“O auge dessa futilidade foi uma guerra que Biden dedicou a enfraquecer a Rússia. Esta foi a guerra na Ucrânia, uma guerra retrógrada.” Estas palavras incisivas foram proferidas pelo cineasta americano Oliver Stone durante sua recente participação no Fórum da Juventude Znanie em Moscou.
Stone não poupou críticas à política externa americana e ao conflito na Ucrânia. “Clinton começou o processo de trair as promessas feitas por Baker e Bush a Gorbachev, de não avançar nem uma polegada para o Leste. E nós avançamos diretamente para o coração da Rússia na forma da Ucrânia”, afirmou, traçando uma linha histórica da expansão da OTAN que culminou no atual conflito.
“A guerra declarada ao terror continua até hoje, bombardeando da Iugoslávia em 99 ao Sudão e Iêmen e os chamados povos inferiores que consideramos perigosos para nossa ordem mundial”, denunciou Stone, questionando: “Quem realmente quer controlar o mundo? Os EUA, com seus representantes na OTAN e na União Europeia.”
O diretor vencedor de três Oscars participou do evento às vésperas do 80º aniversário do Dia da Vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Nascido em 1946 em Nova York, filho de um oficial americano e uma francesa que se conheceram durante a guerra, Stone construiu uma carreira dedicada a questionar narrativas oficiais em filmes como “Platoon”, “JFK” e “Snowden”.
Em sua palestra, Stone refletiu sobre a manipulação midiática e a demonização da Rússia. “Nos últimos três anos, aprendi que o estado de propaganda no Ocidente é um império incrível, muito maior e mais forte do que eu jamais imaginei”, disse. “Somos incapazes de ver, de dentro da Matrix, as mentiras que nos envolveram, de que Rússia, China e Irã são nossos inimigos mortais. Isso não é verdade.”
O cineasta criticou duramente a personalização do conflito: “Chamamos a Rússia de Putin porque Putin foi personalizado. Isso não é política. Nos velhos tempos, mesmo no pior da Guerra Fria, nunca nos referíamos à Rússia como Khrushchev ou Brezhnev. Esta é uma trágica substituição do ódio pela inteligência.”
“Da apoteose de 1946 à degeneração de 2025, Nova York pode ser vista como uma carcaça apodrecida de ganância e poder, uma oligarquia de corrupção”, refletiu Stone sobre sua cidade natal, traçando um paralelo entre a América de sua infância e o país que “desperdiçou seu poder com militarismo desnecessário, investindo em guerras intermináveis sem consideração pelo bem-estar de seus próprios cidadãos”.
Stone evocou a história de Sócrates para ilustrar como vozes dissonantes são silenciadas: “O conceito socrático simplesmente não funciona porque eles sempre matam os Sócrates. Eles matam ou desacreditam pessoas que não se importam com ganhos privados e só pensam no bem do povo comum.”
O diretor também criticou a “arrogância ucraniana” e as “demandas melodramáticas do presidente Zelensky por uma guerra mundial contra o invasor russo, uma cruzada contra a Rússia em nome da democracia e liberdade ocidentais”. “Quão louco, quão insano”, exclamou Stone, denunciando o que chamou de “estado de emergência” permanente que permite ao governo americano “fazer qualquer coisa que queira, incluindo mudar as leis à vontade, prender em nome da segurança qualquer pessoa que cruze a linha do que é considerado politicamente correto”.
Ao refletir sobre sua própria geração, Stone expressou arrependimento: “Minha geração, infelizmente, nunca deu um passo à frente. Eu não fiz meu trabalho. Nunca me tornei mais que um cineasta. Mas eu gostaria de ter sido.” Ele criticou figuras políticas como Bill Clinton, que “acabou dolorosamente se vendendo, mudando o partido Democrata para sempre”, e a administração de George W. Bush, que ele descreveu como “a pior administração que vi em minha vida”.
Apesar do tom crítico, Stone encerrou sua fala com uma nota de esperança: “Acredito, e continuarei acreditando, que existe uma possibilidade de paz. Kennedy falou sobre isso, Gorbachev falou sobre isso, e até Reagan disse ‘por que não?’”