Veio a público um depoimento um tanto esclarecedor de Robert Ford, antigo embaixador dos Estados Unidos no Iraque. Nele, Ford afirma que foi convidado por uma ONG britânica para transformar Al-Jolani, ex-comandante da Al-Qaeda e atual presidente da Síria, num político convencional, ou seja, numa figura palatável para a opinião pública dentro dos países imperialistas. Ele diz:

“[…] esse cara, que agora é o presidente da Síria – esse aí na foto, à esquerda, disfarçado de Al-Qaeda – era um alto comandante da Al-Qaeda no norte do Iraque, na cidade de Mosul. Para os americanos que estiveram no Iraque, vocês devem lembrar que Mosul era um dos lugares mais perigosos e brutais. O Departamento de Estado chegou a perder cinco agentes diplomáticos em dois atentados a carro-bomba em Mosul durante esse período. E centenas de soldados americanos foram mortos ou feridos na região de Mosul por esse cara e seus combatentes.”

Está confirmado por um burocrata ligado ao imperialismo que a “Guerra ao Terror” é uma fraude, que só fez assassinar milhões de pessoas na Ásia Ocidental e destruir os estados ali existentes com o intuito de facilitar a atuação rapineira do capital internacional. A citação é particularmente chocante para o público norte-americano, que, envenenado por décadas com a propaganda “anti-terrorista”, agora vê o imperialismo se aproximar sem o menor pudor de um antigo cortador de cabeças. Ford continua:

“A partir de 2023, uma organização não governamental britânica especializada em resolução de conflitos me convidou para ajudá-los a tirar esse cara do mundo terrorista e trazê-lo para a política convencional. E, no início, tenho que admitir, fiquei bem receoso. Cheguei a imaginar eu de macacão laranja com uma faca no pescoço. Mas depois de conversar com várias pessoas que já haviam ido – e uma delas até o conheceu – decidi arriscar.

Na primeira vez que o encontrei, esse cara – cujo nome de guerra era Abdelkader Jolani, mas seu nome verdadeiro é Ahmed Shara (o que ele só revelou ao mundo depois de capturar Damasco no blitzkrieg de dezembro de 2024, cerca de cinco meses atrás) – eu me sentei ao lado dele, literalmente tão perto quanto estou de Roy agora, e disse (tudo em árabe): ‘Nem em um milhão de anos eu imaginaria que estaria sentado ao seu lado, de barba longa, em uniforme militar.’ Ele olhou para mim e disse: ‘Pois é, nem eu.’”

Em reportagem publicada pelo jornal Independent Arabia, afirma-se que a tal ONG britânica é a Inter Mediate, fundada em 2011 por Jonathan Powell, antigo chefe de gabinete do governo Tony Blair e atualmente assessor de segurança nacional do governo Keir Starmer, ou seja, um homem de profunda confiança do imperialismo. No sítio da Inter Mediate consta que ela é responsável por mediar conflitos “complexos e perigosos” e que contribui para negociações com um “time pequeno e flexível”. Ou seja, trata-se de uma fachada da inteligência britânica.

É de se perguntar o que a esquerda dita revolucionária tem na cabeça para defender, sem pudor algum, a destruição da Síria baatista dos Assad, para que em seu lugar venha o governo do “jihadismo revolucionário interseccional” diretamente ligado ao imperialismo. Especialmente porque quando a revolução afegã expulsou os norte-americanos do país asiático libertando-o, o episódio foi encarado pelos mesmos grupos como a maior desgraça dos últimos tempos.

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Last Update: 30/05/2025