renda que correspondia a cerca de 6% da renda dos brancos. Em 2022, após muitos anos de intensa campanha e implementação de ações afirmativas, a renda dos negros aumentou, mas ainda corresponde a apenas cerca de 15% da renda dos brancos. Para ilustrar como esse aumento é pífio, vale a pena comparar os dados dos Estados Unidos com os de Cuba, onde também houve escravidão por séculos. De acordo com os dados mais conservadores, ainda há disparidade na renda entre negros e brancos em Cuba, mas a renda dos negros nesse país corresponde a cerca de 70% da renda dos brancos. Ou seja, há um cenário muito maior de igualdade na ilha socialista caribenha do que no país capitalista mais rico do mundo, que cinicamente propaga a diversidade nos quatro cantos do mundo.
No Brasil, estamos adotando acriticamente a mesma estratégia dos Estados Unidos de forma intensa há aproximadamente uma década. Se insistirmos nesse erro, estaremos condenados a também termos melhoras limitadas na condição de vida dos excluídos. Não à toa, nos últimos 10 anos no Brasil, após intensa campanha em defesa da diversidade, a desigualdade na renda entre negros e brancos foi reduzida em apenas 1%. Essa é a prova de que não adianta contratar alguns negros para aparecerem na grande mídia se não for tomada alguma medida séria para melhorar a condição dessa população.
O motivo pelo qual todas essas iniciativas fracassam em efetivamente promover melhora na condição de vida das pessoas é porque elas não buscam modificar o modo de produção em que vivemos. Ao contrário, elas partem do pressuposto de manutenção do capitalismo. Não adianta achar que contratar mais membros de grupos socialmente marginalizados resolverá seus problemas, pois a possibilidade de as pessoas terem uma renda que lhes permita sobreviver dignamente é necessariamente limitada no sistema capitalista.
O que devemos fazer é lutar pelo socialismo, pois apenas uma mudança radical no modo de produção e uma consequente mudança na lógica que orienta a sociedade fará com que os grupos socialmente marginalizados possam efetivamente ter uma condição de vida digna. Enquanto comida, moradia, saúde e educação estiverem submetidas à lógica da mercadoria, nenhuma ação afirmativa será eficaz.