Foi publicado no último dia 8, uma coluna de autoria de Bepe Damasco no portal Brasil 247 intitulada A chance de ouro de eleger um Congresso mais voltado para o povo, na qual seu autor avalia uma suposta brecha para que o “campo progressista”, também conhecido como Frente Ampla ou Frente Popular, consiga eleger mais deputados e senadores nas próximas eleições.
Essa brecha aconteceria por um motivo peculiar: as hashtags da situação contra o a derrubada do congresso ao aumento do IOF proposto pelo governo Lula, aumentadas pelas hashtags de repúdio à derrubada do veto presidencial pelo congresso que aumentará as contas de energia elétrica, além de outros pontos, como nos parágrafos a seguir:
“Fatos políticos inesperados às vezes têm o condão de provocar um terremoto na conjuntura. É o caso da forte reação nas redes sociais desencadeada depois da derrubada pelo Congresso do pequeno aumento do IOF proposto pelo governo, para fazer um mínimo de justiça tributária e equilibrar as contas públicas.
Na mesma toada, deputados e senadores derrubaram um veto do presidente da República, que terá como consequência o aumento das contas de luz, sentaram em cima do projeto do governo que isenta de pagamento de IR quem ganha até R$ 5 mil e aprovaram o aumento do número de deputados.”
O texto, apesar de aparentar otimismo, no entanto, acaba por demonstrar um grande pessimismo em relação às eleições do ano que vem, não só em relação à eleição de uma bancada maior para a esquerda e o dito “campo progressista”, mas também em relação ao executivo. Isso porque o texto demonstra que o governo de Lula não terá o que apresentar de positivo nessas eleições.
O engrandecimento das publicações favoráveis ao governo também são, ainda, uma reação ao resultado da política do PIX que, essa sim, causou uma convulsão na internet favorável à direita bolsonarista. Trata-se, portanto, de uma tentativa de mostrar que o governo ainda é bem avaliado na internet e nas redes sociais após o choque que elevou figuras como Nikolas Ferreira, como vemos no parágrafo a seguir:
“Pronto, a panela de pressão explodiu nas redes sociais, com um turbilhão incontrolável de vídeos, memes, curtidas, comentários e compartilhamentos denunciando ‘o Congresso inimigo do povo’, ‘o Congresso da mamata’, ‘Hugo nem se importa’, ‘chegou a vez do povo’, etc.”
No entanto, apesar de tudo o que foi dito, duas coisas importantes precisam ser levadas em conta. A primeira, a mais óbvia, é que publicações na internet, por si só, não mudam o mundo. Se é verdade que a crise do PIX afetou o governo e que suas principais demonstrações vieram pela internet, inclusive, de forma muito maior do que os ataques ao congresso após os vetos e as derrubadas contra a política de Lula, ela só conseguiu atingir o governo por ser uma opinião generalizada da população, que realmente temeu a fiscalização do PIX, não se tratando de um movimento somente das redes sociais.
Enquanto isso, a “explosão” a favor do governo, se deu em círculos muito mais restritos de apoiadores, sem apelo real da população no geral. Isso porque a política é impopular. O aumento do IOF, diferente do que diz a propaganda, não atinge somente os mais ricos, atacando também uma parte considerável da pequena burguesia que apoia o governo Lula e até setores do operariado.
Um segundo fator é que não há garantia alguma de que as redes sociais permitirão a propaganda a favor de Lula até a próxima eleição, já que, com apoio da própria esquerda, o STF conseguiu acabar com a garantia de que as plataformas das redes sociais não fossem responsabilizadas pelo conteúdo publicado pelos usuários.
Sendo assim, agora, o que pode ou não ser dito na internet está nas mãos das chamadas “Big Techs”, as grandes empresas de tecnologia da informação, que, diante de ameaças de processo por conteúdos publicados por terceiros, poderão impedir a livre discussão.
Ou seja, não há motivo algum para otimismo e, caso o PT comece agora a ver a realidade, de que as redes sociais beneficiam o governo, a esquerda de modo geral e o próprio PT por permitirem denúncias contra a direita, a promoção de políticas e de programas de esquerda, ainda assim, não há garantia de que esse conteúdo circule no ano que vem, beneficiando a esquerda nas eleições. Isso, quando Bepe comemorava o que seria a primeira vitória da esquerda na internet:
“Pela primeira vez, a esquerda ganhou de lavada uma batalha virtual com a extrema-direita, com reflexos positivos inclusive na popularidade do presidente Lula, como mostram os levantamentos feitos pelo Palácio do Planalto, os trackings.”
O posicionamento de Bepe também revela como a esquerda está distante da realidade atual, não percebendo o tamanho da crise em todo o planeta e o que fazer diante disso.
Tudo, para a esquerda, gira em torno de vencer as eleições, a qualquer custo e de qualquer forma. Por isso, investe novamente na frente ampla, mesmo com a burguesia que compõe essa frente querendo um candidato próprio, sem ser Lula ou Bolsonaro e mesmo com essa frente limitando as ações do governo, que poderia dar a Lula ainda mais apoio popular para conseguir algo do congresso e para vencer as próximas eleições.
Veja, pois, a brilhante receita para vencer em 2026:
“Para que isso aconteça, no entanto, a esquerda tem que agir com sabedoria, conferindo importância para as eleições proporcionais equivalente ao pleito para o Executivo. Em termos práticos, isso quer dizer mais recursos materiais, campanha eficiente nas redes e tempo de TV privilegiado para os puxadores de voto.
Também não se pode errar na escolha das chapas de candidatos. Será preciso convencer as lideranças do PT e de outros partidos do campo popular, pessoas com prestígio, popularidade, densidade e potencial eleitoral a se lançarem para a Câmara e o Senado, além de artistas e pessoas conhecidas da sociedade.
Uma especial atenção deve ser dada à eleição para o Senado. É ali que a extrema-direita planeja fazer maioria para sabotar a democracia, manietando o STF e votando até impeachment de juízes da Suprema Corte.”
Ou seja, frente com qualquer um, incluindo o próprio STF e famosos. A mesma receita que elegeu o congresso que temos hoje e que exclui a mobilização de rua e o principal, um programa que anime a população a sair às ruas.