Blog: Democracia e Economia – Desenvolvimento, Finanças e Política
A desigualdade econômica como reflexo da crescente desigualdade política nas democracias contemporâneas.
por [Pedro M. R. Barbosa]
O livro Desigualdades sustenta que as democracias contemporâneas têm se caracterizado por um crescente viés de representatividade em prol dos interesses dos mais ricos. Resta, contudo, desvendar se é a desigualdade política que gera a desigualdade econômica ou o inverso.
Lançado em 2024, o livro “Desigualdades: políticas públicas, responsividade e redistribuição em uma era de desigualdade econômica ascendente” se insere em um amplo debate sobre desigualdade política nas democracias contemporâneas.
A motivação central dos organizadores do livro, Lupu e Pontusson, é apontar que o viés pró-ricos não constitui uma particularidade da democracia estadunidense, como diagnosticado por Bartels, mas tem se revelado uma característica sistemática nas democracias representativas.
Essa premissa inspira-se numa teoria clássica da economia política, de Meltzer e Richard, segundo a qual, sob o sufrágio universal, o aumento da desigualdade inclina a estrutura de preferências do eleitorado em favor dos interesses dos mais pobres, pressionando os governos a serem responsivos à pauta de redistribuição.
Além da questão da desigualdade econômica, o livro explora a congruência entre as preferências dos distintos setores sociais – classe baixa, média e alta – e a implementação das políticas públicas em diversos contextos.
Constatação tal significa a ruptura com um ideal pluralista de democracia, relacionado à constituição de sistemas como poderes difusos, compostos por uma pluralidade de grupos cujas capacidades de pautar suas agendas são relativamente equânimes.
É interessante recordar que parte das críticas às perspectivas pluralistas, sobretudo às mais idealistas, acusam-nas de desconsiderar elementos estruturais, externos às instituições políticas, que condicionam a capacidade desigual de certos setores sociais influenciarem o poder.
Além disso, como debatido em um dos capítulos do próprio livro, Bartels aponta limitações nas análises de desigualdade política e de responsividade.
Em suma, o livro estabelece um debate crucial sobre a evolução recente da igualdade política, sugerindo que as democracias têm se caracterizado por um “pluralismo enviesado”. Contudo, o diagnóstico apresentado padece de limitações, sobretudo porque parte de premissas problemáticas.
Pedro M. R. Barbosa – Pesquisador de Pós-doutorado do Centro de Estudos da Metrópole/USP
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O Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento (FINDE) congrega pesquisadores de universidades e de outras instituições de pesquisa e ensino, interessados em discutir questões acadêmicas relacionadas ao avanço do processo de financeirização e seus impactos sobre o desenvolvimento socioeconômico das economias modernas.
O Grupo de Estudos de Economia e Política (GEEP) do IESP/UERJ é formado por cientistas políticos e economistas. O grupo objetiva estimular o diálogo e interação entre Economia e Política, tanto na formulação teórica quanto na análise da realidade do Brasil e de outros países.
[1] O livro está com acesso aberto disponível em: https://www.cambridge.org/core/books/unequal-democracies/5544C1CE53545F4094B21E03B90D2F1D
[2]Tradução livre: Democracias desiguais: políticas públicas, responsividade e redistribuição em uma era de desigualdade econômica ascendente.
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