Na última segunda-feira, o colunista Moisés Mendes publicou no Brasil 247 o texto intitulado “Supremo fica mal, se entubar a agressão de Tarcísio”. Nele, sustenta a ideia de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, “afrontou publicamente” o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente o ministro Alexandre de Moraes, ao reproduzir a declaração de Donald Trump, nas redes sociais, defendendo que Jair Bolsonaro deveria ser julgado “somente pelo povo brasileiro, durante as eleições”.

Para o autor, “Tarcísio de Freitas apoiou o ataque de Donald Trump ao Brasil com um objetivo muito claro até para um dedicado estagiário de 5ª série”. É evidente que nenhum setor nacional sério deve apoiar qualquer forma de ingerência externa, muito menos vinda de um governo estrangeiro. No entanto, declarações e denúncias fazem parte do jogo político.

O verdadeiro problema está no fato de que, tanto Tarcísio quanto Alexandre de Moraes, ainda que em trincheiras distintas, são representantes diretos dos interesses estrangeiros dentro do País. O primeiro atua como alternativa “civilizada” da extrema direita; o segundo, como garantidor judicial dos interesses do imperialismo.

Moisés classifica Tarcísio como um “extremista moderado” que envia “dois recados”: um à base bolsonarista, buscando fidelização; e outro ao STF, que, segundo ele, “fica mal com a atitude” do governador. Ao final do texto, questiona dramaticamente: “O STF vai entubar a agressão de Tarcísio?”

Ora, essa leitura é completamente equivocada. O autor acredita, ou quer fazer seus leitores acreditarem, que há uma oposição real entre Tarcísio de Freitas e Alexandre de Moraes. Isso é uma farsa. Ambos estão do mesmo lado do regime. A ilusão de conflito entre eles é apenas parte do teatro do regime político.

O STF, longe de ser uma instituição neutra, é hoje um verdadeiro partido político da ditadura imperialista, responsável direto pela promoção de um golpe de Estado pela via judicial contra os direitos democráticos. O ministro Alexandre de Moraes, elevado à condição de “grande herói civilizatório” pela imprensa golpista, persegue adversários políticos, fecha veículos de comunicação, censura redes sociais, prende sem prova e avança contra a liberdade de expressão, em nome de uma suposta “defesa da democracia”. A mesma “democracia” que cala vozes da oposição, mas preserva os interesses da burguesia imperialista.

Tarcísio, por sua vez, não é um inimigo do STF, tampouco uma ameaça real ao ministro Moraes. O autor da coluna reconhece, ainda que de maneira envergonhada, essa relação de parceria. “O Globo deixa claro que Tarcísio toma o melhor cafezinho no STF”.

De fato, o governador é blindado pelo próprio Supremo, que sequer exigiu seu depoimento no inquérito do “8 de janeiro”, diferentemente de militares de baixa patente ou figuras secundárias do bolsonarismo que estão presos há meses sem julgamento.

Portanto, quando Tarcísio declara, ecoando a declaração de Donald Trump, que “o presidente deve ser julgado somente pelo povo brasileiro”, não está fazendo um desafio ao STF — está jogando para a plateia bolsonarista, tentando capitalizar sua popularidade de maneira oportunista. Moisés Mendes afirma que “o Supremo fica mal com a atitude do extremista moderado”, mas quem fica mal é o colunista, ao cair — e querer puxar a esquerda — nesse conto de fadas da Justiça burguesa.

É preciso dizer claramente: não houve tentativa de golpe de Estado por parte de Bolsonaro, e sim uma tentativa do próprio regime de afastá-lo do processo eleitoral — o único líder de direita com base popular real — para substituí-lo por uma alternativa mais palatável, como o próprio Tarcísio.

Nesse sentido, a declaração do governador de São Paulo, embora oportunista, está correta: quem deve julgar Bolsonaro é o povo, nas eleições, e não o STF — um tribunal aparelhado, partidarizado, que age à revelia da Constituição Federal, como um órgão de repressão política. O autor da coluna, ao defender essa máquina autoritária, contribui para o aprofundamento do estado de exceção no País.

Não por acaso, a imprensa golpista — a mesma que exalta Alexandre de Moraes — também impulsiona Tarcísio. Como afirma Moisés, “duas emissárias dos recados dos comandos bolsonaristas na grande imprensa, as jornalistas Bela Megale e Malu Gaspar, do Globo, já publicaram notinhas em que Moraes aparece como um ministro acossado pelo poder de Tarcísio”. Ao contrário: essas jornalistas são peças de um esquema de construção de uma candidatura, sem as contradições de Bolsonaro, mas com o mesmo programa ainda mais repressivo e entreguista.

Aliás, o histórico de Tarcísio comprova isso. Seu governo em São Paulo promoveu as maiores chacinas da história recente da PM e entregou um dos maiores patrimônios do povo paulista: a SABESP. Em vez de críticas, recebe silêncio cúmplice do Supremo. Isso mostra que sua política é funcional ao regime, e é exatamente por isso que ele não será perseguido como Bolsonaro. Ele é o novo rosto da direita que representa o imperialismo — o Bolsonaro que a burguesia gostaria de ter tido desde o início, ou melhor, o Milei brasileiro.

A coluna de Moisés Mendes termina cobrando do STF uma reação: “o STF será discreto diante da arrogância de Tarcísio de Freitas?”. A pergunta deveria ser: desde quando o STF reage contra os verdadeiros representantes da burguesia? Onde estavam suas ações contra os tucanos, como Aécio Neves, Serra, Alckmin e tantos outros? A verdade é que a burguesia não persegue seus próprios quadros, apenas os que, como Bolsonaro, ocupam um terreno político que não caberia ocupar.

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Last Update: 09/07/2025