O sítio Esquerda Online publicou no último dia 14 um texto intitulado “Por que é um erro explorar petróleo na Bacia da Foz do Amazonas?”, no qual vemos um show de bizarrices relacionadas ao desenvolvimento do Brasil, ao meio ambiente e à indústria, como não poderia deixar de ser tendo o texto o título em questão.

O texto começa com o seguinte parágrafo:

A temperatura global média atingiu um novo recorde histórico em 2024. Pela primeira vez em séculos, superou 1.5°C de aquecimento. Assim, os eventos climáticos extremos são cada vez mais frequentes mundo afora. Secas devastadoras. Enchentes catastróficas. Derretimento acelerado das geleiras. Aumento do nível do mar. Ondas de calor insuportáveis. Ecossistemas inteiros em risco de colapso.

Em primeiro lugar, não é consenso que o aquecimento do planeta se dê por conta de combustíveis fósseis gerados pela indústria, ou pelos gases de vacas, como já sugeriram alguns. O problema reside justamente que o assunto é um “tabu”, ou seja, não pode ser discutido sem que a pecha de “negacionista” recaia em quem apresente dúvidas sobre o assunto, o que já serviria para desconfiar das intenções de quem quer que todos acreditem nisso a qualquer custo.

Em segundo lugar, eventos climáticos extremos acontecem desde antes do planeta Terra sequer existir com seu formato atual. Qualquer um que já deu uma olhada nas eras geológicas do planeta sabe que já houve épocas, por exemplo, que a Terra era uma bola de magma e que nem mesmo a água ficava em estado líquido devido às altas temperaturas. Ao mesmo tempo, grandes partes da superfície terrestre já foram cobertas de gelo, inclusive já durante a existência dos seres humanos.

Ou seja, “climas extremos” e catástrofes ambientais são parte do planeta e da vida dos seres humanos desde sempre e, mesmo que realmente seja verdade o aquecimento causado por seres humanos, não são causados exclusivamente por nós.

A política de tentar impedir o desenvolvimento industrial do Brasil por meio de pressão por questões ambientais é antiga e é fruto do imperialismo de conjunto, que já se desenvolveu e não quer concorrência, principalmente no que diz respeito ao petróleo, que sustenta o dólar nos dias de hoje, sendo parte do programa neoliberal para o país.

O Esquerda Online faz coro com o imperialismo e não deixa sequer de “passar pano”, utilizando uma gíria da época, para os neoliberais dentro do Brasil. Leia, por exemplo, o seguinte trecho do texto:

No Brasil, as inundações avassaladoras no Rio Grande do Sul e a seca severa em boa parte do país, no ano passado, foram efeitos dolorosos da emergência climática. O encarecimento dos alimentos tem como uma de suas causas esse processo.

Quem escreveu o texto não teve sequer o trabalho de uma pequena pesquisa na internet. O rio Guaíba, que transbordou no ano passado, já havia transbordado muitas outras vezes. O que tinha impedido o transbordo no passado recente foram algumas obras feitas ao longo do último século. Já o que fez o rio transbordar não foi o aquecimento global, mas sim, a destruição de parte dessas obras, principalmente por conta da falta de manutenção e de melhorias necessárias causadas pelos governos do Estado nas últimas décadas.

Ou seja, quem destruiu o estado do Rio Grande do Sul no ano passado não foi o aquecimento global, mas os direitistas que governaram o estado, como Eduardo Leite (PSDB). É interessante notar, por exemplo, que o Esquerda Online não cita os casos de Brumadinho e Mariana como sendo causados pelo aquecimento global, porque nesses dois casos a culpa da falta de obras após a privatização da Vale é evidente. Já no caso do Rio Grande do Sul, a imprensa buscou abafar as críticas ao governador, ao mesmo tempo que o governo do PT contribuiu para esconder a culpa da direita.

O texto, no entanto, segue, agora com críticas a Trump:

Porém, o sistema capitalista funciona para garantir o lucro dos bilionários, mesmo ao custo da devastação impiedosa da natureza. E, dentro desse sistema, os países mais ricos são os principais responsáveis pelo processo de destruição ambiental, tanto historicamente, quanto na atualidade.

Esse cenário se agrava considerando a ascensão da extrema-direita no mundo. Especialmente, agora, com o novo governo nos EUA. À frente da maior potência global, Trump aposta na expansão desenfreada da produção de combustíveis fósseis, além de romper com os poucos e insuficientes acordos mundiais voltados ao combate à emergência climática em nosso planeta.

Tudo bem dito, porém qual a solução? Os EUA exploram petróleo em todo o planeta, inclusive no Brasil. Os governos dos EUA durante a era FHC no Brasil, quando a Petrobrás começou a ser privatizada, assim como o governo durante o golpe de 2016, que privatizou outra parte e impediu o desenvolvimento que o país teria com o Pré-Sal não foram durante os governos Trump. Ainda assim, os EUA exploram petróleo, inclusive da Foz do Amazonas, através das Guianas.

Ou seja, se a culpa é dos EUA, qual a solução que o Esquerda Online coloca? Mais abaixo no texto, é dito que os países ricos deveriam pagar para que o Brasil não explore o petróleo, o que é uma bizarrice completa, pois é o pagamento para que o país não se desenvolva. É como se o Brasil ainda fosse uma colônia que recebe uma compensação da metrópole, o que fere completamente a soberania do Brasil.

Ao mesmo tempo, o sítio coloca que a Petrobrás deveria ser completamente estatal, o que concordamos. No entanto, ao invés de utilizar os recursos da empresa para desenvolver o País e melhorar a vida da população, a solução que apresentam é a de que deveria haver garantias de que o dinheiro seria usado para a chamada “transição energética”. Ou seja, passamos anos sem poder explorar o que é nosso, vemos o país afundar (literalmente, como vimos no caso do RS), mas quando vamos explorar o petróleo novamente, devemos gastar para acabar com a exploração de petróleo e basear toda a atividade do Brasil na transição energética, que nenhum outro país do mundo está levando a sério, porque não leva a lugar algum.

“Ademais, não há sequer garantia da utilização da renda gerada por esses recursos para investimento massivo em novas rotas tecnológicas para a transição energética, ou mesmo para redução das desigualdades sociais e econômicas na região Amazônica e proteção dos povos originários. Por todos fatores elencados acima, a exploração de petróleo e gás na Bacia da Foz do Amazonas não se justifica.”

Em outro momento do texto, o editorial entra no assunto da falta de desenvolvimento do Brasil e a produção exclusiva de matérias prima:

Tendo em conta esse contexto global, o Brasil necessita, com urgência, de um robusto projeto de de soberania energética baseado na descarbonização da economia e de novas rotas de tecnológicas. Um programa que possa garantir a transição energética e ecológica, assim como a superação das profundas desigualdades sociais e regionais do país e de sua posição subalterna na divisão internacional do trabalho, centrada na exportação de commodities. A possível exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas vai na contra-mão dessa necessidade estratégica.

Perceba o leitor que o texto não vai em direção à ideia de que o Brasil precisa se desenvolver. O que quer o texto é simplesmente acabar com a produção de “commodities”, mas não diz que devemos produzir outros tipos de produtos, como produtos industrializados.

A ideia é a seguinte: a esquerda sempre criticou o fato de o Brasil só produzir matérias prima, porém nunca foi a favor de acabar com essa produção, mas de produzir produtos industrializados, com mais tecnologia, como os países imperialistas têm capacidade de fazer. No entanto, o que o texto coloca, é a necessidade de simplesmente acabar com a produção de matérias prima, o que simplesmente levaria o Brasil ao colapso completo e é impossível de ser feito. Bastaria uma olhada na produção de xisto e milho por parte dos EUA para ver como esse país nunca deixou de produzir “commodities”, mas produz, além disso, produtos altamente industrializados e tecnológicos.

Quando o texto fala sobre “tecnologias”, não dá para saber o que queriam dizer. Porque, para novas tecnologias, é necessária a indústria, assim como a exploração de petróleo. Até mesmo para a criação de tecnologias “verdes” seria necessário que o Brasil primeiro desenvolvesse outras tecnologias que necessitam dos famigerados combustíveis fósseis.

Agora, observe o seguinte trecho:

“Sendo assim, ainda que a Petrobras cumpra as condições exigidas pelo Ibama para a exploração na Foz do Amazonas, seria desastroso ao país anunciar a prospecção de petróleo e gás nessa região a poucos meses da COP-30, que ocorrerá em Belém, no Pará.”

Depois, sem problemas? A declaração mostra que toda a política de impedir o país de explorar petróleo é apenas um aceno ao imperialismo. A necessidade é que o país apareça para os EUA, a Europa e o Japão como um país bonzinho, que seguirá a política imposta sem pestanejar.

O texto, no entanto, não para, e é hora de tecer elogios ao Ibama, órgão sem voto e que hoje é como a Polícia Federal e o Banco Central, independente da vontade do governo, agindo inclusive, contra o País e a serviço do imperialismo:

É preciso respeitar o Ibama

A Bacia do Foz do Amazonas fica numa região ambientalmente sensível, por diversas razões. Seja por abrigar um ecossistema costeiro único e delicado, seja por estar atravessada por correntes marítimas muito fortes, que amplificariam os efeitos de um eventual derramamento de óleo. Mesmo com toda a capacidade de segurança da Petrobras nas operações, acidentes podem acontecer.

Por isso, consideramos essencial que o governo Lula respeite os estudos e pareceres do Ibama sobre a questão. É preciso cessar os ataques ao órgão, que até aqui tem negado à Petrobras a licença para a exploração da Bacia da Foz do Amazonas. A autonomia e o fortalecimento do Ibama são fundamentais para garantir o compromisso do país em relação à preservação ambiental e ao combate às mudanças climáticas.

Por fim, pedimos ao leitor que leia os próximos dois parágrafos extraídos do texto do Esquerda Online, depois olhe os mapas contendo o tamanho da Floresta Amazônica e o tamanho da chamada “Bacia da Foz do Amazônia”, que nem na floresta está:

“A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, representando um conjunto de ecossistemas que abrigam uma biodiversidade vasta e única no planeta. Além da riquíssima fauna e flora, vivem na Amazônia Legal mais de 400 mil indígenas pertencentes a 180 povos. A proteção e a recuperação desse território deve ser uma prioridade do Estado e da sociedade brasileira.”

“A vida na Amazônia está seriamente ameaçada pelo avanço da fronteira agrícola e da pecuária, pela destruição causada pelo garimpo e também pelas atividades ligadas à mineração. A permissão para exploração petrolífera nas reservas existentes na Bacia da Foz do Amazonas, que ficam cerca de 150km do litoral, coloca em risco, em caso de vazamento de óleo, um ecossistema costeiro sensível e precioso que é formado pelo desague do maior rio do planeta.”

Área em verde é o tamanho total de floresta.

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Last Update: 20/05/2025