Nosso colaborador Luiz Antonio Bambace desenvolve uma análise relevante sobre a cadeia produtiva da soja, mostrando como agregar valor no país:
- Rendimento do processamento: De 1 kg de soja, extrai-se uma fração (em torno de 13,5%) de óleo, o restante sendo farelo, proteína e subprodutos. O valor obtido pelo conjunto de derivados, nos preços atuais, mal cobre o preço da soja in natura — o que já indica que o lucro vem de outras margens.
- Lucro e controle por multinacionais: Empresas como Cargill e Purina têm uma estrutura integrada e conseguem lucrar ao longo de toda a cadeia: da compra antecipada da soja até o envasamento e venda de produtos finais, como óleo refinado ou rações. Os lucros maiores vêm da transformação e da distribuição no varejo, não da simples venda de commodities.
- Mecanismos de evasão de lucro (preço de transferência): De fato, multinacionais usam artifícios contábeis para maximizar lucros nos países onde há menos impostos ou onde são sediadas, enquanto os países produtores como o Brasil ficam com a menor parte do valor agregado. Isso inclui importação superfaturada e exportação subfaturada entre empresas do mesmo grupo.
- Mercado global desequilibrado: Há excesso de estoque de derivados (óleo e farelo), mas escassez momentânea de grão, o que pressiona os preços da soja in natura e reduz a margem de esmagamento. Isso é temporário.Os preços vão reagir quando os estoques caírem.
- Diferença entre preço de atacado e varejo: Este é talvez o maior ponto de concentração de lucro. O óleo de soja no atacado vale pouco (US$ 600-800/ton), mas no varejo é vendido a mais que o dobro — seja no Brasil, EUA ou Europa. Isso mostra onde está o verdadeiro valor: marca, distribuição, embalagem e presença no mercado consumidor.
Pequenas empresas “rebolam para se manter”. Sem escala, integração vertical e canais de distribuição próprios, é quase impossível competir com os gigantes.
Uma política agro-industrial poderia construir um sistema sólido nacional.
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