Por que “israel” não venceu Gaza após 600 dias de guerra?
por Sayid Marcos Tenório
Tenho acompanhado os comentários de vários analistas publicados em portais de vários países, inclusive de “israel”, questionando o desempenho do exército sionista, que mesmo após mais de 600 dias de intenso bombardeio aéreo e terrestre contra Gaza, nenhum dos três objetivos da guerra foi alcançado pelo regime nazi sionista de Netanyahu.
E as questões mais frequentes levantadas por estes analistas são “por que ‘israel’ ainda não acabou com o Hamas?”, “por que isso está acontecendo?”, “por que o Hamas ousa e parece indestrutível?”, o que demonstra a incapacidade de entender que o Hamas é um adversário resiliente e o povo palestino tem a determinação de permanecer nas suas terras e enfrentar por todos os meios aqueles que juraram sua destruição.
Apesar da destruição da infraestrutura e da morte de líderes proeminentes da Resistência, “Israel” não alcançará a vitória em Gaza e não conseguirá destruir o Hamas, que continua respirando e resistindo, e forçando o exército sionista a retornar repetidamente às mesmas áreas.
A conclusão inicial que podemos ter é a de que a “máquina de guerra” do estado judeu não apenas falhou como se meteu em uma guerra eterna em Gaza, que enfraqueceu seus líderes, causou divisões na sociedade israelense e exaustão em suas forças militares. Além dos milhares casos de soldados afastados por problemas psiquiátricos e do elevado número de suicídios. “Israel” precisa saber que pode vencer cada batalha, mas perderá a guerra.
O desejo de Netanyahu em Gaza é matar por bombardeios e de fome o máximo possível dos 2,1 milhões de palestinos do enclave. E está fazendo isso diariamente com exacerbados e visível crueldade, sem que as potências ocidentais tomem qualquer iniciativa além da retórica, para estancar o genocídio e garantir o respeito ao direito internacional humanitário.
O plano de esvaziar Gaza tem falhado dia após dia, mesmo diante das rompantes fascistas de Donald Trump, pois, centenas de milhares de palestinos que haviam sido expulsos e convencidos com promessas falsas, continuam retornando para suas casas desde o recente cessar-fogo, embora não houvesse mais nada delas.
Nos mais de 600 dias de guerra em Gaza, “israel” usou uma força muitas vezes maior que a usada pelos EUA na Guerra do Vietnã, que durou 19 anos e provocou a morte de mais de 966 mil vietnamitas. No Vietnã, os EUA lançaram cerca de 15 toneladas de explosivos por quilômetro quadrado, enquanto Israel lançou 275 toneladas por quilômetro quadrado em Gaza desde 7 de outubro de 2023 — um número 18 vezes maior!
Diante deste cenário catastrófico, não se viu até agora nenhuma palavra pública de condenação ao genocídio e aos crimes antissemitas de “israel” contra os árabes muçulmanos em Gaza, dita pelos lábios de Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro e governante de fato da Arábia Saudita; nem pelo presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed Al Nahyan; ou pelo emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad al Thani. Mas o abandono solene por eles dos verdadeiros heróis do mundo árabe, que estão sendo mortos de fome e bombardeados até a morte.
A determinação dos palestinos de permanecer e morrer em suas terras, e o apoio crescente da opinião pública mundial, que está se voltando rapidamente contra Israel, são fatores que levarão o povo palestino a conquista do seu Estado. Observe que este apoio está se infiltrando inclusive nos grupos de centro e de direita e está firmemente estabelecido na esquerda. Rotular críticas legítimas ao genocídio como antissemitas, não está mais funcionando como antes. Essa bala de prata já foi disparada.
Ao tentar varrer a Palestina do mapa, “Israel” tornou o mundo inteiro Palestina. Dezenas de milhões de pessoas têm se mobilizado nas ruas das capitais do mundo em apoio ao povo palestino. Ao tentar sitiar o povo de Gaza, o sionismo sitiou a si mesmo e parece estar em declínio terminal, ao ponto de historiadores sionistas, como Yuval Noah Harari, prever o fim do sionismo.
A guerra genocida de “Israel” contra o povo palestino na Faixa de Gaza, utilizando todos os tipos de armas, munições e bombas internacionalmente proibidas, bombardeando indiscriminadamente escolas e hospitais protegidos pelo Direito Humanitário Internacional, não conseguiu nem será capaz de alcançar nenhum dos seus objetivos agressivos, principalmente o de aniquilar a resistência palestina.
A única conquista que Israel pode ostentar são os crimes de guerra, o genocídio, o assassinato em massa de crianças e mulheres, a destruição de infraestruturas e a eliminação de todos os aspectos da vida na Faixa de Gaza. Enquanto isso, o povo palestino exibe excepcionais imagens de paciência, resiliência, patriotismo, apego à pátria e apoio incondicional à sua resistência.
Sayid Marcos Tenório é historiador, especialista em Relações Internacionais e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (Anita Garibaldi/Ibraspal).
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