O grau de burocratização do Congresso da UNE tomou um salto de qualidade. No final de maio, mais de um mês e meio antes do congresso, e sem que as eleições para a tiragem de delegados tenham ocorrido na maioria absoluta das universidades, já se tem definido o mapa de delegados dos principais estados do país. Como é possível, antes mesmo que ocorram os processos eleitorais, ter este mapa que indique quantos delegados cada força da UNE terá no Congresso? Com base no fato de que, o que prima na construção deste congresso da UNE, são os acordos, chapas únicas, impugnações e fraudes.

A majoritária prepara um congresso da UNE formal, de acordos e negociatas

O Congresso foi preparado, a partir do regimento que define suas regras, para que os estudantes não possam decidir nada – nem mesmo quem vai os representar. O regimento concedeu poderes absolutos para as comissões de três DCE’s, de forma que são elas quem definem tudo em relação à tiragem de delegados: os critérios necessários para a inscrição de chapas, o período de campanha e as datas de eleições. Essa regra se tornou uma arma nas mãos da majoritária (UJS e JPL (PCdoB) /PT/PDT/PSB): nos DCEs que dirigem. Impuseram critérios absurdos para a inscrição de chapas, com números gigantes de atestado de matrícula necessários ou presença nos campis. Isso quando os editais eram divulgados, muitas vezes sendo escondidos até a data em que se encerravam as inscrições de chapa, ou quando já estava se dando o processo de eleição. Dessa forma, se tornou impossível para estudantes independentes ou coletivos menores participarem dos processos. Além disso, a majoritária impugnou chapas da oposição mesmo quando se cumpriam todos os critérios para a inscrição, sendo notório o caso das grandes privadas de São Paulo. Ou seja, as fraudes não acontecem somente no momento de votação durante o Conune, e é na verdade o método que marca a construção do Congresso de conjunto.

Esses métodos não ocorrem à toa. Estão a serviço de manter a majoritária, e as cadeiras da executiva e diretoria da UNE dos diferentes grupos políticos que a compõem, para que a UNE siga sendo uma correia de transmissão do governo. A prática do vale-tudo da majoritária, portanto, serve como meio para uma política a serviço do projeto capitalista do governo Lula. Nesse sentido, achamos gravíssimo que a Juventude Sem Medo, que já vinha caminhando para colocar os dois pés no campo governista, esteja legitimando estas práticas, mesmo as realizadas nas universidades onde atuam.

Como lutar por democracia na UNE? O papel da Oposição de Esquerda

Temos sido parte da luta por democracia na UNE, tendo atendido ao chamado da carta dos DCE’s por democracia na entidade e também tendo sido parte da batalha por uma proposta de regimento alternativo durante o CONEG (Conselho Nacional de Entidades de Base da UNE) – defendendo o voto secreto e direto durante o Congresso. Essas batalhas foram encabeçadas pela Oposição de Esquerda, e é notório o fato de que os camaradas do Correnteza estão hoje à frente dos principais DCE’s das universidades públicas do país. Frente aos golpes da majoritária, no entanto, entendemos que a resposta que buscou dar a Correnteza não colabora na batalha pela democracia na UNE: buscaram também boicotar, onde são DCE, a participação da majoritária.

Acreditamos que um passo fundamental pela luta por democracia na UNE, e que deve ser dado agora, é a realização de eleições onde todas as forças e concepções políticas possam se expressar. Para nós, burocratismo não se combate com mais burocratismo. É justamente a partir do debate político que se demonstra que há dois campos fundamentais no movimento estudantil, o do governismo/imobilismo (majoritária) e o de independência/luta (Oposição de Esquerda), que podemos fortalecer a auto-organização dos estudantes em cada universidade. Nesse sentido, batalhamos pela unificação da Oposição de Esquerda enquanto campo político na UNE, que é quem pode encampar de forma consequente a luta por democracia.

Estamos contra a realização de tiragens de delegados sem processos eleitorais, acordos onde simplesmente se dividem os delegados totais da instituição de ensino. Esse método dos acordos impede que sejam os estudantes que escolham seus representantes, que sejam sujeitos do debate e da construção do congresso da UNE. É por meio das campanhas e votos em urnas, e não dos acordos pelo alto entre as direções, que vamos ter um processo democrático e legitimado pelos estudantes. Nesse sentido, a proposta de que, na UNESP e UNIFESP em São Paulo, e muitos outros casos pelo país, onde busca-se substituir as eleições do Conune por acordos entre o conjunto das forças, tem nosso repúdio.

Chamamos o conjunto das forças da Oposição de Esquerda (Correnteza, Juntos, UJC, Vamos à Luta, Ecoar) a refletirem sobre este debate e tomarem uma posição contundente em defesa da democracia de base. Vemos a necessidade de que seja realizada uma campanha nacional e unificada do conjunto da oposição de esquerda, agora e durante o Conune, por uma UNE verdadeiramente democrática – que passa por denunciar as práticas da majoritária e apresentar um outro projeto onde sejam os estudantes que decidam tudo.

Lutar por democracia na UNE é defender que a base dos estudantes decida seus representantes nas eleições do Conune!

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Last Update: 29/05/2025