Restrições mais rígidas dos EUA à exportação de chips avançados aceleram testes de alternativas domésticas; Grupos de tecnologia chineses se preparam para um futuro de IA sem Nvidia


As maiores empresas de tecnologia da China iniciaram um processo complexo e demorado: migrar o desenvolvimento de inteligência artificial para chips fabricados localmente. O movimento surge em meio a estoques cada vez mais escassos de processadores da Nvidia e ao endurecimento das sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos. Segundo executivos do setor, gigantes como Alibaba, Tencent e Baidu já começaram a testar semicondutores alternativos para atender à crescente demanda interna e de clientes por soluções de IA.

A medida foi acelerada após a administração do ex-presidente Donald Trump intensificar, no mês passado, as restrições à venda do chip preferido dessas empresas: o H20 da Nvidia, uma versão menos potente desenvolvida para cumprir as regras impostas durante o governo de Joe Biden.

Estoques Limitados e Busca por Alternativas

Fontes próximas ao assunto revelam que os estoques existentes de chips da Nvidia devem sustentar o desenvolvimento de IA apenas até o início do próximo ano. Como novos pedidos levam de três a seis meses para serem entregues, e não há garantias de que a Nvidia consiga lançar um processador competitivo e compatível com as novas regras de exportação, as empresas chinesas estão correndo contra o tempo.

Shen Dou, líder do grupo de IA em nuvem da Baidu, afirmou recentemente que a empresa tem diversas opções de chips — especialmente para processamento de inferência (etapa crucial na resolução de problemas com IA) — que podem substituir os da Nvidia.

“Acreditamos que, com o tempo, os chips desenvolvidos localmente, aliados a softwares cada vez mais eficientes, formarão uma base sólida para a inovação no ecossistema de IA da China”, declarou Shen.

Adaptação e Estratégias das Gigantes Tech

Em comunicados recentes, executivos das principais empresas chinesas sinalizaram mudanças em suas estratégias. Eddie Wu, CEO da Alibaba, destacou que a companhia está “explorando ativamente soluções diversificadas para atender à crescente demanda dos clientes”. Já Martin Lau, presidente da Tencent, afirmou que a empresa está otimizando o uso de seus chips e avaliando alternativas.

“Temos estoque suficiente de chips de alta performance para treinar nossos modelos por algumas gerações”, disse Lau, acrescentando que a Tencent pode “utilizar outros processadores” para suprir a demanda por inferência, que vem crescendo com a popularização da IA no país.

Huawei Surge como Alternativa, mas Enfreta Desafios

Um think-tank ligado ao Ministério da Segurança do Estado chinês destacou que, embora as sanções dos EUA sejam prejudiciais, elas “estimularam uma onda de inovação independente em chips de IA de alto desempenho, com a série Ascend da Huawei como principal exemplo”. De fato, entidades chinesas já começaram a adotar em larga escala os chips da Huawei, segundo o China Institutes of Contemporary International Relations.

Inicialmente, os maiores compradores eram empresas estatais, como a China Mobile, e setores sensíveis, como defesa, saúde e finanças. Agora, espera-se que um leque mais amplo de companhias de tecnologia passem a disputar os chips da Huawei. No entanto, muitas evitam comentar publicamente os testes com os processadores Ascend após os EUA alertarem que o uso deles “em qualquer lugar do mundo” pode levar a penalidades criminais.

Nvidia em Busca de uma Solução, mas com Limitações

Analistas da GF Securities estimam que a Nvidia possa começar a produzir em julho um novo chip compatível com as regras de exportação dos EUA. No entanto, o processador, baseado na arquitetura Blackwell, não terá memória de alta largura de banda (HBM), componente essencial para processar grandes volumes de dados com agilidade. Detalhes cruciais, como a presença da tecnologia NVLink (usada para conexão rápida entre chips), ainda são incertos.

Em uma conferência recente, Jensen Huang, CEO da Nvidia, admitiu que a empresa ainda não tem uma solução definitiva para o mercado chinês: “No momento, não temos nada”, declarou.

Custos e Desafios da Migração

A transição para chips locais não é simples. Adaptar códigos de treinamento desenvolvidos para a plataforma CUDA (da Nvidia) para o framework CANN (da Huawei) é um processo demorado e exige suporte intensivo de engenheiros para ajustes e otimizações. Um executivo de uma grande empresa de tecnologia estimou que a migração causaria cerca de três meses de atraso no desenvolvimento de IA.

A maioria das empresas está considerando uma abordagem híbrida: continuar usando chips da Nvidia para treinamento de modelos enquanto adotam processadores locais para inferência, cuja demanda disparou com a expansão da IA na China.

A Huawei tenta aumentar a produção por meio de parceiros e até mesmo com uma nova fábrica, mas a oferta ainda não acompanha a procura. Enquanto isso, outras fabricantes chinesas, como Cambricon e Hygon, também estão sendo testadas pelas gigantes de tecnologia. Baidu e Alibaba, por sua vez, desenvolvem seus próprios processadores para reduzir a dependência externa.

Conclusão: Uma Corrida Tecnológica com Impactos Globais

A disputa por soberania tecnológica está redefinindo o mercado global de semicondutores. Enquanto a China acelera a busca por alternativas, as empresas ocidentais monitoram os desdobramentos de uma guerra comercial que pode moldar o futuro da inteligência artificial.

Com informações de Financial Times*

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Last Update: 30/05/2025