Wagner Gomes
Se a humanidade precisava de uma prova irretorquível de seu vazio existencial, não precisa mais. O mundo desabou com fraldas de algodão egípcio e chupetas esterilizadas. O último grito da insanidade atende pelo nome de “bebê reborn”, que até já deu cria: “o bebê rouborn”. Um boneco hiper-realista que não anda, não fala, não faz birra e ainda assim provoca mais escândalo do que reunião de condomínio em prédio pet-friendly. Sim, estamos diante de uma nova espécie de parentalidade: a dos adultos que simulam partos, matriculam bonecos em creches, os levam ao pediatra — e disputam na Justiça a guarda da almofada com cílios. Há casos reais de ex-casais se digladiando pela senha do Instagram da boneca, que, claro, já gera receita como qualquer mini-influencer com a consistência emocional de uma poltrona puída. Padres chamados para batizar os reborns — e eu achando que a crise da fé se resolvia com pão e vinho. Até o polêmico Padre Fábio de Melo foi arrastado para essa travessia do nonsense: num vídeo feito em Orlando, apareceu “adotando” uma boneca com síndrome de Down, em homenagem à sua mãe. Um gesto fofo, apesar de ridículo, se parasse ali. Mas não: a boneca tinha visto americano, autorização de entrada no Brasil e uma legião de seguidores mais fervorosa que romaria em Aparecida. Segundo ele mesmo explicou depois, tratava-se apenas de uma brincadeira para ajudar um amigo dono da loja de bonecas. Não sei se isso melhora alguma coisa… Um gesto simbólico, mal contextualizado, mas que acabou viralizando. Surtou nas redes sociais. As artesãs que fabricam os bonecos são chamadas de “cegonhas”. Porém, ao invés de trazerem vida, entregam silicone e delírio embalado a vácuo. E não falta quem aplauda: redes sociais estão entupidas de adultos em plena crise existencial, filmando mamadeiras, trocas de fraldas e choros imaginários — tudo para performar afeto onde não há afeto nenhum. É a síndrome do carinho sem destinatário. O prefeito de Chapecó, em um raro lapso de sanidade pública, determinou internação compulsória para quem leva reborn ao SUS. Já Brasília, sempre no modo pastelão, discute projetos de lei para vetar privilégios civis ao boneco. O que é mais assustador: o projeto em si ou o fato de que precisou ser proposto? No próximo episódio, prepare-se: casamentos com hologramas e bebês de IA com direito a mesada. Pelo andar da carruagem, o futuro será um berçário de absurdos, onde todo mundo é pai de ninguém — e ainda briga por pensão. Que fase, Brasil, que fase!
Wagner Gomes – Articulista