No último sábado (7), foi publicada uma matéria no Brasil 247, intitulada “Alexandre de Moraes vai testar o nível da valentia de Bolsonaro”, de autoria de Moisés Mendes. O título do texto já é, por si só, uma aberração. Em que sistema de justiça se aceita que um juiz “teste” a valentia de um réu? A justiça deveria ser lugar de leis, provas e garantias democráticas. Esse tipo de linguagem nos remete ao ex-juiz Sérgio e à Lava-Jato — o próprio autor parece saudoso dessa virulência judicial, só que agora com nova fantasia: Alexandre de Moraes, o combatente de fascismo.
O texto inteiro é uma ode escancarada ao arbítrio. Moisés Mendes parece mais uma tiete emocionada de Moraes do que um jornalista. O autor não só naturaliza, como exalta a coação como método de interrogatório, algo que ele próprio admite: “O que Moraes mais sabe fazer é erguer a voz, impor sua autoridade e humilhar”. Desde quando isso é função de um juiz? Desde quando, um juiz erguer a voz, coagir e humilhar alguém seria legal, e não autoritarismo?
Mais grave ainda é o tom de satisfação com que o autor fala da audiência de Bolsonaro. Afirma que ele “não poderá ser muito obediente, nem muito atrevido”, como se estivesse diante de um carrasco, não de um magistrado. O autor quer um reality show e não um processo judicial. Trata Moraes como um herói, um justiceiro, e Bolsonaro teria como único papel produzir frases de efeito que possam viralizar.
O texto deixa claro que a lógica é a do medo, da coerção, da humilhação, da chantagem: ou você se comporta do jeito que o juiz espera — com a devida reverência — ou será esmagado. É essa a visão de “progressismo” que o colunista defende?
E é claro que Moraes, o “bravo”, poupou figuras como Tarcísio de Freitas, que podem ser ativos eleitorais da burguesia em 2026. Mas isso o autor sequer menciona. Não há espaço para crítica ao juiz que investigou, denunciou, acusou e agora julga. Um superministro da repressão, a quem Moisés Mendes atribui, sem qualquer ironia, o poder de fazer “tremer” o réu.
A comparação com a Lava Jato não é descabida: o elogio ao comportamento de delatores, como Baptista Júnior, e a crítica aos que ousaram resistir, como Aldo Rebelo, revelam o verdadeiro conteúdo político da operação: premiar quem abaixa a cabeça e punir exemplarmente quem não se submete. Isso é justiça? Isso é democrático?
O autor ainda debocha dizendo que Bolsonaro vai alegar que sempre “jogou dentro das quatro linhas” e que tem respeito à Constituição em referência às críticas sobre as urnas eletrônicas, como se fosse absurdo questioná-las — ora, desde quando duvidar do processo eleitoral virou crime? Num País verdadeiramente democrático, o sistema eleitoral deveria ser transparente e passível de auditoria popular, e não blindado por uma casta de burocratas inatingíveis.
Pior ainda é fingir que Bolsonaro liderou algum golpe, quando não há armas, não há quartel mobilizado, não há ordem de prisão de ministros — apenas supostas mensagens e especulações. Um golpe sem golpe. Um julgamento sem crime.
O texto de Moisés Mendes representa o fundo do poço do setor dito progressista, que ao invés de combater a ditadura do judiciário, agora celebra, cultua e transforma em mito de salvação. Um juiz que chamou Lula de ladrão, o PT de organização criminosa, participou da derrubada de Dilma, chamou os atos da esquerda de guerrilha e serviu com orgulho ao governo Temer — esse juiz agora virou o ídolo do progressismo? Essa é a decadência final.
O autor termina dizendo que “Bolsonaro irá tremer diante de Alexandre de Moraes”. Não é apenas uma provocação infantil. É a consagração de uma política de força, que substituiu o pouco de lei e do devido processo legal que existia. Que “progressismo” é essa que defende um Estado policial?
O que Moisés Mendes defende é uma revanche cega, quer prisão mesmo que não tenha crime algum. Trata-se de substituir a luta nas ruas, no terreno da política, pela repressão do Estado. O problema é que os setores progressistas não controlam nem mesmo minimamente o judiciário. Qual o sentido de fortalecer um aparato que foi e que pode ser utilizado novamente contra a esquerda?
Isso, infelizmente, só fortalece a própria extrema direita. Se Bolsonaro for condenado sem provas e sem base legal, o que não há, o resultado será para a esquerda muito ruim, as bases bolsonaristas irão inflamar, a popularidade de Bolsonaro vai aumentar como aconteceu com Trump e Lula.