Laysa Peixoto, a “astronauta fake”, durante evento de tecnologia em 2023. Foto: Reprodução

A mineira Laysa Peixoto Sena (22) conseguiu enganar diversos veículos de imprensa brasileiros ao anunciar, na última semana, que seria a primeira brasileira a viajar para o espaço. Ela afirmou que fará parte do voo inaugural da Titans Space, em 2029, empresa que sequer tem licença do governo americano para fazer viagens do tipo.

A jovem disse ter ingressado na Nasa, agência espacial americana, aos 19 anos e mentiu que liderava uma equipe de pesquisa focada no desenvolvimento de tecnologias para exploração espacial, além de estar confirmada na turma de 2024 de treinamento, mas o órgão nega qualquer vínculo com ela.

“A pagina [de Laysa] diz que ela é uma astronauta em treinamento, o que podemos afirmar que não é verdade. Há apenas 10 candidatos a astronauta, e ela não é um deles”, disse a Nasa.

Outra mentira contada pela brasileira é sobre um treinamento de astronauta. A agência aponta que ela não recebeu nenhuma formação do tipo e que o documento só é dado a quem tem mestrado em cursos de tecnologia ou áreas afins em exatas, além de ao menos dois anos de experiência e mais de mil horas de trabalho como piloto.

“O Programa L’Space é um workshop para estudantes – não é um estágio da Nasa ou trabalho na agência. Seria inapropriado reivindicar a afiliação à Nasa como parte dessa oportunidade”, disse a agência em comunicado.

A brasileira Laysa Peixoto (23), natural de Minas Gerais. Foto: Reprodução

Natural de Contagem (MG), a jovem ficou famosa em 2020, quando disse ter descoberto um asteroide no curso de física da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Na ocasião, ela integrava o programa Observatório Astronômico e teria chamado o corpo celeste de LPS0003, uma referência ao seu nome.

A instituição também nega que ela tenha concluído o curso e aponta que foi desligada em 2022 por não se matricular para o segundo período de física.

“Laysa Peixoto Sena Lage não possui vínculo com a UFMG, tendo sido desligada do curso de Física por não matrícula no segundo período letivo de 2023. A estudante cursou 2021/1, 2021/2, 2022/1 e 2022/2. Teve um trancamento total em 2023/1, vindo a ser desligada por não matrícula em 2023/2”, disse a universidade.

Em seu Linkedin, a jovem ainda cita um mestrado em Aplicações de Computadores pela Universidade de Columbia, de Nova York (EUA), mas a instituição diz que não localizou nenhum registro com o nome dela em seus cursos.

A jovem exibe outras possíveis conquistas em seu currículo, como uma suposta medalha de prata na 23ª Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica em 2020 e uma de bronze na Competição Internacional de Astronomia e Astrofísica.

A Titans Space, empresa pela qual participaria de um voo tripulado inaugural em 2029, confirmou que ela faz parte de sua equipe. A companhia, que oferece viagens a “turistas espaciais” por valores a partir de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,5 milhões), no entanto, não possui licença do governo americano para atividades do tipo.

A Administração Federal da Aviação (FAA, da sigla em inglês), que regula a indústria de transporte aéreo e espacial dos Estados Unidos, diz que “a Titans Space não possui licença para operações comerciais de voos espaciais tripulados”.

Diante do currículo inventado de Laysa, diversos jornais brasileiros caíram no conto e publicaram reportagens sobre o tema. O Globo, por exemplo, escreveu que ela seria “a primeira brasileira a viajar ao espaço” e chegou a fazer uma piada com o estado onde nasceu: “Uaistronauta”.

Texto do jornal O Globo de 6 de junho reproduz o anúncio de Laysa sobre viagem espacial. Foto: Reprodução

Outro grande veículo que acreditou na jovem foi o R7, que, no mesmo dia, afirmou que Laysa iria “representar o Brasil em viagens para estações espaciais privadas e futuras missões tripuladas à Lua e Marte”.

Texto do R7 sobre Laysa. Foto: Reprodução

Antes mesmo da nova invenção da mineira sobre a viagem espacial, ela já tinha destaque na imprensa. Laysa concedeu uma entrevista à revista Forbes Brasil em agosto passado e foi tratada como “primeira mulher brasileira a se tornar astronauta” e “líder de equipe da Nasa”.

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Last Update: 11/06/2025