
O sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, ex-coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, disse, em entrevista ao Globo, que a Igreja Católica criou uma “armadilha” para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao escolher o cardeal americano Robert Prevost, agora Papa Leão XIV, como novo líder da Igreja.
Confira alguns trechos:
A escolha do novo Papa ocorreu de forma relativamente rápida, surpreendendo todas as expectativas. Quais fatores o senhor apontaria que podem ter contribuído para essa rapidez?
Prevost é muito semelhante a Francisco. No social, no pastoral, no espiritual. O discurso dele foi curto, mas pra quem está acostumado a ler os textos de Francisco, vê que ele tem uma sensibilidade muito parecida, sobretudo em relação ao amor de Deus por nós. E, apesar de ser um reformador na linha de Bergoglio, tem posições mais cautelosas, como Francisco também tinha, em relação a vários temas controversos, como, por exemplo, a questão do sacerdócio feminino.
Então, de certa forma, ele representava uma garantia muito grande de continuidade, sobretudo segura, do trabalho de Francisco. Ele dificilmente vai criar mais “problemas” do que Francisco. Pelo contrário, deve dar continuidade ao trabalho com até menos desafios do que os que Francisco enfrentou. (…)
O papa leão na sacada pela primeira vez pic.twitter.com/9E3jocMlWs
— bee (@witharisgz) May 8, 2025
Alguns já consideram Leão XIV o segundo Papa latino-americano, apesar de ser nascido nos Estados Unidos. Como essa proximidade pode influenciar sua relação com a América Latina? E o que esperar da relação da Igreja Católica com o governo de Donald Trump, sabendo que Prevost é um crítico de sua agenda?
Eu diria para você que nós temos, sim, o segundo Papa latino-americano. Afinal de contas, ele é naturalizado peruano. E não deixa de ser uma coisa inesperada. A análise que se fazia era que, de modo geral, teríamos dificuldade de ter um segundo Papa sul-americano, pois haveria uma tendência dos cardeais de procurá-lo em outros continentes.
Em relação aos Estados Unidos, provavelmente vai haver uma facilitação do diálogo num primeiro momento. Trump se manifestou falando que estava muito feliz, orgulhoso. Um discurso protocolar e que se esperaria dele. Mas não deixa de ser um sinal de que ele terá de procurar um diálogo favorável com Leão XIV.
Então, de certa forma, a Igreja criou uma armadilha para Trump. Agora, ele não pode mais dizer que as críticas ao seu governo são anti-americanas, terceiro-mundistas, comunistas ou coisa parecida. As críticas agora vêm de um Papa conterrâneo e branco, como ele. É uma situação que facilita, por um lado, o diálogo, mas também fortalece a moral católica ao criticar as posturas de Trump. Agora, a crítica, de certa forma, é interna.
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