Ao longo dos séculos 19 e 20, os Estados Unidos definiram formas de intervenção no mundo e, em especial, no seu quintal da América Latina.

Em 1823, a Doutrina Monroe afirmava que a América Latina era zona de influência dos Estados Unidos e deveria estar livre da interferência europeia.

Em 1904, Theodore Roosevelt formulou a Doutrina Roosevelt ou Corolário Roosevelt, justificando intervenções militares diretas dos Estados Unidos em países latino-americanos, para proteger interesses econômicos e políticos, inclusive de empresas norte-americanas. Era a política do Big Stick: “Fale com suavidade e carregue grande porrete”. Defendia o direito norte-americano de intervir em países da América Latina que estivessem “em desordem” ou ameaçassem interesses norte-americanos.

Com base nesses elementos, em 1905 invadiu a República Dominicana, para controlar a aduana e garantir pagamentos de dívidas a credores estrangeiros. Depois, foram Nicarágua, Haiti, Cuba e Panamá.

Na biografia do argentino Raul Prebisch – aliado dos EUA – conta-se da preocupação do país, na época uma economia próspera, com os avanços dos EUA.

Depois de um interregno, com a Política de Boa Vizinhança de Nelson Rockefeller, no final dos anos 40 e, a partir dos anos 50, iniciou-se o ciclo da parceria com intervenções militares.

Excesso de torturas – especialmente no Brasil e na Argentina – provocaram desgastes internos. Enquanto avançava em guerras contra países da Ásia – Afeganistão e Líbia -, mudou-se a estratégia para a cooptação do sistema judicial, através de uma legislação anticorrupção, como ocorreu com a Lava Jato, no Brasil, as ações contra a França, a investida na Ucrânia, que derrubou o presidente pró-Rússia.

Vamos analisar dois movimentos brasileiros, o que levou ao impeachment de Dilma Rousseff e o atual, tendo como epicentro os ataques ao Supremo Tribunal Federal.

Os ataques contra Dilma se intensificaram com a descoberta do pré-sal e a possibilidade do país tornar-se uma superpotência do petróleo. Os primeiros sinais vieram na espionagem sobre a Petrobras e na escuta do celular de Dilma Rousseff. Também, no uso de algoritmos nas redes sociais. A maneira habitual de minimizar as denúncias era tratá-las como “teoria conspiratória”.

Agora, o Brasil volta ao epicentro das guerras coloniais, devido à sua aproximação com a China e, ante a perspectiva de se tornar uma potência ambiental.

Vamos a três sinais dessa investida:

  1. Base de Alcântara.

Desde 2019, já havia desconfianças sobre as intenções americanas em relação à base de Alcântara, no Maranhão. EUA teve aprovação de construir uma base em Ushuaia e analistas dizem que foi aprovado a construção de uma base naval com capacidade de submarinos em Galapagos. Com isso, só falta construírem uma base em Alcântara para fechar o Atlântico Sul e isolar a América do Sul.

Recentemente, o site Defesanet levantou rumores sobre intenções norte-americanas de alegarem direito histórico e investimento bélico para tornarem Alcântara território dos EUA. O tema foi tratado como suspeita conspiratória.

  1. Células terroristas.

Recentemente, os EUA propuseram que o Brasil classifique grupos criminosos organizados, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), como organizações terroristas. Correu a informação de um prêmio de alguns milhões de dólares a quem indicasse ao FBI indícios da operação terrorista na Tríplice Fronteira.

Se os Estados Unidos classificam uma organização como terrorista, especialmente sob a designação de Foreign Terrorist Organization (FTO) ou com base na lista do Departamento do Tesouro (OFAC – Office of Foreign Assets Control), ganham uma série de poderes legais e diplomáticos. Podem congelar ativos de empresas e bancos nacionais, realizar operações clandestinas ou abertas contra alvos ligados à organização, vetar financiamentos ao país pelos organismos multilaterais, e submeter o país a vigilância diplomática constante, com o Brasil perdendo margem de manobras soberana em certos temas.

  1. Direito à informação.

A última onda é punir países que cerceiam o direito de opinião de norte-americanos, através das redes sociais. É modelo similar aos atos anticorrupção que permitiram a atuação intensa através da Lava Jato. O princípio utilizado é que qualquer operação de corrupção que passe por dólares, ou afete interesses norte-americanos, pode ser alvo de operações policiais. 

Esse princípio permitiu alimentar os quinta-colunas dos Ministérios Públicos brasileiro e suiço, na Lava Jato e na chamada Lava Jato francesa, para anular o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) firmado entre Brasil e França. Foi acionado contra a maior empreiteira brasileira, a Odebrecht, a maior empresa de tecnologia da Coréia, a Samsung, e o maior fabricante de reatores nucleares da França, através da criminalização do presidente Sarkozy, que obrigou a França a vender sua área de turbinas nucleares para a General Eletric.

Foi, também, a adesão incondicional ao golpe do impeachemnt, que livrou a Globo de denúncias de corrupção envolvendo a Fifa e o Conmebol.

O fator Alexandre Moraes

Como antecipamos há dias, a ofensiva norte-americana, contra Alexandre Moraes nada tem a ver com Eduardo Bolsonaro, um boquirroto inexpressivo. Trata-se de uma estratégia visando dobrar estados nacionais aos poderes das big techs.

A medida permitirá retaliar a autoridade de qualquer país que intervenha nos princípios norte-americano de liberdade de expressão. Embora o próprio EUA esteja punindo severamente quem ousar defender a causa palestina.

Por razões variadas, o Brasil tornou-se um símbolo global da luta contra o obscurantismo. Em parte devido à Lula – apontado há anos por Steve Bannon como o maior perigo a ser enfrentado pela ultradireita. E, agora, por Alexandre Moraes, ministro do STF, e que tem se envolvido em uma luta indômita contra o poder irresistível das big techs, inclusive enfrentando ameaças físicas a ele e à sua família.

A inacreditável capa da Veja com Eduardo Bolsonaro, os editoriais em defesa dele pelos jornalões deixam claro esse movimento. O auge, aliás, foi um artigo de Matheus Leitão, na Veja, tratando a ida da oficial de Justiça à UTI de Bolsonaro como o ato “mais indigno” que ele testemunhou, mesmo com a fartura de provas mostrando o jogo de cena de Bolsonaro com a cirurgia – transformando a UTI em sala de visitas. 

Esses exageros retóricos lembram em tudo o terrorismo da Lava Jato – que tiveram nos Leitão os maiores estimuladores.

Alexandre Moraes não é apenas uma questão só do Supremo. Tornou-se um símbolo da autonomia das Nações e, especialmente, do Brasil. Defendê-lo trata-se, agora, de uma questão nacional.

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Last Update: 30/05/2025