À espera do Chanceler
por Felipe Bueno
Madame Rosenberg, minha fonte há muito tempo sobre o que acontece e o que deixa de acontecer na Alemanha, me contou recentemente que, além das expectativas pela nova camisa da seleção nacional, as próximas eleições têm despertado singular interesse.
A escolha deste fevereiro para as cadeiras do Bundestag será direcionada por temas que vão desde como estancar o enfraquecimento da economia (com prováveis revisões tributárias e de benefícios sociais para cima ou para baixo, dependendo da visão de quem vencer) ao escorregadio impasse sobre a imigração – questão que vai longe de interessar apenas à extrema-direita: afinal, o até agora favorito CDU caminha para os últimos dias de campanha sob a sombra de uma recente e temida aproximação (factual? ideológica?) com a AfD.
Com assuntos internos sérios para resolver, o futuro chanceler ainda corre o risco de assumir o controle do país tarde demais para dar suas opiniões ou tomar posições diante do problema mundial do conflito entre Rússia e Ucrânia, um drama que vai completando três anos com chance de reviravolta desde a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
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Certamente as cabeças pensantes que disputam o cargo de chanceler na Alemanha têm em mente que o elemento Trump traz um ponto de interrogação colateral: se houve uma mudança de posição dos Estados Unidos diante do que acontece entre Rússia e Ucrânia, por que não haveria uma revisão mais ampla da política entre os líderes dos dois lados do Atlântico, estável, apesar de alguns maremotos, desde os tempos da Guerra Fria?
Em momentos como esse, o futuro chanceler obrigatoriamente terá que olhar para além das quatro paredes de seu gabinete e das fronteiras de seu país. Madame Rosenberg, do charme de sua varanda em Berlim, disse-me visualizar, ao fim da conversa à distância, o futuro chanceler num tranquilo fim de tarde à margem do Reno, refletindo e se perguntando, angustiado, quanto tempo a Alemanha e a Europa passaram dormindo enquanto o mundo mudava?
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.
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