O relatório Focus divulgado nesta segunda-feira, 2, pelo Banco Central mostrou que analistas do mercado financeiro revisaram para baixo a expectativa de inflação no Brasil em 2025, ao mesmo tempo em que elevaram a projeção de crescimento econômico para 2026.
A pesquisa semanal reflete a mediana das estimativas de mais de uma centena de economistas e analisa a percepção do mercado em relação aos principais indicadores macroeconômicos do país.
A estimativa para a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), recuou de 5,50% para 5,46% em 2025.
Já a previsão para 2026 foi mantida em 4,50%. As projeções continuam acima do centro da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
A revisão das estimativas ocorre após a divulgação, na semana passada, do IPCA-15 de maio, que apontou desaceleração no ritmo de alta dos preços. O índice registrou elevação de 0,36% no mês, abaixo dos 0,43% verificados em abril. No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 avançou 5,40%, contra 5,49% no período imediatamente anterior.
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a expectativa de crescimento para 2026 subiu de 1,70% para 1,80%. Por outro lado, a previsão para 2025 foi levemente reduzida, passando de 2,14% para 2,13%. Os números indicam uma leve melhora na percepção dos analistas sobre o desempenho futuro da economia brasileira, ainda que de forma cautelosa.
A projeção para a taxa básica de juros, a Selic, não apresentou alterações. Segundo o relatório, o mercado espera que a Selic permaneça em 14,75% ao final de 2025.
Para o término de 2026, a estimativa é de que a taxa seja reduzida para 12,50%. Esta é a 18ª semana consecutiva em que essas previsões se mantêm inalteradas. Atualmente, a Selic está fixada em 14,75% ao ano.
No que se refere ao câmbio, o relatório Focus também indicou estabilidade nas projeções para a cotação do dólar. A expectativa para o encerramento de 2025 é de R$ 5,80, enquanto para 2026 a projeção é de R$ 5,90.
A moeda norte-americana acumula queda de 6,8% frente ao real no ano, refletindo um movimento de correção após a valorização registrada no final de 2024. A desvalorização também é atribuída à maior incerteza sobre a condução da política comercial dos Estados Unidos.
A divulgação semanal do relatório Focus é acompanhada por agentes do mercado e formuladores de políticas públicas por refletir de forma antecipada as tendências e percepções predominantes no setor financeiro. Os dados servem como parâmetro para decisões de investimentos e planejamento de políticas econômicas.
Apesar da leve redução na expectativa de inflação para 2025, as projeções continuam distantes do centro da meta estabelecida pelo Banco Central, o que pode influenciar as decisões futuras sobre a política monetária.
A manutenção das expectativas para a taxa Selic sugere cautela dos analistas em relação ao ritmo de corte dos juros, diante de um cenário ainda incerto para o comportamento dos preços.
A combinação entre inflação acima da meta, juros elevados e câmbio volátil reforça os desafios para a condução da política econômica no curto e médio prazos. O desempenho do IPCA-15 em maio, embora abaixo do esperado, ainda não foi suficiente para provocar uma revisão mais significativa das expectativas inflacionárias.
O relatório desta semana mostra, ainda, que o mercado permanece atento aos desdobramentos da economia internacional, sobretudo em relação aos Estados Unidos, cujas decisões de política tarifária e monetária têm impacto direto sobre os fluxos cambiais e os ativos brasileiros.
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para as próximas semanas, poderá oferecer novos sinais sobre os rumos da taxa Selic. No entanto, o comportamento dos preços ao consumidor e a evolução das expectativas do mercado seguirão como variáveis centrais na definição da estratégia do Banco Central.
Com a inflação ainda pressionada e crescimento econômico moderado, a política monetária deve continuar calibrada de forma conservadora, em busca do equilíbrio entre estímulo à atividade e controle da inflação. A manutenção de projeções elevadas para o IPCA e da Selic em patamares elevados aponta para a continuidade de um cenário de juros altos por um período mais prolongado.
Enquanto isso, o comportamento do dólar seguirá sujeito aos movimentos externos e à percepção de risco local. O recuo observado até agora em 2025 não afasta a possibilidade de novas oscilações, especialmente em um contexto de incertezas no ambiente internacional.
A próxima divulgação do IPCA completo de maio, prevista para os próximos dias, poderá fornecer novos elementos para o ajuste das projeções no relatório Focus das semanas seguintes.