Em meio à Liga das Nações do vôlei e à visita do gigante grego Antetokounmpo – um dos maiores nomes da NBA – ao Brasil, a Seleção Brasileira de futebol garantiu a classificação para a Copa do Mundo do ano que vem, na América do Norte. Isso tudo sem contar as decisões finais da temporada 2024–2025 nos esportes europeus e norte-americanos, que agitam o calendário esportivo mundial.
As vitórias do Brasil sobre o Paraguai nunca foram simples. E esta semana, mais uma vez, mexeram com a vida do torcedor brasileiro em um momento conturbado do País, refletido até nos comentários e nas análises esportivas, que vêm demonstrando certa desorientação em boa parte da mídia.
Houve, inclusive, certo desrespeito aos nossos adversários. Isso num estágio crítico do nosso futebol. Antes da partida contra o Paraguai, repetiu-se exaustivamente o discurso ultrapassado de que o Brasil é o “país do futebol” – não por engano, mas, infelizmente, por pura desinformação.
Muita gente tratou como “favas contadas” a vitória brasileira sobre o Paraguai e a derrota da Venezuela para o Uruguai, sem lembrar que o Paraguai sempre foi um adversário duro e competitivo.
Já a Venezuela, mesmo sem o peso da história uruguaia, vem crescendo a olhos vistos, revelando jogadores de destaque em seus clubes e consolidando sua seleção como uma equipe capaz de surpreender. No fim, deu tudo certo em termos de resultado: a Seleção Brasileira está classificada para o próximo Mundial.
Mas o mais importante foi a estreia do técnico Carlo Ancelotti em solo brasileiro, marcada por uma mudança visível de comportamento da equipe. O jogo, disputado palmo a palmo na Neo Química Arena, em São Paulo, mostrou uma seleção com atitude e foco.
A vitória veio com muito esforço. O time jogou com um espírito transformado. Não fosse essa entrega, o resultado poderia ter sido outro – como quase aconteceu no empate contra o Equador.
A vitória por 1 a zero, embora apertada, foi merecida e vale muito nesse estágio de formação do grupo. Foi o que se costuma chamar de “vitória-chave”.
A vibração dos jogadores contagiou o time inteiro. E essa mudança de atitude pode representar um salto importante na evolução da preparação para a Copa, reforçando um espírito de grupo que já é visível e valorizado por Ancelotti.
Entre os destaques tivemos Bruno Guimarães, que estreou como titular e jogou com personalidade; Raphinha, em grande forma, mantendo o que já vinha mostrando em seu clube; e Alex Sandro, que surpreendeu pela lucidez e tranquilidade ao longo de toda a partida. Vinícius Jr., com uma bela atuação, também merece aplausos.
As mudanças no time e no estilo de jogo mostraram o domínio estratégico do treinador e a confiança passada ao grupo. Um bom exemplo foi a liberdade dada a Vini Jr., que atuou mais por dentro.
A defesa também se destacou – sólida, ainda sem sofrer gols nessa nova fase, sustentada por um meio-campo bem equilibrado. Ancelotti abriu mão de um armador clássico, algo que muita gente pedia, diante da escassez de um centroavante de referência.
Apostou em Bruno Guimarães, que agarrou a chance com unhas e dentes, fazendo excelente cobertura defensiva e se movimentando com inteligência.
Depois da vantagem no placar, entrou Gerson, que deu mais cadência ao jogo e ajudou a controlar o ritmo de uma partida marcada pelo desgaste físico intenso.
Do lado paraguaio, merece destaque a atuação firme do zagueiro Gustavo Gómez, do Palmeiras, que ajudou a manter o placar apertado até o fim. O futebol sul-americano anda bem competitivo.
Enquanto o Brasil suava para vencer o Paraguai, a Argentina – a melhor seleção do continente hoje – teve de correr atrás do empate em casa contra a Colômbia.
Já o Uruguai venceu a Venezuela com mais uma grande atuação de De Arrascaeta, que vive uma fase iluminada. Sorte a nossa podermos vê-lo de perto, jogando por aqui.
Passada a Data Fifa, com os jogos classificatórios para a Copa do Mundo, o calendário já emenda com o primeiro Mundial de Clubes no novo formato, que começa na próxima semana. Os clubes seguem treinando em suas sedes, enquanto aguardam o retorno dos atletas convocados. Haja fôlego.
A semana ainda teve a final emocionante da Liga das Nações entre Espanha e Portugal, decidida nos pênaltis, com partidas de altíssimo nível. Nuno Mendes e Vitinha brilharam pelos portugueses, enquanto Mikel Oyarzabal, entre outros, foi destaque pelo lado espanhol. Mais um jogaço. •
Publicado na edição n° 1366 de CartaCapital, em 18 de junho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A estreia de Ancelotti’