Por trás da aparente submersão política do coach Pablo Marçal, marcada por viagens internacionais e a retomada da venda de seus cursos, se esconde uma operação política discreta, mas agitada. Depois de passar boa parte de 2024 disparando ataques e acusações infundadas nas redes sociais — uma estratégia que coincidiu com sua tentativa de inserção no jogo político nacional —, Marçal agora observa de longe enquanto aliados tentam manter seu nome vivo para 2026.
O epicentro desse esforço é o PRTB, uma sigla nanica que adotou Marçal. À frente da empreitada está Leonardo Avalanche, presidente do partido e entusiasta das ambições do coach. “Nosso principal foco é a eleição de Pablo Marçal para presidente, e concomitantemente fazer a maior bancada de deputados federais do Brasil, trabalhando arduamente também para elegermos uma bancada de senadores e alguns governadores”, diz ele a CartaCapital.
Nos bastidores, porém, as movimentações nem sempre empolgam – já que o histórico e a ficha de Marçal na Justiça Eleitoral não depõem a favor dele ou do partido.
Uma tentativa recente de aproximação com o PSD esbarrou no ceticismo de Gilberto Kassab, que ouviu Avalanche e respondeu com a promessa vaga de “vamos marcar”. No PL, Marçal é visto como uma figura imprevisível, distante do bolsonarismo-raiz — e, por isso, alvo a ser neutralizado. Em setembro, Valdemar Costa Neto cravou: “Marçal fechou portas com o PL”. A declaração veio após o coach sugerir que Bolsonaro só apoia parentes como candidatos.
Por ora, o único trunfo concreto foi a filiação de Otoni de Paula, deputado federal do Rio de Janeiro, ao PRTB. A aliança foi vendida como uma jogada articulada com Marçal — mas interlocutores próximos ao coach garantem que ele sequer participou da costura. Aceitou por “gratidão” à sigla que o acolheu.

O deputado Otoni de Paula e o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche. Foto: Divulgação
Ainda que publicamente o PRTB projete Marçal como seu candidato à Presidência, aliados admitem que o coach pode saltar do barco. O motivo é prosaico: falta de estrutura. Para disputar o Planalto, ele precisará de algo que sempre desprezou: tempo de TV, fundo partidário, articulação. E o PRTB, que elegeu um único prefeito em 2024, dificilmente entregará essa musculatura.
Uma migração para o PSDB está descartada – não apenas pelo iminente fim do partido, mas também pelo fator Marconi Perillo. Segundo relatos de interlocutores a CartaCapital, o ex-governador de Goiás e o coach não nutrem uma boa relação.
Em outra frente, Avalanche conversa com Rodrigo Manga, prefeito de Sorocaba e nome de peso no Republicanos. Mas qualquer entendimento com o partido esbarra em um obstáculo considerável: o governador Tarcísio de Freitas, que mantém distância sanitária de Marçal.

Pablo Marçal tenta firmar-se como uma liderança da extrema-direita pós-Bolsonaro. Foto: Renato Pizzutto/Band
O MDB, por outro lado, surge como uma alternativa mais robusta — ao menos no papel. O partido tem capilaridade, representação e ainda não escolheu um nome forte para 2026, seja para o Planalto ou para o governo de São Paulo, segunda opção de Marçal. Mas a ideia enfrenta resistências internas. Muitos enxergam no coach uma bomba-relógio, capaz de sabotar negociações e acordos em nome de seu discurso “anti-sistema”.
Outro problema é o próprio Marçal, que se vê superior a decisões coletivas – o que contraria a lógica de funcionamento de uma legenda com 44 deputados, nove senadores e alianças que vão da direita à base lulista.