Eventos extremos se multiplicam no hemisfério norte, revelando um planeta que oscila entre secas, enchentes e calor insuportável — tudo ao mesmo tempo


Enquanto autoridades e especialistas discutem estratégias contra a crise climática em eventos como a London Climate Action Week, o planeta enfrenta um aviso brutal: as temperaturas recordes deste verão estão colocando milhões à prova. Sob o efeito de “domos térmicos”, cidades dos EUA e Europa registram marcas acima dos 40°C, enquanto cientistas alertam que esses eventos triplicaram desde meados do século XX – e só tendem a piorar.

Na última semana, Nova York e Londres bateram recordes alarmantes. Em Manhattan, os termômetros chegaram a 37,2°C (99°F), enquanto o aeroporto JFK registrou 40,5°C (102°F). Na Europa, Grécia, Espanha e França enfrentam asfalto derretido e riscos à saúde pública. Enquanto o hemisfério norte queima, partes da China sofrem com enchentes devastadoras – um paradoxo que ilustra a complexidade da crise climática.

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O que são os “domos térmicos” e por que estão se intensificando?

De acordo com Michael Mann, climatologista da Universidade da Pensilvânia, os “domos térmicos” são sistemas de alta pressão que funcionam como “armadilhas de calor”. Quando uma massa de ar quente fica presa na atmosfera superior, ela se expande e bloqueia a circulação normal do ar. “É como se o planeta tentasse respirar, mas encontrasse uma barreira que não deixa o calor escapar”, explica.

Esse fenômeno está diretamente ligado à alteração do jato polar, uma corrente de vento que circula o globo em alta velocidade. Estudos liderados por Mann, publicados na PNAS, mostram que o aquecimento global está tornando essa corrente mais lenta e irregular. Consequência? Sistemas de pressão ficam estacionários por dias, prolongando secas, incêndios e chuvas extremas. “Não se trata apenas de calor intenso, mas de sua persistência”, ressalta o cientista.

Calor + umidade: uma combinação mortal

Quando altas temperaturas se unem à umidade elevada, o corpo humano entra em risco. Em Londres, onde os termômetros não chegaram a níveis extremos como no sul da Europa, a sensação térmica ultrapassou 40°C, deixando a população exausta. “Sem refrigeração ou hidratação adequada, qualquer pessoa pode entrar em colapso”, alerta a National Weather Service (NWS) dos EUA.

Enquanto o Meio-Oeste e o leste dos EUA continuam sob alerta de calor extremo, estados como Novo México e Texas enfrentam um contraste brutal: algumas regiões sofrem com seca, enquanto outras são atingidas por tempestades repentinas. Esse cenário reflete a instabilidade crescente do clima, onde a energia acumulada na atmosfera se manifesta de formas imprevisíveis.

Por que esses eventos estão se tornando mais frequentes?

Dados históricos revelam que fenômenos de “ressonância quase amplificada” – que travam sistemas climáticos por longos períodos – eram raros antes dos anos 1980. Hoje, são cada vez mais comuns. “Os modelos climáticos tradicionais subestimam essa mudança. Estamos vendo transformações que nem sequer conseguimos prever totalmente”, afirma Mann.

Um ciclo vicioso se forma: o ar quente do Pacífico é capturado pelo jato polar, forma um bloqueio em formato de “ômega”, expande-se para cima e depois retorna ao solo, gerando ainda mais calor. Com o solo seco, a umidade diminui, aumentando o risco de incêndios florestais e reduzindo a capacidade da vegetação de resfriar o ambiente.

Impactos humanos e econômicos: quem paga o preço?

Além dos riscos à saúde, a economia já sente os efeitos. Agricultores americanos reportam perdas nas safras de milho e soja, enquanto a demanda por energia elétrica para refrigeração bate recordes. Na Europa, o turismo sofre com cancelamentos de voos e trilhos de trem que derretem sob o sol.

Mas os mais afetados são os vulneráveis: idosos, crianças e trabalhadores informais. “Não há ‘adaptação’ para quem não tem acesso a ar-condicionado ou água potável”, destaca Ana Ferreira, médica especialista em saúde pública em Lisboa.

A ciência é clara: reduzir emissões de gases de efeito estufa é urgente. Porém, mesmo com cortes drásticos, os efeitos já desencadeados persistirão por décadas. “O clima tem inércia. Mesmo que parássemos todas as emissões hoje, ainda enfrentaríamos impactos por anos”, afirma Mann.

Enquanto isso, cidades ao redor do mundo adotam medidas emergenciais: “ilhas de frio” em parques, distribuição de água e sistemas de alerta para grupos de risco. A mensagem é clara: o clima extremo não é mais uma ameaça distante – ele já está dentro de nossas casas, exigindo ação imediata.

Com informações de Financial Times*

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Last Update: 30/06/2025