
A cidade de Dessau-Rosslau, no estado alemão de Saxônia-Anhalt, tornou-se um triste exemplo do avanço da extrema-direita entre jovens no leste do país. Com 75 mil habitantes, a cidade que já foi berço do movimento arquitetônico Bauhaus e é considerada Patrimônio Cultural da Unesco, hoje convive com pichações nazistas, saudações a Hitler nas escolas e um preocupante cenário de radicalização juvenil.
“Nos últimos cinco a dez anos, tivemos mais casos de aconselhamento do que nunca nas escolas”, relatou Steffen Andresch, do Projekt GegenPart, equipe que trabalha no combate ao extremismo DW.
O fenômeno não se limita a Dessau. Holger Münch, diretor do Departamento Federal de Investigações (BKA), advertiu em maio de 2025: “Há cerca de um ano vemos como cada vez mais gente muito jovem, de mentalidade de ultradireita, se radicaliza ainda mais.”
Nas ruas de Dessau, cruzes suásticas e caricaturas de Adolf Hitler são comuns. “Em certas regiões rurais do Leste alemão, ‘nazista’ se tornou simplesmente pop”, comentou Lukas Jocher, também do GegenPart.
Jeremy, um estudante de 17 anos que preferiu não se identificar, confirma: “Hitler é adorado, e como!”. Ele descreve um ambiente escolar onde saudações nazistas e cantos como “Ausländer raus!” (Fora com os estrangeiros) fazem parte da rotina.

A situação é herança de um processo complexo. Após a reunificação alemã em 1990, o leste do país enfrentou colapso econômico, desemprego e êxodo populacional. Apesar dos bilhões de euros investidos na região, só em Dessau foram 1 bilhão desde a reunificação, o extremismo encontrou terreno fértil entre jovens desiludidos.
Uma história marcada pela violência
Dessau tem um histórico sombrio de crimes de ódio. Em 2000, três neonazistas assassinaram o moçambicano Alberto Adriano. Cinco anos depois, Oury Jalloh, solicitante de asilo da Guiné, morreu queimado em uma cela da delegacia da cidade. Em 2016, a estudante chinesa Li Yangjie foi violentada e assassinada. O caso levou a embaixada chinesa a emitir alertas sobre viagens à região.
A situação política atual preocupa ainda mais. Em julho de 2024, Laurens Nothdurft, da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), foi eleito prefeito. Com passado em grupos neonazistas, Nothdurft evitou qualquer menção aos crimes nazistas em discurso no 80º aniversário da libertação da Alemanha do regime hitlerista.
Apesar do cenário preocupante, há sinais de resistência. Organizações como o Projekt GegenPart e a Buntes Rosslau trabalham para combater o extremismo. Jovens ativistas como Sophie, Max e Paul Nolte continuam lutando por uma Dessau mais inclusiva. “Aqui em Dessau, cada pessoa conta. Dá para fazer e conseguir alguma coisa”, afirmou Paul, que já foi ameaçado a faca por seu ativismo.
Enquanto a AfD avança politicamente – alcançou 37% dos votos na Saxônia-Anhalt em 2025 -, esses grupos representam a esperança de que a cidade possa superar seu passado sombrio e construir um futuro diferente. Como resume Marcus Geiger, da Buntes Rosslau: “O extremismo se aproxima cada vez mais do centro e se torna socialmente aceitável”, mas há quem resista.