Na última segunda-feira (20), o bilionário republicano Donald Trump voltou à Casa Branca, com uma série de polêmicas e promessas que fariam, segundo ele, fazer os Estados Unidos se tornarem grandes novamente.
Entre as medidas para retomar a hegemonia global estão a ameaça de tarifar em até 100% produtos de parceiros comerciais, além da suposta tomada de territórios, como o Canadá, o Canal do Panamá e a Groenlândia.
Para analisar os projetos políticos do presidente recém-empossado, professor de pós-graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Andrés Ferrari, participou do programa Nova Economia.
Para o entrevistado, a segunda etapa do governo Trump será bastante complexa, ainda mais complexa em comparação à gestão anterior, porque os Estados Unidos estão em um cenário interno e externo mais emblemático em comparação a anos atrás.
O primeiro ponto delicado que o presidente norte-americano terá de enfrentar é a relação com a China, que antes não tinha grande parceria comercial com a Rússia e a Índia e hoje os países formam o bloco econômico dos Brics.
“A relação entre a China e a Rússia é muito forte, é muito decidida por ambos os países, e há uma série de outros países de grande importância, como a própria Índia, como vários africanos, que também estão se juntando neste questionamento ocidental”, aponta o professor.
O cenário interno não se apresenta menos desafiador. “Internamente, a situação econômica da população nos EUA é muito complexa. Há pessoas passando por situações econômicas muito difíceis, que já vinham antes, mas que se tem agravado durante o período do Biden. Então, quer dizer, Trump vai encontrar um marco externo e um marco interno muito mais difíceis que em 2020, e tem muitas menos ferramentas para fazer frente a isso.”
Para Ferrari, até agora Trump deu muitas declarações, muitas bravatas, mas como não resolveu questões econômicas no seu primeiro mandato, dificilmente vai resolver agora.
Leda Paulani, economista e professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), comentou que apesar de o discurso de Trump ser aterrorizante, o presidente norte-americano utilizou as bravatas pra fazer jus aos eleitores, apoiadores e financiadores que o elegeram.
“Do ponto de vista econômico, toda essa questão de que é o que nos atinge mais, que é essa coisa do tarifaço, de você ter 100% de tarifas em todos os produtos importados, do BRICS, etc., acho que a coisa tem de ser muito mais lenta do que isso, e vai ser porque ele tem um problema interno”, comentou a integrante da bancada do Nova Economia.
A professora explica que, por muito tempo, os EUA se valeram do privilégio de emitir o dólar. “Então, os Estados Unidos vivem disso e têm vivido disso nas últimas décadas. Isso implica que eles têm déficits recorrentes de transações correntes muito, muito grandes, substantivos, o que significa dizer que eles produzem pouco de tudo aquilo que eles consomem. E se eles vão dar esse choque de tarifa naqueles que são seus maiores parceiros, quem mais exporta para os Estados Unidos é China, é Brasil, é Argentina.”
Tal medida, se levada adiante pelo novo presidente, resultará em inflação interna.
Conflitos internacionais
Apesar do cessar-fogo estabelecido entre Israel, apoiado pelos norte-americanos, e o Hamas, o mundo ainda tem o conflito entre Rússia e Ucrânia para tentar apaziguar, além de guerras na África.
Mas, na visão de Ferrari, Trump não deve se envolver em tais questões se as vantagens para os EUA não estiverem claras.
“Trump vem com uma lógica de empresário exitoso. É o que ele fez anteriormente, e afirma que seus envolvimentos militares só têm sentido do ponto de vista econômico”, continua o economista.
“Por outro lado, os EUA têm o maior número de desabrigados da história. Há 40 milhões nos Estados Unidos que dependem da alimentação pública para subsistir, no programa SNAP, 40 milhões e isso vem se agravando, sobretudo a partir da crise de 2008. Então, além da parte que podemos vincular com as guerras vinculadas com a ideologia do Biden, há um elemento econômico das guerras que não são produtivos, mas que sustentam certas estabilidades, a inflação”, continua o entrevistado.
No entanto, Andrés Ferrari ressalta que a lógica do Trump parece improvisada, pois além de defender a taxação de importados, mesmo sob o risco de inflação, ele também anunciou um programa para aumentar a produção de petróleo e informou a saída da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
“A Otan está perdendo competitividade para a China. A China, se houver redução das importações dos Estados Unidos, vai inundar a Europa. Se houver uma apreciação do dólar com esse movimento, os capitais europeus vão comprar também. Ou seja, o mundo está de ponta-cabeça”, explica o economista.
Confira o debate na íntegra no Youtube da TVGGN ou no link abaixo:
LEIA TAMBÉM: