Tarcísio tenta dar cara nova ao bolsonarismo, mas mantém o mesmo projeto elitista e neoliberal


A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada pela Folha de S.Paulo, traz um retrato que não surpreende: Luiz Inácio Lula da Silva continua sendo o nome mais forte para as eleições presidenciais de 2026 — ao menos no primeiro turno. Ainda assim, o estudo também mostra que o país permanece dividido, com um segundo turno potencialmente polarizado entre o presidente e representantes da extrema direita. Um cenário preocupante, que revela o quanto o Brasil ainda oscila entre avanço social e uma agenda conservadora que insiste em se manter viva apesar dos próprios desastres.

Segundo o levantamento, feito entre os dias 10 e 11 de junho com 2.004 pessoas em 136 municípios brasileiros, Lula lidera cinco dos seis cenários testados para o primeiro turno. É um dado importante, sobretudo quando lembramos que estamos falando de uma corrida eleitoral que ainda está longe de começar oficialmente. Mesmo com a inevitável desgaste natural de qualquer governo, Lula mantém um capital político sólido — fruto, certamente, de uma gestão que recuperou programas sociais, retomou diálogo com o mundo e devolveu ao país um mínimo de respeito internacional.

Lula x Bolsonaro x Ratinho Jr. x Zema x Caiado/ Tabela mostra que nessa configuração, Lula tem 36% das intenções de voto, contra 35% de Bolsonaro. Ratinho Jr. (PSD) aparece com 7%, enquanto Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União Brasil) têm 5% cada.
Lula x Bolsonaro x Ratinho Jr. x Zema x Caiado/ Tabela mostra que nessa configuração, Lula tem 36% das intenções de voto, contra 35% de Bolsonaro. Ratinho Jr. (PSD) aparece com 7%, enquanto Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União Brasil) têm 5% cada.

Lula segue na liderança, mas Brasil ainda se debate entre esperança e retrocesso

Mas não há vitória fácil nesse jogo. No segundo turno, o panorama esquenta. Em alguns cenários, Lula aparece tecnicamente empatado com Jair Bolsonaro (ainda inelegível) e com Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e aposta da nova direita. Esses números mostram que a polarização que marcou as últimas eleições não só persiste como se adapta — agora tentando se disfarçar sob novas caras e discursos mais “moderados”, mas que seguem ancorados nos mesmos valores autoritários e antipopulares.

Bolsonarismo renova aparência na pesquisa Datafolha, mas não projeto

Tarcísio de Freitas é talvez o nome mais interessante dessa equação. Representa uma tentativa de dar cara nova ao bolsonarismo — algo mais urbano, mais alinhado às elites paulistas e com discurso técnico. Mas quem observa de perto sabe que sua política econômica é cortada no mesmo molde neoliberal que já prejudicou tantos brasileiros. Privatizações, enxugamento do Estado e ataques aos direitos trabalhistas são suas bandeiras — e não exatamente promessas de transformação social.

Tarcísio de Freitas e Bolsonaro
Tarcísio emerge como rosto da nova direita, mas carrega o mesmo projeto excludente que marcou o governo Bolsonaro e sua herança neoliberal / Via BBC

Já os filhos de Bolsonaro — Flávio, Eduardo e Michelle — tentam surfar na mesma onda, buscando espaços dentro de um campo que, embora fiel, parece cansado das arestas ásperas deixadas pelo ex-presidente. Ainda assim, suas taxas de rejeição, embora menores que as de Lula e Bolsonaro, indicam que não são nomes capazes de unificar ou atrair um eleitorado mais amplo.

Aliás, vale destacar que Lula lidera a lista de rejeição individual, com 46% dizendo que não votariam nele de jeito nenhum. Um número alto, sim, mas que precisa ser lido com cuidado. A rejeição ao petista vem muito mais de setores que historicamente se opõem ao seu projeto de inclusão do que de decepção real com sua atual gestão. Já a rejeição a Bolsonaro (43%) é fruto direto de sua forma de governar: negacionista, autoritária e marcada por danos irreversíveis à economia, ao meio ambiente e à saúde pública.

O peso do indeciso e a hora da decisão nas eleições de 2026

Um ponto que não pode ser ignorado é o índice significativo de brancos, nulos e indecisos. Isso demonstra que o eleitorado ainda não está cristalizado. Muitos brasileiros estão em dúvida, cansados da repetição de nomes e projetos que parecem levar o país sempre para o mesmo impasse. É aqui que o PT tem um papel fundamental: não apenas defender seus valores, mas mostrar claramente o contraste entre o que representa e o que oferece a extrema direita.

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Se Lula for candidato novamente, terá que convencer não só seus apoiadores históricos, mas também aqueles que não veem saída fora do voto útil ou do protesto. E isso só será possível com propostas claras, coragem política e, acima de tudo, com honestidade sobre os desafios que o país enfrenta.

O futuro não pode ser cópia do passado

A pesquisa do Datafolha reforça o quanto o Brasil vive uma encruzilhada. De um lado, um presidente que, mesmo com todas as dificuldades, tenta reconstruir o país após anos de destruição. Do outro, um espectro que insiste em reaparecer com roupagens diferentes, mas com o mesmo DNA antidemocrático e elitista.

Se queremos um país mais justo, mais igual e mais humano, não podemos permitir que a nostalgia autoritária volte com força. A escolha em 2026 não será apenas entre dois nomes. Será entre dois projetos de nação: um que olha para frente e busca incluir todos, e outro que prefere seguir mirando no passado, nas hierarquias e na exclusão.

O momento exige consciência. E exige coragem.

Com informações da Folha, do g1 e de O Cafezinho*

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Last Update: 15/06/2025