Assim falou Saramago
Por João Silva**
Terça-feira, 2 de julho de 2024. Apresentei um trabalho solo no Teatro Barracão, em Barão Geraldo, distrito de Campinas-SP, em que estive completamente desprotegido durante toda cena.
Cada artista, creio eu, tem um trabalho marcante que determina uma transição no desenvolvimento da sua carreira.
Penso ter sido este o meu trabalho solo.
Transgredi aquilo que intimamente as pessoas mais temem: a exposição em público.
Interpretei um texto do José Saramago, capturado de uma entrevista que ele concedeu e na qual fala sobre Deus e a criação do Universo.
A concepção da cena foi toda minha. Escolha do texto, escolha da música (“Assim falou Zaratustra”), luz, e etc.
Estou feliz com o resultado e a calorosa recepção do público.
Luís Costa, professor e diretor do Teatro Barracão, elogiou muito a composição do trabalho.
“Não foi uma exposição banal, sem sentido. Quando ela ocorre em cena, o que menos o público percebe é a exposição”, disse-me o professor Luís Costa, ao final da apresentação.
”Em vinte anos da existência do Teatro Barracão, você é o primeiro a ousar assim”, completou.
Sim, foi um trabalho desafiador.
Ao ler o texto do Saramago, deslumbrei que só seria possível interpretá-lo da forma como fui posto ao mundo.
Como efeito, nada menos que uma catarse. Estou numa felicidade genuinamente transbordante.
Gostaria muito de postar uma imagem da minha atuação. Mas a internet ainda é um território em constante evolução. Temo os que temem a exposição.
Segue o registro da minha saída da cena da apresentação à qual dei o título Assim falou Saramago.
“Antes da criação do universo, Deus não fez nada. Absolutamente nada. Não consta. Um dia, não se sabe por que, decidiu criar o universo (também não se sabe para quê). Fez, segundo a bíblia, o universo em seis dias. Seis dias, só! Descansou ao sétimo. E até hoje. Nunca mais fez nada. Isto faz algum sentido?” José Saramago
Imagem parcial de João Silva saindo da cena de Assim falou Saramago, no Teatro Barracão, em em Barão Geraldo, distrito de Campinas-SP. Foto: Arquivo pessoal
**João Silva é leitor do Viomundo
