Quando estamos discutindo problemas sociais complexos, como a desigualdade, a pobreza, o desemprego e até mesmo o crescimento da extrema-direita, comumente algo é apontado como solução: a educação. Desde o ensino primário, os professores ensinam que a educação é a panaceia, aquilo que salvará a humanidade de todos os males. Esse discurso é reverberado pelos políticos, que sempre prometem investir mais em educação, mas, ao mesmo tempo, não direcionam nem 3% do orçamento nacional para esse setor. A questão é: será que a educação realmente tem todo esse poder como dizem?

Objetivamente, a resposta é não. Primeiramente porque há o velho problema de quem educa o educador. Ser professor não é garantia de grande sabedoria ou até mesmo de ter conhecimento correto. Pare para pensar em todos os professores que você já teve na sua vida. Todos eles falavam coisas que correspondiam à realidade? Todas as aulas, ou até mesmo a maioria delas, eram realmente úteis? Claro que não. Para ilustrar, basta pensar em figuras famosas que se dizem professoras, tais como Pablo Marçal, Valter Pomar ou a Mulher Melão. Sendo aluno deles, é improvável que você aprenda algo útil ou até mesmo algo que corresponda à realidade, e é assim com vários outros professores que dão aulas por aí.

O segundo ponto é que praticamente nenhum país foi profundamente transformado pela educação. E escrevo aqui “praticamente” só porque pode haver algum país que tenha sido profundamente transformado pela educação e eu não conheça, mas até onde vai o meu conhecimento, a educação nunca foi um fator que levou à transformação fundamental de qualquer nação. Pelo contrário, a mudança na educação normalmente é uma consequência de uma mudança mais ampla na sociedade, sobretudo a mudança do poder político. Por exemplo, a revolução russa não ocorreu porque investiram mais em educação ou porque os livros de Marx passaram a ser obrigatórios nas universidades. Pelo contrário, os marxistas eram perseguidos impiedosamente na Rússia pré-revolucionária. O que fez com que a educação russa fosse profundamente modificada foi a tomada do poder pelos bolcheviques, que conduziram uma profunda mudança social, inclusive na educação, ampliando exponencialmente o acesso a creches, mudando os currículos das escolas e fomentando o desenvolvimento científico como nunca antes na Rússia. Se a mudança realmente dependesse da educação, talvez até hoje a Rússia seria um país semifeudal, assim como China, Vietnã e tantos outros países.

O terceiro ponto é que ter um alto nível educacional não implica necessariamente agir em prol da humanidade. Joe Biden tem graduação no ensino superior. Benjamin Netaniahu tem graduação e mestrado. Fernando Henrique Cardoso tem graduação, mestrado e doutorado. Os três têm em comum não apenas os títulos universitários, mas também os ataques contra a humanidade, seja através de um genocídio direto como fizeram Netaniahu e Biden, seja através da adoção de medidas econômicas que mataram várias pessoas como fez FHC.

O quarto ponto é que países com nível educacional altíssimo têm observado um crescimento sistemático da extrema-direita. Se pegarmos os 10 países do mundo com maior nível educacional (Austrália, Nova Zelândia, Islândia, Finlândia, Suécia, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Noruega), em todos eles a extrema-direita cresce. O caso da Alemanha é particularmente dramático, pois é o país que passou pelo nazismo, tem inúmeros monumentos espalhados no seu território em homenagem às vítimas desse atroz movimento político, é um dos países mais educados do mundo, e ainda assim, a cada eleição o partido de extrema-direita AfD cresce. Banho de água fria naqueles que acham que a educação combaterá o fascismo.

Fica mais do que claro que a educação não resolverá todos os nossos problemas, nem mesmo os que mais são discutidos atualmente. Isso é crucial para que não tenhamos ilusões com relação ao seu papel e não sejamos enganados por discursos demagógicos. Pelo contrário, quando sabemos do verdadeiro potencial da educação, podemos concentrar nossos esforços para que ela atinja aquilo que é possível, e focar em outras estratégias para resolver problemas que ela não consegue solucionar. Assim, é importante entender que o papel central da educação no desenvolvimento nacional é o entendimento de como a realidade funciona objetivamente e, embasado nesse entendimento, a promoção de tecnologias que aumentem a produtividade do trabalho. Nada da velha ladainha de formar “cidadãos melhores” (seja lá o que isso signifique), ou algo parecido, o que a educação pode fazer concretamente é tornar o trabalho cada vez mais qualificado e capaz de promover incrementos significativos à economia, como o aumento da produtividade do trabalho.

Assim, criticar a educação não significa achar que ela não sirva para nada. Ela tem seu valor. Devemos investir mais nela. Entretanto, tomar o poder político é ainda mais importante. Se você quer que a educação de fato transforme algo, é bom começar a pensar em formas de tomar o poder, e isso só poderá ser feito mobilizando a população.

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Last Update: 23/01/2025