A recente tentativa de golpe na Bolívia foi percebida por muitos como uma comédia de erros, mas é fundamental analisar o que realmente ocorreu. A aparente confusão e a retirada das forças armadas no último momento não diminuem a gravidade dos eventos, pois houve uma tentativa de golpe militar. E o pior: a posição dos Estados Unidos em relação à intentona indica que foi um movimento orquestrado por Washington.
Diferente do que afirma a esquerda moderada, a política golpista é essencial para o governo norte-americano. Biden apoiou abertamente o golpe no Peru e continua a apoiar um governo que reprime violentamente seu povo.
Nesse sentido, os eventos na Bolívia fazem parte de uma política imperialista mais ampla que visa desestabilizar governos de esquerda na América Latina e em outras partes do mundo, como a Macedônia, Geórgia, Armênia e Eslováquia.
Desde 2009, com o golpe em Honduras, seguido por Paraguai, Brasil, Equador e Peru, a política imperialista de golpes de Estado tem sido uma constante na América Latina. Esta política não é exclusiva dos republicanos, mas também é implementada pelos democratas, como evidenciado pela continuidade dos golpes durante o governo Biden, após um breve período de confusão durante o governo Trump.
Os golpes, quando falham, muitas vezes retornam com maior força e preparo. A tentativa de golpe na Bolívia não foi um incidente isolado, mas parte de um padrão contínuo. O governo boliviano, enfrentando uma crise de popularidade e uma divisão interna no MAS (Movimento ao Socialismo), foi um alvo vulnerável. No entanto, a resistência do povo boliviano, determinado a combater a extrema direita, subestimada pelos golpistas, mostrou que a luta contra o imperialismo está longe de terminar.
O imperialismo se aproveita das crises econômicas e políticas para fomentar golpes. No Brasil, por exemplo, a recente alta do dólar é um indício de ataques econômicos contra a política do governo, sinalizando o início de algo potencialmente mais perigoso. Em outras palavras, a política golpista do imperialismo em relação à Bolívia, Argentina, Peru e outros países latino-americanos, junto ao fato de que a burguesia está cada vez mais indisposta com o governo Lula; mostram que a esquerda deve se preparar por uma ofensiva imperialista no Brasil.
Nesse sentido, é preciso compreender a questão dos golpes de Estado na América Latina. Em vez de discutir este problema com os trabalhadores, a esquerda moderada fica a reboque da política do imperialismo. Trata-se de algo que precisa ser abandonado, é uma armadilha que leva à desmoralização total da esquerda diante da população, que é a principal afetada pela destruição causada pelo neoliberalismo.