Lançar um livro que combina futebol e literatura sob uma perspectiva feminina é um desafio audacioso. No entanto, para a autora Adrienne Savazoni, é também um gesto de resistência. A obra reúne crônicas, ensaios, contos e artigos publicados entre 2018 e 2023, no Portal Vermelho e outros veículos.
“Escrever sobre futebol nesses espaços para mim se tornou um ato de resistência, de empoderamento. Como mulher, fui acostumada a duvidar da minha palavra, como se a palavra ‘futebol’ representasse um universo proibido para a mulher, cercado de tabus, crenças e valores do masculino, um lugar do interdito”, reflete Adrienne.
No universo das crônicas esportivas, a presença feminina ainda é tímida, mesmo com o aumento de mulheres em papéis de comentaristas, narradoras e repórteres. Para Adrienne, a escrita ocupa outro lugar de intervenção: “Talvez porque a escrita represente o público, tão costumeiramente tomado pelos homens.”
No entanto, Futebol também é Palavra de Mulher vai além da resistência. A obra convida o leitor a enxergar o futebol como metáfora da vida, explorando suas dimensões humanas, líricas e poéticas. “A intenção deste livro não é só ser resistência feminina no campo da bola, mas também abordar o futebol em seus aspectos mais humanos, porque a poesia seja a necessidade mais crucial que o futebol incita em seus amantes”, pontua a autora.
Adrienne constrói uma narrativa que desfaz o ideal do jogador super-herói e aproxima o leitor dos dramas humanos vividos nos gramados e nos bastidores. “Os personagens citados nada mais são do que atores com os quais nos identificamos em seus dramas pessoais e profissionais, ao invés de super-heróis que idealizamos.”
Com o lirismo de quem ama e critica o futebol na mesma medida, Adrienne propõe um novo olhar: “O futebol não é um esporte masculino. O futebol é humano. E, por isso, também pode ser palavra de mulher. Já que esse esporte não foi feito exclusivamente para ser jogado. Ele pode e deve ser pensado, falado, assistido, escrito, pintado e desenhado.”
No prefácio da obra, a autora conclui com um manifesto que inflama o leitor a lutar por um futebol inclusivo e livre de preconceitos: “É um livro que ama e cuida do futebol. Por essa razão, denuncia aquilo que dele se aproxima a fim de explorá-lo, de degradá-lo. Luta contra aqueles que querem fazer dele um campo de uma só voz: machista e preconceituosa. É um livro que nos inflama a querer um futebol melhor. Um futebol que seja nosso. Que seja humano para ser de todos e todas!”
Futebol também é Palavra de Mulher, publicado pela editora Campo e Bola, é mais que uma antologia sobre futebol: é uma convocação para repensar o esporte, sua essência e suas vozes. Afinal, como Adrienne nos lembra, o futebol também pode — e deve — ser contado por mulheres.
