O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), adotou uma manobra para conter a crescente insatisfação do PL, principal legenda da oposição, com a sua condução no comando da Casa. Após rejeitar a indicação do deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) para a relatoria da CPMI do INSS – posição almejada pela sigla –, Motta cedeu ao partido a relatoria de um outro tema de peso: o projeto que visa derrubar o aumento do IOF, decretado pelo governo Lula (PT).
A movimentação, que surpreendeu o Palácio do Planalto, vem sendo lida nos bastidores como um “prêmio de consolação” ao PL. Chrisóstomo, que havia sido ventilado para assumir a relatoria da comissão que investigará fraudes no INSS, acabou preterido por Motta sob o argumento de que o cargo exigiria “equilíbrio político” e independência partidária. O presidente da Câmara afirmou que a relatoria não poderia ficar com o PL, assim como a presidência no Senado não foi entregue ao PT.
A escolha de Chrisóstomo para relatar o projeto de decreto legislativo que susta o aumento do IOF recoloca o deputado em posição de destaque, justamente no momento em que o governo tenta reverter a pauta que avança com apoio da oposição. O texto entrará em votação nesta quarta-feira 25 e reúne apoio expressivo, com estimativas de mais de 300 votos favoráveis.
Nos corredores do Congresso, a escolha é vista como um gesto calculado de Motta: nega ao PL o controle de uma comissão sensível, como a CPMI, mas compensa com protagonismo em uma pauta fiscal de forte apelo popular e potencial desgaste ao governo Lula.
A decisão de pautar e dar celeridade à proposta que barra a alta do IOF foi tomada de forma unilateral na noite de terça-feira 24. O líder do PT na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (RJ), expressou surpresa e desconforto, principalmente pelo fato de a sessão ser virtual.
Com a relatoria nas mãos de um nome bolsonarista e o apoio articulado do PL, a tendência é que o projeto avance com rapidez, ampliando a tensão entre Legislativo e Executivo.